subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Para Lévinas, o outro se manifesta no rosto – que não aparece, porque não é<br />
fenômeno, mas sim epifania – e isso acontece de duas formas. Primeiramente, t<strong>em</strong>-se o rosto<br />
de um juiz de direito, que ensina de maneira ética e impede o homicídio – a Ricoeur, porém, a<br />
mera injunção do outro romperia a relação de troca do dar e do receber e a própria instrução, o<br />
que reclama o recurso da bondade 251 . O lado oposto ao do juiz na solicitude é a do outro como<br />
sofredor, isto é, aquele que se sente limitado <strong>em</strong> seu poder-fazer. Agora não é a instrução que<br />
opera a injunção, mas o sofrimento, diante do qual o si dá sua simpatia e compaixão e “o<br />
outro parece reduzido à condição de somente receber”. Essa é a prova maior da solicitude,<br />
como Aristóteles mesmo afirmara. Comparando-se os posicionamentos de Aristóteles e de<br />
Lévinas, t<strong>em</strong>-se que,<br />
enquanto na amizade a igualdade é pressuposta, no caso da injunção vinda<br />
do outro ela é restabelecida pelo reconhecimento pelo si da superioridade da<br />
autoridade do outro; e, no caso da simpatia que vai do si ao outro, a<br />
igualdade só é restabelecida pela confissão partilhada da fragilidade e<br />
finalmente da mortalidade 252 .<br />
Em relação à estima de si, pois, a solicitude acrescenta a estima da ausência, e fá-<br />
lo necessitado de amigos. Nesse confronto, “[...] o si se apercebe ele próprio como um outro<br />
entre os outros”.<br />
[...] Não posso me estimar eu mesmo s<strong>em</strong> estimar outr<strong>em</strong> como eu mesmo.<br />
Como eu mesmo significa: também tu és capaz de dar início a alguma coisa<br />
no mundo, [...] de estimar a ti mesmo como eu estimo eu mesmo. A<br />
equivalência entre o “também tu” e o “como eu mesmo” repousa sobre uma<br />
confiança que pode ser obtida por uma extensão da atestação, graças à qual<br />
eu creio que posso e valho. [...] Tornamos, assim, fundamentalmente<br />
equivalentes a estima do outro como um si mesmo e a estima de si-mesmo<br />
como um outro 253 .<br />
lugar origináriono pensamento de Lévinas, o que necessariamente leva a concluir que a relação com a alteridade<br />
também não é a primeira orig<strong>em</strong> da ética”. COSTA, Lévinas, p.215.<br />
251 “A bondade é, ao mesmo t<strong>em</strong>po, a qualidade ética dos fins da ação e a orientação da pessoa para outr<strong>em</strong>,<br />
como se uma ação não pudesse ser considerada boa se não fosse feita a favor de outr<strong>em</strong> <strong>em</strong> consideração por<br />
ele”. RICOEUR, O si-mesmo como um outro, p.222.<br />
252 Id., p.225.<br />
253 Id., Sé come un altro, p.290s (O si-mesmo como um outro, p.226s), grifo do autor.<br />
85