subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
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o sentido não aludiria ao significado do mito, mas sim a uma cadeia lógica de relações a ser<br />
captada pela análise estrutural 186 .<br />
Para Ricoeur, todavia, deve-se fazer um caminho da explicação à compreensão: a<br />
análise estrutural não é capaz de suprimir a busca pelo sentido do mito; antes, tal análise<br />
pressuporia a hipótese desse sentido, já que conduziria a uma “s<strong>em</strong>ântica de profundidade, a<br />
das situações-limites que constitu<strong>em</strong> o ‘referente’ último do mito”, de forma que escaparia de<br />
incorrer num “jogo estéril” para se voltar à tomada de consciência das “aporias da existência”.<br />
Destarte, o texto faz uma “referência não ostensiva” ao apresentar um “tipo de mundo” – não<br />
subjacente a si, mas diante de si – a ser descoberto pela s<strong>em</strong>ântica de profundidade. É<br />
justamente nessa operação que Ricoeur percebe o lugar-comum que situa “a explicação e a<br />
compreensão <strong>em</strong> dois estádios diferentes de um arco hermenêutico único”, permitindo que se<br />
parta da interpretação ingênua e superficial à crítica e profunda<br />
2.4.3.2 – Da conjectura à validação<br />
O texto fala de um mundo possível e de um modo possível de alguém nele se<br />
orientar. As dimensões deste mundo são propriamente abertas e<br />
descortinadas pelo texto. O discurso é, para a linguag<strong>em</strong> escrita, o<br />
equivalente da referência ostensiva para a linguag<strong>em</strong> falada. Vai além da<br />
mera função de apontar e mostrar o que já existe e, neste sentido, transcende<br />
a função da referência ostensiva, ligada à linguag<strong>em</strong> falada. Aqui, mostrar é<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po criar um novo modo de ser 187 .<br />
Ricoeur assevera que o primeiro ato de compreensão deve ser a conjectura, a qual<br />
t<strong>em</strong> sua razão de ser no fato de o sentido verbal de um texto não coincidir com o sentido<br />
mental. O texto é mudo nessa situação, porque a intenção do autor extrapola o alcance do<br />
leitor e qu<strong>em</strong> fala é o leitor a partir das instruções escritas – como um músico que elabora o<br />
som a partir das notas da partitura – gerando-se um novo acontecimento. Assim, torna-se<br />
inexeqüível o ideal romântico da congenialidade – uma comunhão de “gênios”, pela qual<br />
poder-se-ia compreender um autor melhor do que esse a si mesmo se compreende. No texto, o<br />
186 Cf. RICOEUR, Teoria da interpretação, p.91-98.<br />
187 Id., p.88s<br />
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