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subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET

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esboços de compreensão adequados à realidade, deixando que as próprias coisas “falass<strong>em</strong>”,<br />

ou seja, expressass<strong>em</strong> sua alteridade. Concebida como a “arte de interpretar”, a hermenêutica<br />

implicaria num processo de uma elaboração sucessiva de projetos de sentido 59 .<br />

Preocupado com uma compreensão voltada à objetividade das ciências do espírito,<br />

Gadamer elaborou o conceito de consciência da “história efetual” (Wirkungsgeschichte) – ou<br />

“história dos efeitos”, termo cunhado no século XIX para designar o estudo das interpretações<br />

produzidas por uma época. Disso foi feito um princípio para toda a hermenêutica<br />

gadameriana, devido à exigência de conscientização da própria situação hermenêutica a fim<br />

de controlá-la. Se é grande a s<strong>em</strong>elhança com Heidegger nesse ponto, a distinção é que, para<br />

Gadamer, a história efetual não está <strong>em</strong> poder do hom<strong>em</strong>: esse é submetido a ela mais do que<br />

t<strong>em</strong> consciência. Por isso a função basilar da história efetual <strong>em</strong> relação a toda<br />

compreensão 60 .<br />

Ao considerar desta forma o condicionamento histórico-efetual, Gadamer foi de<br />

encontro ao historicismo, o qual postulava poder escapar de tal condicionamento através da<br />

distância histórica. Por isso o autor afirmava que “os preconceitos de cada um, muito mais do<br />

que os juízos, são a realidade histórica de seu ser”. Sendo a consciência efetuada pela<br />

História, dever-se-ia, pois, esclarecer a própria historicidade, s<strong>em</strong> perder de vista os limites de<br />

tal esclarecimento. Longe de se incorrer no tradicionalismo – como afirmaram alguns de seus<br />

críticos – Gadamer propunha que, pela hermenêutica, se descobriss<strong>em</strong> novos caminhos a<br />

partir dos preconceitos e da tradição 61 .<br />

Com Gadamer, da mesma forma que com Heidegger, a aplicação não seria algo<br />

secundário à compreensão, de modo que ambas coincidiriam, porque qu<strong>em</strong> se compreende se<br />

transporta para a compreensão, num ato de “introduzir-se num acontecimento da tradição”.<br />

Não se poderia, pois, excluir o sujeito interpretante – como pensava o historicismo – mas<br />

entender-se-ia um texto escutando nele a resposta para os probl<strong>em</strong>as da época <strong>em</strong> que é lido,<br />

de forma que um texto somente “fala” se o intérprete tiver questões. Destarte, é aí que a<br />

consciência histórico-efetual foi inserida na dialética da pergunta e da resposta, fazendo da<br />

compreensão uma relação de conversação: só há compreensão porque há conversação, ou<br />

59<br />

REALE e ANTISERI, op. cit., p.691s; SACADURA, op. cit., p.777; GRONDIN, op. cit., p.186-189.<br />

60<br />

Cf. Id., p.189-191.<br />

61<br />

Cf. Id., p.191s; MORA, op. cit., vol.2, p.1166.<br />

29

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