subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
subjetividade em paul ricoeur.pdf - FILOSOFIANET
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Para esclarecer essa noção, Ricoeur recorre a Heidegger, cuja obra Ser e t<strong>em</strong>po<br />
inspirou a hermenêutica da ipseidade. Nela, por ex<strong>em</strong>plo, Ricoeur encontra apoio para afirmar<br />
que mesmidade e ipseidade são dois modos de ser – não apenas duas significações distintas –<br />
porquanto se fundam respectivamente no Dasein e na Vorhandenheit (ser-simplesmentedado)<br />
322 . Quanto à reinterpretação do par energéia-dynamis, porém, a noção de facticidade<br />
parece insuficiente, o que leva Ricoeur a buscar <strong>em</strong> Spinoza uma reapropriação adequada da<br />
ontologia aristotélica, advinda com a noção de conatus: o poder ou esforço de cada coisa para<br />
perseverar no seu ser – potência essa que não está fora da essência atual da coisa. Esse<br />
dinamismo interno de cada coisa, sobretudo do hom<strong>em</strong>, é o que mais se destaca ao olhar de<br />
Ricoeur 323 .<br />
3.3.3 – A poliss<strong>em</strong>ia do Outro<br />
106<br />
Se Heidegger soube conjugar o si e o ser-no-mundo, Spinoza – de<br />
proveniência, é verdade mais que grega – é o único a ter sabido articular o<br />
conatus sobre esse fundo de ser ao mesmo t<strong>em</strong>po efetivo e poderoso que ele<br />
chama essentia actuosa 324 .<br />
Quanto à dialética dominante e que se expressa no título da obra <strong>ricoeur</strong>iana –<br />
ipseidade e alteridade – Ricoeur desenvolve uma extensa abordag<strong>em</strong> da poliss<strong>em</strong>ia da<br />
alteridade, cuja vantag<strong>em</strong> é impedir que o si ocupe um lugar de fundamento. Ricoeur lança<br />
mão do discurso fenomenológico e ontológico para acessar a referida metacategoria pelas<br />
experiências da passividade que formam um tripé: passividade da carne, passividade da<br />
relação do si com o diverso de si e passividade do si <strong>em</strong> relação a si mesmo, que é a<br />
consciência 325 .<br />
322 Corrobora isso, ainda, as duas distinções heideggerianas de permanência no t<strong>em</strong>po: uma próxima à<br />
substancial (no sentido kantiano) e a manutenção de si (Selbständigkeit), às quais correspond<strong>em</strong> a permanência<br />
do caráter e a constância moral da promessa. Cf. Id., O si-mesmo como um outro, p.361s.<br />
323 Cf. Id., p.260-270.<br />
324 Id., p.370, grifo do autor.<br />
325 Cf. Id., p.371s.