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Cultura Material e Patrimônio da Ciência e Tecnologia - Museu de ...

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<strong>Cultura</strong> <strong>Material</strong> e Patrimônio <strong>de</strong> C&Tconstante e crescente <strong>de</strong>pre<strong>da</strong>ção que vem sofrendo o prédio <strong>da</strong> fábrica. Mas há outrosentido que po<strong>de</strong> ser atribuído ao termo “ruínas”, o do irrefreável <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> umaempresa que é na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> representado como o malogro <strong>de</strong> um projeto, a falência nopresente <strong>de</strong> um sonho do passado.O prédio <strong>da</strong> antiga Fábrica Rheingantz e seu entorno formam um corpo memoriala medi<strong>da</strong> que ativam, através <strong>da</strong> visuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, dos inúmeros signos visuais ali dispostos,um cenário cujo mo<strong>de</strong>lo original se encontraria no passado.Essa idéia <strong>de</strong> um local <strong>de</strong>trabalho sobrevivendo através <strong>de</strong> escombros aparece nas narrativas como uma metáforado empobrecimento gra<strong>da</strong>tivo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> que veio em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> retração <strong>da</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> industrial.Transpondo os portões principais se tem acesso a portaria, atualmente <strong>de</strong>sativa<strong>da</strong>como, aliás, todo o complexo, e que era o lugar por on<strong>de</strong> todos os funcionários <strong>de</strong>veriampassar e no qual eram feitos os primeiros procedimentos <strong>de</strong> controle <strong>da</strong> freqüência eassidui<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essa portaria do começo dos anos 2000 não tinha mais nenhuma função <strong>de</strong>controle, porém continuava sendo investi<strong>da</strong> <strong>de</strong> significado pois era como um últimoreduto, a última resistência a ser transposta por alguns ex-funcionários aposentados queain<strong>da</strong> persistiam em freqüentar diariamente a fábrica. Dentro <strong>da</strong> cabine envidraça<strong>da</strong>estavam ain<strong>da</strong> alguns objetos que no passado eram fun<strong>da</strong>mentais como o quadro <strong>de</strong>chaves <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as seções <strong>da</strong> empresa. Na portaria ficou, até o fechamento total <strong>da</strong>firma, um funcionário aposentado, do “tempo dos Rheingantz”(expressão utiliza<strong>da</strong> pelosentrevistados para falar <strong>de</strong>ssa outra temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>, do tempo do trabalho e <strong>da</strong> juventu<strong>de</strong>,contrastado com o tempo do presente e <strong>da</strong> memória), que diariamente, durante muitosanos, cumpria um ritual <strong>de</strong> reinvenção do tempo: to<strong>da</strong>s as semanas, <strong>de</strong> segun<strong>da</strong> a sextafeiraencarregava-se <strong>de</strong> abrir os portões <strong>da</strong> fábrica nos horários que durante muitasdéca<strong>da</strong>s foram aqueles que ritmaram o trabalho, abrir às 7h15min, fechar às 11h30min,reabrir às 13h30min e encerrar às 17h30min. Sr. Hilso, esse ex-funcionário <strong>da</strong>Companhia União Fabril foi um dos exemplos <strong>de</strong> pessoas, egressas <strong>da</strong> fábrica, que ain<strong>da</strong>a freqüentavam e não raro algum ex-operário (e fun<strong>da</strong>mentalmente as mulheres)entravam na fábrica para conversar com quem ali estivesse, para encontrar-se comoutros, para constatar, mais uma vez, a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do retorno do passado.Representando uma guar<strong>da</strong> que não mais existia, Sr. Hilso e os outros aposentadoscontinuavam em sua ron<strong>da</strong> diária ao local que no passado abrigou o trabalho.202

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