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Cultura Material e Patrimônio da Ciência e Tecnologia - Museu de ...

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<strong>Cultura</strong> <strong>Material</strong> e Patrimônio <strong>de</strong> C&T<strong>de</strong>sse modo que ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> constrói a sua própria temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>; ou, em outrostermos, sua concepção e categorização do tempo. Consequentemente, se o tempo nuncaé neutro ou exterior a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas apresenta-se sempre como um lugar <strong>de</strong>significação, o tempo imaginário comparece, então, como aquele que, além <strong>de</strong> sersignificativo, estabelece-se fun<strong>da</strong>mentalmente como o tempo <strong>da</strong> significação.A relação tempo e espaço é ain<strong>da</strong> um outro aspecto a consi<strong>de</strong>rar.Esquematicamente, po<strong>de</strong>-se dizer que, diferentemente do espaço (o lugar <strong>da</strong>s coisas),que po<strong>de</strong> ser concebido como uma multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> simultânea e, portanto, como diferença,o tempo (dimensão do movimento e <strong>da</strong> duração) apresenta-se como uma multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong>sucessiva e, por conseguinte, como alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>. Então, se o tempo é, por excelência, aemergência <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>, ele se consubstancia como criação e <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> formas. É aisso que Castoriadis (1992) chama <strong>de</strong> emergência radical do novo.Em relação ao tempo (do) imaginário e (do) simbólico, não <strong>de</strong>ve ser negligenciadoo papel <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma vez que a memória e o afeto apresentam-se na condição<strong>de</strong> co-partícipes <strong>da</strong> experiência vivencial <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>, especialmente na forma <strong>de</strong>recor<strong>da</strong>ção atualiza<strong>da</strong> e, enquanto tal, são dois dos fatores que constroem as tradições(VESCHI,1996; HOBSBAWN; RANGER, 2002). Nesse sentido, o eu que sou resulta domeu passado. Ou, em termos onto-temporais, o sujeito ou o ser É seu passado, pois éem seu passado que se encontra a matriz <strong>de</strong> sua investidura em sujeito, conformeassevera Sartre (2001). Desse modo, ao comparar essa <strong>de</strong>finição do ser pelatemporali<strong>da</strong><strong>de</strong> com a situação dos guarani, percebo que ela ilumina a questão do tempoinstituinte mbyá, visto que, em sua auto-representação, eles são o seu passado; eles sãoa recor<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s palavras e <strong>da</strong> bela mora<strong>da</strong> <strong>de</strong> Nhamandu 4 , como aponta o excertoabaixo <strong>de</strong> cantos cerimoniais guarani: “assim, farei correr o fluxo <strong>da</strong>s Belas Palavras/paravocê, que se lembrará <strong>de</strong> mim”; “Eis porque você, que vai morar sobre a terra,/tenhalembrança <strong>da</strong> minha bela mora<strong>da</strong>” (CLASTRES, 1990, p. 113).De acordo com os relatos míticos mbyá (cf. CADOGAN, 1992, CLASTRES 1978e CLASTRES, 1990), Nhamandu participa <strong>da</strong> arché, pois ele se encontra na origem domovimento e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. No antes do tempo (pytũ yma ou “noite primigênia”, yvytu yma, ou“vento primigênio”) não há movimento, existe apenas uma massa indistinta e igual a simesma. É a manifestação corpórea <strong>de</strong> Nhamandu que, se <strong>de</strong> um lado, provoca a ruptura<strong>de</strong>sse estado <strong>de</strong> inércia e, por conseguinte, a emergência do novo; <strong>de</strong> outro, instala-se4 Nome <strong>da</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong> originária Guarani Mbyá que, a partir <strong>de</strong> seu próprio corpo e <strong>de</strong> seu movimento constante<strong>de</strong> expansão, <strong>de</strong>u existência e forma ao universo tal qual esses índios o concebem366

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