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Cultura Material e Patrimônio da Ciência e Tecnologia - Museu de ...

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<strong>Cultura</strong> <strong>Material</strong> e Patrimônio <strong>de</strong> C&Tacúmulo <strong>de</strong> conchas, criaram uma interferência no ambiente que neutralizou a aci<strong>de</strong>ztípica do solo brasileiro e há indícios <strong>de</strong> que eles controlavam os processos após a morte.Covas eram revisita<strong>da</strong>s, ossos eram manipulados, retirados <strong>de</strong> outros locais para integrarum novo ritual funerário, e eram também marcados e pintados. Esse mesmo cui<strong>da</strong>do comos corpos levou à construção <strong>de</strong> cercas no entorno <strong>da</strong>s covas, sendo a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> e aespessura <strong>da</strong>s estacas um impedimento à ação <strong>de</strong> animais carniceiros, resultando napreservação <strong>de</strong> esqueletos em posição anatômica (GASPAR, 2004). Segundo Fish ecolaboradores (2000), a repetição do ritual funerário acabou por criar um elementoobstrutivo <strong>da</strong> paisagem que, em virtu<strong>de</strong> do seu tamanho e configuração, perpetua amensagem que os seus construtores queriam transmitir. Os sucessivos eventos,diretamente relacionados com o processo <strong>de</strong> crescimento do sítio, informam para osfreqüentadores <strong>da</strong> costa brasileira que aquele é o domínio dos sambaquieiros e que láestavam os corpos dos pescadores-coletores. Dessa forma, e no momento, consi<strong>de</strong>ra-seque o sambaqui é o resultado <strong>de</strong> um intenso trabalho social que resultou na construção<strong>de</strong> uma paisagem domestica<strong>da</strong>, marca<strong>da</strong> por referências sentimentais.Assim, a maneira ou as maneiras como o sambaqui foi percebido ao longo <strong>da</strong>história <strong>da</strong> arqueologia brasileira norteou as interpretações e as técnicas <strong>de</strong> pesquisaaplica<strong>da</strong>s e, por último, construiu uma interpretação não só sobre o sítio, mas tambémsobre o modo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos sambaquieiros.Vamos aos cachimbos. Objetos que <strong>de</strong>notam o gosto e o hábito dos africanos eseus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fumar. Artefatos <strong>de</strong> cerâmica, geralmente <strong>de</strong> coloração marromescuro com farta <strong>de</strong>coração. Frágeis e <strong>de</strong> produção local, portanto <strong>de</strong> fácil reposição.Cachimbos são tomados aqui como um indicador <strong>de</strong> espaços ocupados por escravos equilombolas, muito embora o seu uso tenha se difundido para além dos grupos africanostransplantados para cá. Na literatura sobre os escravos já era conheci<strong>da</strong> a existência <strong>de</strong>espaços <strong>de</strong> quilombolas no Recôncavo <strong>da</strong> Baía <strong>de</strong> Guanabara. Gomes (1995, p.25),retomando uma figura <strong>da</strong> mitologia usa<strong>da</strong> pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, refere-se a “hidra norecôncavo <strong>da</strong> Guanabara” cujas “cabeças” <strong>de</strong>ssa terrível criatura eram as diversascomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> fugitivos que surgiram pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1800 e estiveram ativas até ofinal do século e atormentavam moradores e autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s policiais. Dessa maneira, sabesesobre a existência <strong>de</strong> locais ocupados por africanos que conseguiram se <strong>de</strong>svencilhardos senhores <strong>de</strong> escravos certamente existiram. Cabe ressaltar que não se imagina umquilombo como o dos Palmares, pois é pouco provável a existência <strong>de</strong> um assentamento<strong>de</strong>ssa natureza tão próximo do centro político do Brasil.45

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