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Cultura Material e Patrimônio da Ciência e Tecnologia - Museu de ...

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<strong>Cultura</strong> <strong>Material</strong> e Patrimônio <strong>de</strong> C&Tágua canaliza<strong>da</strong> 13 . O episódio ressaltado como <strong>de</strong>cisivo é o <strong>da</strong> interdição pelo piquete alipresente <strong>de</strong> que o patrão Arthur Lundgren pu<strong>de</strong>sse entrar em uma <strong>da</strong>s fábricas paratomar seu banho matinal numa casa <strong>de</strong> banhos próximo à leva<strong>da</strong>. Este inci<strong>de</strong>nte teriaprovocado a saí<strong>da</strong> <strong>de</strong>finitiva do Comen<strong>da</strong>dor Arthur <strong>de</strong> sua residência na casa gran<strong>de</strong> esua i<strong>da</strong> para Recife sem voltar à fábrica até seu falecimento em 1967.O sentimento coletivo do grupo operário, no entanto, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>u originalmente<strong>da</strong> JOC nem <strong>de</strong> grupos religiosos ou políticos, nem também <strong>da</strong> incidência <strong>de</strong> eventosconflitivos que alimentavam a transmissão oral <strong>da</strong> tragi-comici<strong>da</strong><strong>de</strong> dos acontecimentos:sua origem remonta mais geralmente a uma sociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a uma história que foramelabora<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> experiência <strong>da</strong>s relações <strong>de</strong> dominação específicas estabeleci<strong>da</strong>sem Paulista e que escaparam parcialmente ao controle <strong>da</strong> companhia que era, nãoobstante, onipresente. Esse sentimento construiu-se por sobre uma memória coletivaconstituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> experiências compartilha<strong>da</strong>s 14 .Mas é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, também, que esses sentimentos compartilhados só pu<strong>de</strong>ram seconstituir em memória coletiva <strong>de</strong>vido à permanência, através <strong>da</strong>s gerações, do grupoque foi o suporte <strong>da</strong> acumulação direta <strong>da</strong> história incorpora<strong>da</strong> em ca<strong>da</strong> um dos seusmembros. Em outras vilas operárias, como as <strong>da</strong>s usinas açucareiras em que apenas oshomens trabalhavam e a contratação dos filhos era ca<strong>da</strong> vez mais difícil, a permanênciano tempo e a estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> no espaço <strong>da</strong>s famílias tornaram-se praticamente impossíveis(LEITE LOPES, 1976). Pelo contrário, uma parte não <strong>de</strong>sprezível do grupo operário <strong>de</strong>Paulista conseguiu permanecer no local a <strong>de</strong>speito <strong>da</strong>s <strong>de</strong>missões, e isso graças à<strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> parentesco <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s a partir do recrutamento familiardireto, à relevância do trabalho <strong>da</strong>s mulheres na fábrica, graças às possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>reconversão dos antigos operários ao pequeno comércio, como a feira local <strong>de</strong> produtosalimentícios. É esta memória, ameaça<strong>da</strong> após as transformações <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> nos últimosvinte e cinco anos, que setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil local procuram avivar em meados dosanos 2000.13 A água encana<strong>da</strong> e a eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> beneficiavam somente a casa gran<strong>de</strong> a as casas <strong>de</strong> chefes e técnicos(frequentemente estrangeiros no passado); as casas dos trabalhadores nos arruados <strong>da</strong> vila operária eramalimenta<strong>da</strong>s por água carrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> chafarizes localizados em algumas ruas ou diretamente <strong>de</strong> riachospróximos (on<strong>de</strong> se tomava banho e se fazia lavagem <strong>de</strong> roupas) e a iluminação era supri<strong>da</strong> por umailuminação <strong>de</strong> can<strong>de</strong>eiros.14 Tais como o recrutamento familiar e os rituais <strong>de</strong> entra<strong>da</strong> no mundo <strong>da</strong> fábrica; a nostalgia <strong>da</strong> abundânciados produtos alimentícios que a CTP acumulava graças ao seu monopólio <strong>de</strong> compra; o medo <strong>da</strong> milíciapriva<strong>da</strong> <strong>da</strong> companhia constituí<strong>da</strong> <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 500 homens; a experiência <strong>da</strong>s comunicações mu<strong>da</strong>s egestuais no borburinho <strong>da</strong> fábrica que faziam parte <strong>de</strong> uma renitente cultura <strong>de</strong> fábrica; a admiração poraqueles velhos pais <strong>de</strong> família tão ligados a seus roçados a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejarem resistir à companhia que,tendo mu<strong>da</strong>do <strong>de</strong> política, agora os queria <strong>de</strong>salojar.245

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