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Cultura Material e Patrimônio da Ciência e Tecnologia - Museu de ...

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<strong>Cultura</strong> <strong>Material</strong> e Patrimônio <strong>de</strong> C&Tcomo o tempo-zero <strong>de</strong> um evento, aquele que é movimento, diferenciação e criação <strong>da</strong>vi<strong>da</strong>; mas, igualmente, criação do <strong>de</strong>vir.Na materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> linguística mbyá encontram-se inúmeras formas e maneiras <strong>de</strong><strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre essas <strong>de</strong>staca-se o emprego <strong>de</strong> marcadores oudêiticos temporais: a) indicação <strong>de</strong> futuro: arã (exemplo: ranguarã ‘época em que iráacontecer’); b) indicação <strong>de</strong> passado: ere (exemplo, ranguare ‘época em que jáaconteceu’); c) hoje: aỹ; d) ontem: kuee; e) amanhã: koẽrã (literalmente, ‘futura manhã’);f) antigo, primitivo ou originário: yma, etc. Essas indicações temporais, na língua, po<strong>de</strong>mser genéricas ou específicas, <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s ou in<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s.Os marcadores temporais também po<strong>de</strong>m ser não-verbais (ain<strong>da</strong> que expressoslinguisticamente), como os marcadores celestes (astros etc.), os marcadoresmeteorológicos, os marcadores sazonais (florescimento, plantio, nascimentos), e osmarcadores rituais (colheitas ou festas, como, por exemplo, o batizado anual) etc. Oconjunto <strong>de</strong>sses marcadores constitui uma parte significativa <strong>da</strong> materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> discursivambyá referente à temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim é que esses dêiticos funcionam como operadores<strong>de</strong> uma concepção totalizante do tempo. Discursivamente, os marcadores temporais têma função <strong>de</strong> estabelecer uma or<strong>de</strong>m ou permanência na transitorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s coisas.Como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, as diferentes experiências locais referentes àtemporali<strong>da</strong><strong>de</strong> encontram-se inscritas na língua, que é a condição material do discurso,<strong>de</strong> maneira que a existência <strong>de</strong> um discurso mbyá concernente ao tempo tem <strong>de</strong> estarmaterializa<strong>da</strong> nos fatos <strong>de</strong> linguagem. Assim sendo, um conceito essencial paracompreen<strong>de</strong>rmos a relação dos Guarani com o tempo, ou com as diversas parciali<strong>da</strong><strong>de</strong>sque compõem a sua temporali<strong>da</strong><strong>de</strong>, é oguerojera pelo qual eles <strong>de</strong>screvem ummovimento autogerado, <strong>de</strong>sdobrando-se in<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>mente.É importante salientar que tanto em oguerojera, quanto em aguyje e em kandire apresença <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> é preceptível, e é em relação ao tempo do sagrado que essesconceitos <strong>da</strong> tekologia mbyá (LITAIFF, 1996) fazem sentido e, concomitantemente,provêm os Guarani Mbyá <strong>de</strong> sentido e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>. Se isso parece claro em oguerojeraque se refere ao movimento <strong>de</strong> expansão universal responsável pela existência do tempoe do espaço guarani; em aguyje, a temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> encontra-se intrínseca, pois esse termo<strong>de</strong>signa não apenas o processo <strong>de</strong> maturação (<strong>de</strong> homens, coisas e <strong>da</strong> história), comotambém o chegar ao fim <strong>de</strong>sse processo; em kandire, salienta-se a expressão do ser edo vir-a-ser na mesma perspectiva temporal, (re)início <strong>de</strong> ciclo vital. Kandire, aguyje eoguerojera são, pois, a presença significante do passado atualizado como eixo instituinte367

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