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Cultura Material e Patrimônio da Ciência e Tecnologia - Museu de ...

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<strong>Cultura</strong> <strong>Material</strong> e Patrimônio <strong>de</strong> C&TA caracterização dos lugares <strong>da</strong> fábrica como marcados pelo sobrenaturalevocavam, <strong>de</strong> maneira direta, a idéia <strong>de</strong> lugares <strong>de</strong> morte, as várias mortes que ali seencontravam, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a morte física, <strong>da</strong>do que as falas afirmam terem sido registradosvários casos <strong>de</strong> suicídios no período <strong>da</strong> falência, passando pela morte <strong>de</strong> um projetocoletivo <strong>de</strong> futuro, <strong>da</strong> <strong>de</strong>scrença em pessoas e instituições em <strong>de</strong>corrência do sentimento<strong>de</strong> traição e <strong>de</strong>scaso que provaram quando a empresa foi vendi<strong>da</strong> pela primeira vez. Asimagens espectrais <strong>de</strong> um passado que parece ter ficado suspenso, inconcluso, queesperava por uma resolução, como na fala <strong>de</strong> Sr. Hilso quando dizia que a fábricaprecisava <strong>de</strong>scansar em paz. Consciente <strong>de</strong> que não era mais possível a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na empresa, para Sr. Hilso a solução seria a ven<strong>da</strong> para algum grupointeressado em abrir ali outro tipo <strong>de</strong> estabelecimento industrial, mas para tanto serianecessário que a empresa sanasse seus compromissos trabalhistas, reconhecendosimbolicamente a existência <strong>da</strong>queles sujeitos que, ao terem seus trabalhosinterrompidos, ficaram a espera <strong>de</strong> uma in<strong>de</strong>nização que efetivamente nunca chegou.Para a fábrica “<strong>de</strong>scansar em paz” era preciso, portanto, liberá-la <strong>de</strong> sua carga <strong>de</strong>passado, sem que isso implicasse o <strong>de</strong>saparecimento <strong>da</strong> memória.Na complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> que encerra essa relação dos sujeitos com a fábrica, a memóriaé ao mesmo tempo reinvenção constante <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>da</strong>s vivências e um elementoque aprisiona, que insiste em preencher com passado essa ausência <strong>de</strong> projetos para ofuturo. A região que antes era povoa<strong>da</strong> por levas <strong>de</strong> homens e mulheres cruzando ruaspara ir ou voltar <strong>de</strong> seus locais <strong>de</strong> trabalho, é hoje um espaço <strong>de</strong>svitalizado, restandoapenas os vestígios materiais do que foi nesse tempo anterior. O bairro em si <strong>de</strong>monstraesse empobrecimento industrial <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> pois, em nenhum outro lugar a memória estátão fortemente ancora<strong>da</strong> em lugares do trabalho, símbolos do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> RioGran<strong>de</strong> em outros tempos.A retração <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s nesses lugares trouxe um<strong>de</strong>saparecimento concreto do espaço construído, como no caso <strong>da</strong> Companhia Ítalo-Brasileira, <strong>da</strong> qual resta apenas uma chaminé perdi<strong>da</strong> no meio <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong>supermercado; um <strong>de</strong>saparecimento gra<strong>da</strong>tivo, processado numa lenta agonia <strong>de</strong>mutilações e <strong>de</strong>pre<strong>da</strong>ções, que é o quadro <strong>da</strong> Rheingantz e seu entorno; o não<strong>de</strong>saparecimento físico do prédio, mas a irreversível <strong>de</strong>sativação <strong>de</strong> sua função, como o<strong>da</strong> Estação Férrea.210

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