Os sentidos da educação social para jovens educadores ... - Uece
Os sentidos da educação social para jovens educadores ... - Uece
Os sentidos da educação social para jovens educadores ... - Uece
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
104<br />
<strong>Os</strong> relatos <strong>da</strong>s histórias de vi<strong>da</strong> dos <strong>jovens</strong> <strong>educadores</strong> sociais são dotados<br />
de <strong>sentidos</strong> construídos não só por suas singularizações, mas, sobretudo, por meio dos<br />
valores e representações sociais dominantes em relação à pobreza e a condição de<br />
vulnerabili<strong>da</strong>de <strong>social</strong> em nossa socie<strong>da</strong>de.<br />
Todos, sem exceção, se utilizaram <strong>da</strong> caracterização de seus territórios <strong>para</strong><br />
ilustrar o motivo pelo qual procuraram um projeto <strong>social</strong>, ilustrando contextos de<br />
violência, marginalização, falta de ocupação do tempo livre (denominado de<br />
ociosi<strong>da</strong>de), entre outros aspectos, conforme ilustram os depoimentos:<br />
minha rotina era ficar no meio <strong>da</strong> rua, ocioso. Eu tinha tudo pra ser mais uma<br />
estatística em todo o País: mais um negro morre vítima de bala perdi<strong>da</strong> ou<br />
<strong>da</strong>s drogas. Poderia ter seguido esse caminho, mas busquei um projeto <strong>social</strong><br />
<strong>para</strong> mu<strong>da</strong>r a minha reali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> (Educador G);<br />
era um menino de comuni<strong>da</strong>de, sem ter na<strong>da</strong> <strong>para</strong> fazer, ficava ocioso e<br />
gostava de esporte, por isso procurei um projeto <strong>social</strong> (Educador H);<br />
minha comuni<strong>da</strong>de é muito vulnerável, possui diversas problemáticas. Eu via<br />
muitos colegas de infância que estavam se perdendo no caminho <strong>da</strong>s drogas e<br />
eu decidi que eu não queria aquele mesmo caminho. Procurei um caminho<br />
oposto, <strong>para</strong> que eu me tornasse um ci<strong>da</strong>dão. Por isso resolvi me dedicar ao<br />
surfe e procurei um projeto <strong>social</strong> que existia na minha comuni<strong>da</strong>de<br />
(Educador I).<br />
<strong>Os</strong> relatos acima ilustram a afirmação de Forrester (1997, p. 57-58), é como<br />
se “destinados de antemão a esses problemas, fundidos com eles, o desastre é sem saí<strong>da</strong><br />
e sem limites”. Para eles, assim como <strong>para</strong> o pensamento dominante, “marginais por sua<br />
condição, geograficamente definidos antes mesmo de nascer, reprovados de imediato,<br />
eles são os excluídos por excelência” (FORRESTER, 1997, p. 57-58).<br />
O universo <strong>da</strong> pobreza encontra-se marcado por diversas determinações<br />
estigmatizantes e discriminatórias. Setores privilegiados <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de atribuem<br />
comportamentos e valores aos pobres que, na ver<strong>da</strong>de, não são seus, mas fazem parte de<br />
um conjunto de representações <strong>da</strong>s classes dominantes sobre eles (os pobres).<br />
Segundo Yazbek (1993, p. 75),<br />
designações tais como ina<strong>da</strong>ptados, marginais, incapazes, problematizados,<br />
dependentes, alvo de ações promocionais e outras tantas constituem<br />
expressão de relações <strong>social</strong>mente codifica<strong>da</strong>s e marca<strong>da</strong>s por estereótipos<br />
que configuram o “olhar” sobre as classes subalternas do ponto de vista de<br />
outras classes e, ao mesmo tempo, definem as posições que os subalternos<br />
podem ter na socie<strong>da</strong>de.