Drauzio Antonio Rezende Junior Impactos das ... - Ppga.com.br

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163<br />Os instrumentos de observação foram os meios de comunicação de massa,<br />especificamente jornais de prestígio. Por meio deles, obteve-se conhecimento dos<br />acontecimentos específicos que os representantes do Setor não divulgaram em seus<br />boletins de notícias. A comparação dos dados públicos foi utilizada para que fossem<br />extraídas informações consistentes para a verificação da hipótese de pesquisa. E a<br />estatística, apesar de pouco utilizada, teve sua importância conceitual. Por meio dela,<br />procurou-se analisar a influência do desempenho econômico do mundo e do Brasil<br />sobre o setor siderúrgico, para observar-se o grau de dependência da siderurgia em<br />relação ao desempenho econômico global, e testar a plausibilidade da explicação, de<br />que a queda dos preços dos produtos do Setor deve-se a queda da demanda, ocasionada<br />por um baixo crescimento econômico.<br />Visando a obtenção de subsídios para cumprir os objetivos da pesquisa, efetuouse<br />uma revisão da literatura existente. A revisão abordou o comércio internacional, o<br />Sistema Monetário Internacional, a política cambial em vigor no Brasil, no período da<br />pesquisa e a questão da competitividade e da estrutura de mercado.<br />Como trata-se dos impactos da flutuação cambial sobre a competitividade<br />exportadora do Setor Siderúrgico Brasileiro, a abordagem do comércio internacional é<br />imprescindível. De acordo com a literatura, a existência do comércio internacional é<br />fruto da divisão do trabalho em escala mundial. Sua necessidade advém do fato de que<br />os países e as empresas não encontram, no mercado interno, todos os insumos de que<br />necessitam, tornando necessária a importação. Isso é totalmente verdadeiro para a<br />siderurgia brasileira, que é obrigada a importar carvão de qualidade dos Estados Unidos,<br />Canadá e países do Leste Europeu.<br />Mas, além da necessidade, há também as vantagens. A possibilidade de<br />importação aumenta a eficiência das empresas, devido a maior competição em termos<br />de preço e qualidade, num mercado em que os concorrentes externos têm acesso,<br />comparativamente a um mercado em que eles não têm. Adicionalmente, o comércio<br />internacional expande as possibilidades de consumo e propicia ganhos de eficiência aos<br />agentes econômicos. Neste aspecto, o Setor Siderúrgico Brasileiro, não sendo<br />considerados outros fatores, pode colaborar com a eficiência de outras indústrias, para<br />as quais é fornecedora, como, por exemplo, a indústria automobilística. Esta questão<br />tem, portanto, duas facetas: a eficiência da siderurgia brasileira pode colaborar com a<br />eficiência de outros setores, ajudando-os na competição internacional, e, por outro lado,<br />com o comércio internacional, vendendo os frutos de uma produção eficientemente
164<br />realizada a empresas estrangeiras, a indústria siderúrgica brasileira pode contribuir para<br />um melhor posicionamento competitivo da indústria estrangeira contra uma similar<br />nacional.<br />Essa questão é importante ao demonstrar que as barreiras ao comércio<br />internacional são ineficientes, exceto em situação de indústria nascente. Isso porque,<br />para proteger-se um setor, prejudica-se outros. No caso siderúrgico, a proteção às<br />empresas americanas causa duas inconsistências: mantêm em funcionamento um setor<br />ineficiente, cuja produção é mais cara que as similares estrangeiras, e prejudica a<br />competitividade da indústria automotiva e de linha branca americanas, dentre outras.<br />Apesar disso, pode-se considerar a existência de uma motivação política para as<br />barreiras. Não se trata do panorama eleitoral americano, como citado por Sachs. Tratase<br />do objetivo de impedir que países menos desenvolvidos conquistem e mantenham<br />posição na fabricação de produtos mais nobres e de tecnologia mais refinada. Para o<br />aço, isso significaria manter países como o Brasil como meros produtores de semiacabados.<br />A lógica do processo mostra-se perversa: o impulso para a<br />internacionalização, por parte das empresas brasileiras, tem como um dos objetivos<br />diversificar a moeda de receitas financeiras. Trata-se, pois, de um hedge efetuado por<br />meio da posse de plantas industriais no exterior. Isso poderia ser efetuado por meio de<br />exportação. No entanto, as barreiras e a lei brasileira, que impede a posse de ativos em<br />moeda estrangeira, levam as empresas a adquirir usinas no exterior. Porém, as barreiras<br />permaneceriam intransponíveis para os produtos longos, planos e especiais, mas<br />poderiam ser suspensas para os semi-acabados. Essa ação transformaria as siderúrgicas<br />em grandes exportadoras de semi-acabados, o que elas já são, para as suas controladas<br />no exterior, que transformariam e revenderiam produtos de maior valor agregado. As<br />conseqüências seriam duplas: o país perderia no saldo da balança comercial, porque<br />exportaria commodities, sujeitos a oscilações extremas de preços, e o mercado de<br />trabalho no Setor poderia não sofrer uma expansão, que se verificará nas usinas<br />estrangeiras.<br />Finalmente, a importância do comércio internacional está em sua exposição.<br />Segundo Melitz, a maior exposição ao comércio provoca uma divisão nas empresas que<br />atuam internamente. As mais eficientes ocuparão o mercado internacional e as menos<br />eficientes, o mercado doméstico. E, conforme as sinergias adquiridas pela empresa com<br />atuação no exterior, ela poderia, inclusive, expulsar da indústria siderúrgica doméstica a<br />empresa menos eficiente. Ou seja, à exposição, ao comércio internacional pode
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