Drauzio Antonio Rezende Junior Impactos das ... - Ppga.com.br

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48<br />Por razões várias, os preços internacionais dos produtos primários<br />sofrem constantes flutuações de preços.<br />Em virtude dessas flutuações, os países subdesenvolvidos,<br />pesadamente dependentes da produção e exportação de produtos<br />primários, acabam rejeitando a teoria das vantagens comparativas e<br />procuram industrializar-se a qualquer custo. Além do mais,<br />normalmente o rendimento per capta é mais elevado no setor<br />industrial do que no setor primário. Assim, a transferência de<br />população do setor primário para o setor industrial contribui, em<br />muitos casos, para a elevação do nível de vida dessa população.<br />Os entraves citados acima são os que normalmente são lembrados como<br />inviabilizadores do comércio. No entanto, outro fator primordial pode entravar o<br />comércio internacional: a inexistência de financiamento. Neste ponto, voltamos ao<br />assunto abordado no início do capítulo, da importância da política de comércio exterior<br />de um Governo. Conforme afirmou Castro (2002, p.6-9), para a revista Integração<br />Econômica:<br />Até onde é fundamental o financiamento às exportações É<br />indispensável. Ela faz parte do tripé: preço-qualidade-financiamento.<br />Em determinados produtos, primeiro se vende o financiamento; depois<br />se vende o produto. Então, sem o financiamento, para determinados<br />produtos, a exportação é inviável. Um exemplo claro é o setor de bens<br />de capital: ninguém monta uma fábrica à vista. Você monta a fábrica<br />financiada e, com os recursos que são gerados com a produção, vai<br />quitando o financiamento. O mundo todo financia a exportação. E o<br />que é pior: na verdade, no passado, o Brasil tinha uma ótima estrutura<br />de financiamento. E nós perdemos essa estrutura.<br />Como se percebe das declarações de Castro, o financiamento é importante para o<br />processo de exportação de bens. No entanto, para um país com relativa escassez de<br />capitais, a questão de financiamento às exportações se torna mais crítica pelo fato de<br />muitas vezes recorrer-se a empréstimos junto a instituições internacionais de fomento,<br />como Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento, para que o Banco<br />Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES - possa financiar<br />exportações. Como os empréstimos são efetuados em moeda forte, temos aqui mais um<br />indício indireto de que o câmbio pode influenciar a competitividade exportadora, por<br />meio do mecanismo indireto do financiamento.
49<br />3.4 Efeitos do Comércio na Indústria<br />O comércio internacional não possui efeitos apenas sobre o bem-estar dos<br />consumidores e sobre a competitividade de determinados setores comerciais. Estudos<br />efetuados por Melitz (2002), para o National Bureau of Economic Research of the<br />United States (Agência Nacional de Pesquisas Econômicas dos Estados Unidos),<br />mostram que o comércio internacional interfere também no ordenamento interno da<br />indústria nacional.<br />Segundo o autor, a exposição ao comércio internacional força as empresas a<br />dividirem-se em empresas mais eficientes e empresas menos eficientes. Desses grupos,<br />o primeiro seria induzido a operar no mercado internacional, enquanto o segundo se<br />veria relegado à posição de atendente do mercado interno. Ou seja, a eficiência da firma<br />seria requisito para sua atuação internacional. É o que se nota da declaração do autor,<br />livremente traduzida:<br />Se estas grandes realocações intra-indústria não forem relacionadas<br />para as características heterogêneas das empresas, então suas<br />existências separadas não necessariamente fariam delas fatores<br />determinantes importantes na performance industrial. Por outro lado,<br />se as realocações são relatadas para as características da empresa,<br />então a natureza da ligação entre as duas afeta significativamente<br />muitos aspectos importantes da performance da industrial. Embora a<br />análise desta ligação entre as características das empresas e a evolução<br />na indústria em um programa avançado de pesquisa, há evidências<br />suficientes que demonstram sua existência e relevância para a<br />performance industrial. A principal característica encontrada para ser<br />empiricamente ligada às realocações intra-indústria é a produtividade<br />da empresa (MELITZ, 2002, p. 1).<br />Continuando os estudos por meio de modelos econométricos, cuja descrição<br />foge ao escopo deste trabalho, o autor declara que o comércio impacta o reordenamento<br />das empresas que operam na indústria, por conta das diferenças de custos de entrada no<br />mercado internacional, quando se analisam as empresas domésticas interessadas neste<br />segmento. É o que se nota de sua conclusão, livremente traduzida para o português:<br />O estudo mostra como a existência do custo de entrada no mercado de<br />exportação afeta drasticamente como o impacto do comércio está<br />distribuído através dos diferentes tipos de empresas. As realocações<br />induzidas entre estas diferentes empresas geram mudanças no<br />ambiente agregado do país, que não podem ser explicadas por um
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