Revista-Politica-Ambiental-jun-Econ-Verde.pdf - José Eli da Veiga
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114<br />
ECONOMIA VERDE<br />
Desafios e<br />
oportuni<strong>da</strong>des<br />
Inovação e<br />
tecnologia para uma<br />
economia verde:<br />
questões fun<strong>da</strong>mentais<br />
Maria Cecília Junqueira<br />
Lustosa<br />
em matéria e energia, que é o padrão dos países centrais, que transfere-se,<br />
por meio <strong>da</strong> subordinação cultural, econômica, tecnológica e financeira, aos<br />
países <strong>da</strong> periferia 3 , seguindo a lógica de acumulação do sistema capitalista.<br />
Para sua expansão, são necessários novos mercados e, portanto, novas necessi<strong>da</strong>des<br />
dos consumidores, que para serem atendi<strong>da</strong>s precisam desenvolver<br />
indefini<strong>da</strong>mente a produção 4 . Assim, crescem a população e suas necessi<strong>da</strong>des,<br />
elevando a escala <strong>da</strong> produção industrial e dos sistemas agropecuários,<br />
resultando no aumento tanto <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> por recursos naturais quanto dos<br />
rejeitos dos processos produtivos.<br />
Coloca-se, portanto, um trade-off entre crescimento econômico e preservação<br />
do meio ambiente. Por um lado, o crescimento econômico trouxe melhorias<br />
nas condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população, gerando maior quanti<strong>da</strong>de de bens e<br />
serviços disponíveis para satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des, porém distribuídos de<br />
forma não equitativa. Por outro lado, esse mesmo crescimento trouxe problemas<br />
ambientais, que não ficam restritos às ativi<strong>da</strong>des industriais e agropecuárias,<br />
como a urbanização desordena<strong>da</strong>, agravando as condições ambientais,<br />
causando <strong>da</strong>nos à saúde humana e à quali<strong>da</strong>de do meio ambiente.<br />
Da<strong>da</strong> a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> questão acima exposta, este artigo abor<strong>da</strong> um<br />
aspecto específico para subsidiar esta discussão mais ampla: a inovação<br />
ambiental como via de mu<strong>da</strong>nça do padrão tecnológico vigente na direção<br />
de uma economia verde. Dessa forma, coloca-se uma questão central: como<br />
induzir mu<strong>da</strong>nças tecnológicas na direção de tecnologias mais limpas a fim de<br />
se obter sustentabili<strong>da</strong>de ambiental? Ou seja, que os recursos naturais sirvam<br />
para as gerações atual e futuras, e que os níveis de poluição sejam reduzidos,<br />
mesmo com o aumento <strong>da</strong> produção?<br />
2. In o v a ç ã o e m e i o a m b ie n t e<br />
O setor industrial é um dos que mais provoca <strong>da</strong>nos ao meio ambiente,<br />
seja por seus processos produtivos ou pela fabricação de produtos poluentes<br />
e/ou que tenham problemas de disposição final após sua utilização. Se,<br />
por um lado, as tecnologias adota<strong>da</strong>s levaram à degra<strong>da</strong>ção ambiental, por<br />
outro, elas possibilitaram maior eficiência no uso dos recursos naturais e a<br />
Nº 8 • Junho 2011<br />
3. O esquema centro-periferia é uma tese de Raúl Prebisch, na qual a América Latina fazia<br />
parte de um sistema de relações econômicas internacionais que funcionava como uma<br />
constelação, cujo centro era os países industrializados e a periferia era a passiva América<br />
Latina. Nesse contexto, o Brasil passou por um processo de “modernização”, isto é, a<br />
adoção de padrões de consumo sofisticados dos países centrais por uma pequena parte<br />
<strong>da</strong> população, que concentrava a maior parte <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> oriun<strong>da</strong> <strong>da</strong>s exportações de café<br />
(Furtado, 1974). Com o aprofun<strong>da</strong>mento do processo de globalização nas últimas déca<strong>da</strong>s,<br />
o padrão de consumo dos países centrais espalha-se por to<strong>da</strong>s as economias capitalistas,<br />
gerando um enorme mercado de produtos intensivos em matéria e energia, que apresentam<br />
grande obsolescência tecnológica.<br />
4. A organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de industrial desde o século 19 está basea<strong>da</strong> no “... modelo<br />
mecanoprodutivista do positivismo: progresso científico = progresso técnico =<br />
desenvolvimento econômico = progresso sociocultural” (Labeyrie, 2004, p. 125). Nesse<br />
contexto, não há lugar para discutir as desigual<strong>da</strong>des sociais e os desequilíbrios ecológicos<br />
causados pelo progresso científico e tecnológico, bases do crescimento econômico.