Revista-Politica-Ambiental-jun-Econ-Verde.pdf - José Eli da Veiga
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ECONOMIA VERDE<br />
Desafios e<br />
oportuni<strong>da</strong>des<br />
Agricultura para uma<br />
economia verde<br />
Ademar Ribeiro Romeiro 1<br />
1. Co n s id e r a ç õ e s iniciais<br />
O que é uma “economia verde”? O entendimento sobre o significado de uma<br />
economia verde dependerá <strong>da</strong> concepção de sustentabili<strong>da</strong>de ecológica subjacente.<br />
No relatório recente do PNUMA sobre economia verde, esta concepção<br />
é aquela implícita no conceito de desenvolvimento sustentável: é possível<br />
conciliar crescimento econômico com conservação ambiental através do aumento<br />
<strong>da</strong> eficiência ecológica 2 , <strong>da</strong> maior prudência nas decisões que envolvem<br />
impactos ambientais, <strong>da</strong> maior consciência dos consumidores na escolha de<br />
bens e serviços menos impactantes etc. O relatório deixa claro o quanto se<br />
pode fazer nesse sentido, levando ao “esverdeamento” <strong>da</strong> economia 3 .<br />
Entretanto, no muito longo prazo, dentro de uma escala humana (milhares<br />
de anos 4 ), a concepção de sustentabili<strong>da</strong>de ecológica a ser considera<strong>da</strong> é<br />
aquela que estabelece claramente que o crescimento econômico, expresso<br />
pelo aumento <strong>da</strong> produção material/energética per capita, não pode continuar<br />
indefini<strong>da</strong>mente pelo simples fato de que existem limites entrópicos para o<br />
aumento <strong>da</strong> eficiência ecológica: de acordo com a 2ª Lei <strong>da</strong> Termodinâmica,<br />
a Lei <strong>da</strong> Entropia, não é possível reduzir a zero as emissões de resíduos gerados<br />
pelas ativi<strong>da</strong>des humanas 5 . É preciso ter em conta a finitude do planeta<br />
Terra, o qual é um sistema fechado do ponto de vista <strong>da</strong>s trocas de matéria<br />
com outros sistemas no espaço (com exceção <strong>da</strong> que<strong>da</strong> ocasional de meteoritos);<br />
do ponto de vista energético, o planeta está “calibrado” para apenas<br />
absorver energia solar e irradiar calor para o espaço sideral, não possuindo<br />
fontes endógenas ativas significativas de energia (as fontes geotérmicas são<br />
relativamente pouco importantes). O aumento sem limite <strong>da</strong> produção material/<br />
Nº 8 • Junho 2011<br />
1. Professor titular do Instituto de <strong>Econ</strong>omia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas (IE/<br />
UNICAMP), coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Meio Ambiente (NEPAM/<br />
UNICAMP) e diretor <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Brasileira de <strong>Econ</strong>omia Ecológica.<br />
2. Mais com a mesma quanti<strong>da</strong>de de recursos e/ou mantendo o nível de produção com uma<br />
menor utilização de recursos, o que se traduz numa redução <strong>da</strong> emissão de resíduos por<br />
uni<strong>da</strong>de de produto ou serviço.<br />
3. As recomen<strong>da</strong>ções deste relatório em grande medi<strong>da</strong> ecoam o que vem sendo dito há<br />
déca<strong>da</strong>s pelo principal teórico do conceito de desenvolvimento sustentável, o professor<br />
Ignacy Sachs, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Paris. Ver, por exemplo, Sachs (2006).<br />
4. O mínimo que se deve considerar como escala humana de longo prazo é 10 mil anos, desde<br />
a invenção <strong>da</strong> agricultura no neolítico. Na média deve-se ter em perspectiva o período<br />
transcorrido desde o controle do fogo pela humani<strong>da</strong>de, algo entre 200 e 400 mil anos.<br />
5. Alguns especialistas acreditam ser teoricamente possível aumentar em até 10 vezes a<br />
atual eficiência ecológica média. Por exemplo, as atuais emissões de carbono produzi<strong>da</strong>s<br />
pela queima de carvão para a produção de aço poderiam ser reduzi<strong>da</strong>s em até 90% com a<br />
introdução de novos processos. Para uma discussão detalha<strong>da</strong> ver os trabalhos do Factor<br />
Ten Institute: http://www.factor10.de