Revista-Politica-Ambiental-jun-Econ-Verde.pdf - José Eli da Veiga
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203<br />
ECONOMIA VERDE<br />
Desafios e<br />
oportuni<strong>da</strong>des<br />
Mensuração nas<br />
políticas de transição<br />
rumo à economia verde<br />
Ronaldo Seroa <strong>da</strong> Mota<br />
Carolina Burle Schmidt Dubeux<br />
Uma avaliação mais geral do desempenho ambiental de uma região ou<br />
bioma tem que se valer de índices ambientais compostos que agreguem e<br />
sintetizem indicadores ambientais de pressão e estado, como, por exemplo,<br />
o “Environmental Sustainability Index” (ESI) e o “Environmental Performance<br />
Index” (EPI), além de índices compostos que meçam a “pega<strong>da</strong> ambiental”<br />
(por exemplo, “Ecological Footprint Index”) 17 .<br />
Por fim, há os indicadores que correlacionam indicadores ambientais com<br />
indicadores econômicos que medem produção e consumo e que partem de<br />
um sistema de contas nacionais. Um sistema de contas ambientais (SCA) tem<br />
sido proposto para inserir a variável ambiental no atual sistema de contas nacionais<br />
(SCN). O desempenho <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des econômicas é refletido no SCN<br />
com medi<strong>da</strong>s de agregados macroeconômicos como, por exemplo, o produto<br />
interno bruto (PIB), os investimentos e a depreciação de capital. Quanto maior<br />
o estoque de capital de uma economia, maior será sua capaci<strong>da</strong>de de gerar<br />
ren<strong>da</strong>. O PIB é a ren<strong>da</strong> gera<strong>da</strong> na economia. Os investimentos representam o<br />
quanto a economia “criou” de capital na geração deste PIB e, portanto, é parte<br />
do PIB. A depreciação representa o quanto a economia “consumiu” de capital<br />
para gerar o PIB e, portanto, não está incluí<strong>da</strong> no PIB. O produto interno líquido<br />
(PIL) de uma economia é, assim, o PIB menos o consumo de capital.<br />
Essas medi<strong>da</strong>s do SCN são estima<strong>da</strong>s com base nas informações coleta<strong>da</strong>s<br />
<strong>jun</strong>to às uni<strong>da</strong>des produtivas por meio de pesquisa de questionários (p.ex.,<br />
censos). Conforme já discutido, o uso de capital natural gera custos que os<br />
agentes econômicos não internalizam nas suas ativi<strong>da</strong>des. Portanto, o SCN<br />
não foi concebido inicialmente para captar os custos ambientais associados à<br />
depreciação do capital natural. Esforços têm sido feitos, pelo Escritório Estatístico<br />
<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (ver SEEA, 2003), para uniformizar uma metodologia<br />
que permita que a estimação desse consumo de capital natural seja integra<strong>da</strong><br />
ao SCN na forma de um sistema de contas ambientais.<br />
Nº 8 • Junho 2011<br />
Observe que a estimação do consumo de capital natural gera um indicador<br />
de quanto a socie<strong>da</strong>de está abrindo mão de seus ativos naturais para gerar<br />
ren<strong>da</strong>, i.e., trocando sustentabili<strong>da</strong>de por consumo presente. Esse indicador<br />
pode oferecer uma boa orientação para os esforços de investimentos ambientais<br />
necessários para manter um nível sustentável de capital natural. Por<br />
exemplo, o Banco Mundial (World Bank, 2006) tem estimado o indicador de<br />
poupança genuína ou poupança líqui<strong>da</strong> ajusta<strong>da</strong> (net adjusted savings) para<br />
medir quanto <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> nacional é devi<strong>da</strong> ao consumo de capital natural. A<br />
determinação do nível adequado de sustentabili<strong>da</strong>de tem sido, entretanto,<br />
um dos principais problemas <strong>da</strong> valoração do consumo de capital natural.<br />
17. Ver Stiglitz, Sen e Fitoussi (2009) para uma discussão detalha<strong>da</strong> desses índices, em<br />
particular para os de pega<strong>da</strong>s que para os autores não consideram as trocas comerciais<br />
entre países nem contabilizam a substituição de capital natural por capital material, ou seja,<br />
ganhos de produtivi<strong>da</strong>de ambiental ao longo do tempo.