Revista-Politica-Ambiental-jun-Econ-Verde.pdf - José Eli da Veiga
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172<br />
ECONOMIA VERDE<br />
Desafios e<br />
oportuni<strong>da</strong>des<br />
Mecanismos de<br />
mercado para uma<br />
economia verde<br />
Peter H. May<br />
Como a extinção é irrevogável, não há meios para substituir espécies ou povos,<br />
cuja sobrevivência depende <strong>da</strong> manutenção de ecossistemas intactos.<br />
No outro lado dos extremos, os recursos naturais resilientes (cujas per<strong>da</strong>s<br />
associa<strong>da</strong>s à sua exaustão/modificação são menos relevantes), ditam algum<br />
sentido relativo ao aproveitamento <strong>da</strong> eficiência alocativa do mercado, visto<br />
que ela fornece recursos, através de prêmios, ou mesmo reforçando comportamentos<br />
mais limpos. Isso permite a criação de mercados que negociem<br />
cotas extras de permissão para emitir poluentes, por exemplo. E no meio<br />
disso tudo, observam-se as restrições intermediárias, quais sejam: quotas<br />
de pesca ou tamanho de malha de rede permitido (King, 1994). A localização<br />
específica <strong>da</strong>s fronteiras entre as diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de intervenção não<br />
são mensuráveis, sendo necessárias a<strong>da</strong>ptações do manejo em resposta às<br />
diferentes características evolutivas dos ecossistemas em análise.<br />
Infelizmente, existem dificul<strong>da</strong>des para a elaboração de políticas eficazes<br />
devido à incerteza e à ignorância sobre a resiliência de ecossistemas e os<br />
“tipping points” ou limiares associados às mu<strong>da</strong>nças nesses sistemas. Numa<br />
primeira avaliação, parece ser prudente errar por precaução, uma vez que as<br />
consequências involuntárias ou imprevisíveis de ativi<strong>da</strong>des humanas podem<br />
causar per<strong>da</strong>s irreversíveis, provocando <strong>da</strong>nos ao próprio bem-estar humano<br />
(Ring e Schroter-Schlak, 2011). Nesse sentido, uma resposta relativa à formulação<br />
de políticas mais adequa<strong>da</strong>s para combater a per<strong>da</strong> de biodiversi<strong>da</strong>de<br />
deve abranger instrumentos que possam proteger um “padrão mínimo aconselhável”<br />
– ‘safe minimum stan<strong>da</strong>rd’ – (Ciriacy-Wantrup, 1952) de conservação<br />
de biodiversi<strong>da</strong>de, independentemente <strong>da</strong> eficiência potencial dos instrumentos<br />
econômicos disponíveis, os quais, em suma, baseiam-se em benefício/<br />
custo. A regulação direta (Comando e Controle – C&C), estabelecendo áreas<br />
protegi<strong>da</strong>s, zonas de exclusão de pesca ou de proibição de uso de certos<br />
produtos ou substâncias (p.e., OGMs) que possam impactar a biodiversi<strong>da</strong>de<br />
são componentes chave nesses contextos.<br />
Nº 8 • Junho 2011<br />
Num estágio intermediário, a incerteza e a ignorância sobre os limites podem<br />
indicar a criação de esquemas de permissão apoiados no princípio de “cap<br />
and trade” (estabelecer o teto para a produção ou utilização de determinado<br />
recurso ou <strong>da</strong> emissão de poluentes que essa produção acarreta e depois comercializar<br />
o excedente ou a falta em relação ao teto). Esses impõem um limite<br />
agregado sobre a exploração de espécies ou hábitats, deixando a alocação<br />
dentro <strong>da</strong>quele limite do mercado e, assim, combinam eficiência na alocação do<br />
esforço de conservação com a segurança do limite. O surgimento do mercado<br />
de carbono segue esse caminho. Se não houvesse uma limitação fixa<strong>da</strong> por<br />
regulação, não haveria incentivo para buscar formas para reduzir os custos<br />
através de um mercado estruturado em permissões de emissão.<br />
O surgimento de mercados para serviços ambientais deve sua inspiração<br />
teórica ao trabalho seminal de Ronald Coase, de 1960, que estabeleceu que