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Revista-Politica-Ambiental-jun-Econ-Verde.pdf - José Eli da Veiga

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158<br />

ECONOMIA VERDE<br />

Desafios e<br />

oportuni<strong>da</strong>des<br />

A transição para uma<br />

economia verde no<br />

direito brasileiro:<br />

perspectivas e desafios<br />

Carlos Teodoro J.<br />

Hugueney Irigaray<br />

<strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong>de, admitindo tratar-se de termo ambíguo que se aplica à<br />

produção, à ecologia, à economia, ao meio ambiente, à socie<strong>da</strong>de e ao desenvolvimento.<br />

Na medi<strong>da</strong> em que perpassa áreas distintas e distancia<strong>da</strong>s, o<br />

conceito de sustentabili<strong>da</strong>de exerce uma função integradora e revolucionária,<br />

implicando a ruptura de padrões, crenças e técnicas secularmente consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

e inserindo-se num contexto de mu<strong>da</strong>nça de padrões nas relações do homem<br />

com o mundo natural.<br />

Nessa acepção, a sustentabili<strong>da</strong>de pode exercer uma ação transformadora,<br />

tanto na esfera econômica, incentivando investimento em capital limpo, como<br />

na esfera político-administrativa, através <strong>da</strong> descentralização e democratização<br />

dos centros decisórios.<br />

De todo modo, em que pese a imprecisão do conceito de desenvolvimento<br />

sustentável, este pode ser considerado viável e possível, na medi<strong>da</strong> em que<br />

fixa diretrizes capazes de informar as políticas públicas nesse momento de<br />

transição de uma socie<strong>da</strong>de industrial para uma socie<strong>da</strong>de de risco 3 , oferecendo<br />

critérios orientadores <strong>da</strong> intervenção pública no domínio do ambiente e<br />

sobretudo na economia, ao fomentar o aumento do capital natural.<br />

Para tanto, é imprescindível que se opere, na área econômica e jurídica,<br />

uma profun<strong>da</strong> revisão dos incentivos implicitamente concedidos às ativi<strong>da</strong>des<br />

poluentes 4 , já que frequentemente os efeitos externos dessas ativi<strong>da</strong>des econômicas<br />

não são considerados no sistema de preço, gerando o que na ciência<br />

econômica são identifica<strong>da</strong>s como externali<strong>da</strong>des.<br />

Essas externali<strong>da</strong>des somente serão reduzi<strong>da</strong>s, se os custos ambientais<br />

forem assumidos pelos agentes produtores e consumidores, através <strong>da</strong><br />

intervenção estatal, por meio de instrumentos econômicos ou de comando-econtrole,<br />

o que implica a superação de uma tradição dos estudos econômicos<br />

que enxergam o meio ambiente como inesgotável.<br />

Além disso, não se podem ignorar as pesquisas que alertam quanto ao<br />

volume dos recursos naturais consumido atualmente, considerado acima <strong>da</strong><br />

capaci<strong>da</strong>de de reposição do planeta 5 ; ou seja, a humani<strong>da</strong>de está consumindo<br />

recursos de forma insustentável. Esse aspecto não está sendo adequa<strong>da</strong>mente<br />

Nº 8 • Junho 2011<br />

3. Na acepção de Ulrich Beck (1992), a configuração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea, como<br />

uma socie<strong>da</strong>de de risco, tem como pressuposto a constatação de um quadro de riscos<br />

catastróficos, marcados pela invisibili<strong>da</strong>de (ameaça nuclear, aquecimento global etc.) e pela<br />

incapaci<strong>da</strong>de do Estado em <strong>da</strong>r respostas eficazes para tais problemas e garantir a segurança<br />

dos ci<strong>da</strong>dãos (irresponsabili<strong>da</strong>de organiza<strong>da</strong>, estado de segurança e explosivi<strong>da</strong>de social).<br />

4. O World Watch Institute estima que o equivalente a 3% <strong>da</strong> economia mundial (ou o<br />

equivalente ao PIB <strong>da</strong> Itália) é gasto em subsídios a ativi<strong>da</strong>des que destroem o meio ambiente<br />

(Januzzi, G. De M. A política energética e o meio ambiente apud Romeiro. et al., 1999,<br />

p.156). Esse índice refere-se aos subsídios explícitos; o custo socioambiental <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

poluentes, que são suportados pela população (e não pelos poluidores) é incalculável.<br />

5. Uma investigação conduzi<strong>da</strong> por uma equipe internacional de cientistas, sob a coordenação<br />

de Mathis Wackernagel, intitula<strong>da</strong> “Levantando o consumo ambiental excessivo <strong>da</strong> economia<br />

humana”, alerta para a incapaci<strong>da</strong>de do planeta em absorver o carbono lançado na atmosfera.<br />

Segundo Wackernagel, a expansão econômica estimula a deman<strong>da</strong> de recursos e supera a<br />

capaci<strong>da</strong>de do planeta em restaurar bens e serviços: “Já não estamos vivendo dos juros <strong>da</strong><br />

natureza, mas do capital <strong>da</strong> natureza. <strong>Econ</strong>omias sustentáveis não são possíveis se vivermos<br />

acima dos meios que a natureza proporciona” (Polakovic, 2002).

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