Revista-Politica-Ambiental-jun-Econ-Verde.pdf - José Eli da Veiga
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ECONOMIA VERDE<br />
Desafios e<br />
oportuni<strong>da</strong>des<br />
<strong>Econ</strong>omia verde e/<br />
ou desenvolvimento<br />
sustentável?<br />
Donald Sawer<br />
engenheiros, mão-de-obra qualifica<strong>da</strong> para a construção civil, motoristas de<br />
caminhões e tratores, eletricistas capacitados e professores em todos os níveis.<br />
As estra<strong>da</strong>s e pontes caem ou são obstruí<strong>da</strong>s, a energia elétrica falta constantemente,<br />
o desempenho educacional deixa muito a desejar. Melhorar essa<br />
situação não exige tecnologia nova transferi<strong>da</strong> de países desenvolvidos.<br />
No final <strong>da</strong>s contas, a economia verde pode favorecer os ricos e os países<br />
centrais. Embora não confun<strong>da</strong> “crescimento sustentado” com desenvolvimento<br />
sustentável, que é um erro comum, permite manter a priori<strong>da</strong>de para o crescimento<br />
do PIB, qualificado de verde, de forma pouco crítica (Latouche, 2005),<br />
deixar de lado a vulnerabili<strong>da</strong>de e a a<strong>da</strong>ptação às mu<strong>da</strong>nças climáticas (Lahsen,<br />
2010) e justificar os incentivos ou subsídios para diversos lobbies verdes.<br />
Enfim, para equivaler ao desenvolvimento sustentável, a economia verde<br />
não pode ser pontual e empresarial, com políticas volta<strong>da</strong>s somente para<br />
isso. Teria que ser necessariamente pública no sentido amplo, implementa<strong>da</strong><br />
por meio de políticas que garantam direitos a todos e mantenham as funções<br />
ecossistêmicas interliga<strong>da</strong>s. Ou seja, teria que seguir um enfoque socioecossistêmico<br />
assumido pelo Estado, considerando todos os territórios.<br />
Alguns dos participantes do processo estão conscientes e atentos a essas<br />
questões. O diplomata chinês responsável pela coordenação <strong>da</strong> organização<br />
<strong>da</strong> Rio+20, Sha Zukang, insiste em que se trata de economia verde no contexto<br />
do desenvolvimento sustentável e <strong>da</strong> redução de pobreza. Para ele, que tem<br />
forte respaldo político, não se trata de economia verde isola<strong>da</strong>mente, mas<br />
apenas no contexto econômico e social mais amplo.<br />
Diversas outras visões de futuro são possíveis (Bursztyn, 2008; Sachs, 2010;<br />
Machado, 2010; Sanwal, 2011; Abramovay, 2009; Lesbaupin, 2010; Prins,<br />
2010; Martins, 2010). Também surgiram recentemente novas propostas anticapitalistas<br />
latino-americanas, como os direitos <strong>da</strong> natureza, “Pacha Mama”,<br />
contra a mercantilização <strong>da</strong> natureza (Bacarji, 2010; UNDP, 2010). O diálogo<br />
seria desejável e, no âmbito <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, necessário.<br />
O mais importante de tudo seria ver o que pode ser feito aqui e agora, sem<br />
tratados ambiciosos, agências de governança global, novos recursos financeiros<br />
e novas tecnologias (Sawyer, 2011). Caberia muita ação nacional, bilateral,<br />
regional e entre países emergentes. Se não, as boas intenções podem gerar<br />
resultados inócuos ou negativos.<br />
Nº 8 • Junho 2011<br />
De imediato, o desenvolvimento sustentável poderia ser operacionalizado<br />
em termos de direitos fun<strong>da</strong>mentais já existentes, tanto humanos, que são<br />
universais, quanto de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, que são nacionais (ESCR-Net et al., 2010;<br />
IISD, 2010; Lusiani, 2010; Santilli, 2005; Sousa, 2010; Varella, Leuzinger,<br />
2008). Direitos referem-se a valores éticos (Grasso, 2010). Também implicam<br />
deveres. Os direitos de alguns acabam onde começam os direitos dos outros.<br />
Os direitos <strong>da</strong>s futuras gerações de atendimento a suas necessi<strong>da</strong>des depen-