Revista-Politica-Ambiental-jun-Econ-Verde.pdf - José Eli da Veiga
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ECONOMIA VERDE<br />
Desafios e<br />
oportuni<strong>da</strong>des<br />
Agricultura para uma<br />
economia verde<br />
Ademar Ribeiro Romeiro<br />
2.1 Os princípios ecológicos <strong>da</strong>s práticas agroecológicas<br />
Pode-se dizer que as práticas agrícolas modernas evoluíram em resposta a<br />
estímulos econômicos provenientes <strong>da</strong>s vantagens <strong>da</strong> monocultura em termos<br />
<strong>da</strong> organização e <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>de do trabalho agrícola e <strong>da</strong> perspectiva de<br />
ganho com a especialização na produção do produto mais rentável 13 . Tecnicamente<br />
isso foi possível por meio <strong>da</strong> introdução de procedimentos químicomecânicos<br />
que se revelaram eles próprios degra<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> base produtiva.<br />
É preciso ter claro que a monocultura contraria uma regra básica na natureza,<br />
segundo a qual diversi<strong>da</strong>de é sinônimo de estabili<strong>da</strong>de. Quanto mais<br />
simplificado for um determinado ecossistema, maior a necessi<strong>da</strong>de de fontes<br />
exógenas de energia e matéria para manter o equilíbrio. A monocultura provoca<br />
um profundo desequilíbrio, tanto do ponto de vista <strong>da</strong> cobertura vegetal<br />
(infestações de pragas) como <strong>da</strong>quele <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des física, química e biológica<br />
do solo.<br />
Os fatores desestabilizadores ganham força e obrigam o agricultor a recorrer<br />
a técnicas intensivas em energia para manter as condições favoráveis ao desenvolvimento<br />
dos vegetais. Entretanto, essas soluções técnicas não buscam<br />
eliminar as causas do desequilíbrio, mas apenas contornar seus efeitos sobre<br />
os rendimentos. A eficácia inicial dessas técnicas e procedimentos tornou a<br />
grande maioria dos especialistas extremamente otimista.<br />
A experiência mostrou, entretanto, que não havia razão para esse otimismo.<br />
Na França, por exemplo, devido à baixa geral <strong>da</strong> taxa de matéria orgânica, a<br />
estrutura física dos solos tornou-se ca<strong>da</strong> vez mais suscetivel à ação de fatores<br />
climáticos, bem como à passagem de máquinas e equipamentos pesados – cujo<br />
uso, por sua vez, se fez necessário para descompactar solos mais suscetíveis<br />
à compactação devido ao baixo teor de matéria orgânica!<br />
Em outras palavras, a degra<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> estrutura física do solo provoca<br />
uma contradição permanente no nível <strong>da</strong>s intervenções que visam modificar<br />
favoravelmente as condições de abastecimento de água e nutrientes para as<br />
plantas: quanto mais o solo se degra<strong>da</strong>, menos se pode contar com fatores<br />
naturais (serviços ecossistêmicos) para se obter as condições necessárias<br />
para o cultivo, as quais têm que ser obti<strong>da</strong>s por meio de intervenções químicomecânicas<br />
que também contribuem para a degra<strong>da</strong>ção. No entanto, é preciso<br />
ter claro que essas inovações não resolvem a contradição, na medi<strong>da</strong> em que<br />
se destinam a contornar os efeitos <strong>da</strong> degra<strong>da</strong>ção do meio sobre a produtivi<strong>da</strong>de,<br />
sem tocar nas causas dos problemas.<br />
Nº 8 • Junho 2011<br />
É preciso enfrentá-los com a adoção de práticas agrícolas que manejem a<br />
natureza e não lutem contra ela! Um ecossistema agrícola implica forçosamente<br />
a simplificação do ecossistema original. Por essa razão é necessário que o<br />
13. Ver Romeiro (1991, 1998) para uma análise histórica desse processo.