102Raul Rivero 159 expressa um outro sentimento <strong>em</strong> Irse es un desastre, de que os<strong>cuba</strong>nos tiveram que conviver durante quarenta anos com a despedi<strong>da</strong> e a separação de algo ede alguém, e no olhar de qu<strong>em</strong> fica “en el espacio que existe entre irse y volver hay quefun<strong>da</strong>r la permanencia, porque permanecer si<strong>em</strong>pre será un antídoto contra el desencanto. Yun veneno para el olvido.” Permanecer, num estado psíquico de exílio interno, significa existirnum contraponto à absolutização de um domínio que ele chama “... el trabalho científico deun grupo de especialistas del horror...”. É <strong>sob</strong>reviver com a digni<strong>da</strong>de de que o país não ésomente a história de um coman<strong>da</strong>nte, mas outras histórias são vivi<strong>da</strong>s na contramão do“desencanto”, pois afirma “Irse es un desastre...una catástrofe íntima.”. 160A confirmação desse sentimento é observa<strong>da</strong> nas palavras de Nicolás Quintana <strong>em</strong>seu exílio. Não esconde a triste condição de não estar próximo de sua gente sorrindo,cantando, brincando diante do que Cuba vive hoje, dois mundos contrapostos:...en medio de una destrucción absoluta, en medio de la miseria, en unmundo Kafkiano, la gente se está riendo, los niños están jugando, y lamúsica está sonando. Esa es Cuba, y eso son los <strong>cuba</strong>nos. A veces siento quelos tristes somos nosotros porque no estamos en Cuba. 161O probl<strong>em</strong>a de se criar um novo enraizamento traz conflitos oriundos de umdesenraizamento preliminar buscando uma nova identificação <strong>cultura</strong>l no exterior para que setenha um reconhecimento e aceitação social na outra <strong>cultura</strong>. Porque, ain<strong>da</strong> segundo Bhabha,o “existir é ser chamado à existência <strong>em</strong> relação a uma alteri<strong>da</strong>de, seu olhar ou lócus. É umad<strong>em</strong>an<strong>da</strong> que se estende <strong>em</strong> direção a um objeto externo...” 162Questões de identi<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l reflet<strong>em</strong> o <strong>em</strong>bate político de superestruturasnacionais essencialmente radica<strong>da</strong>s <strong>em</strong> ideologias, impondo barreiras psíquicas <strong>da</strong>sidenti<strong>da</strong>des diferencia<strong>da</strong>s. O estranhamento associado à estrangeirização e acrescido ain<strong>da</strong> doprobl<strong>em</strong>a de ord<strong>em</strong> política evoca a análise de Homi Bhabha <strong>sob</strong>re identi<strong>da</strong>de quandovivencia<strong>da</strong> <strong>sob</strong> princípios de tradição, de auto-afirmação histórica e de culto à sua orig<strong>em</strong>159Raul Rivero: jornalista, escritor e um dos maiores poetas <strong>cuba</strong>nos nascido <strong>em</strong> Morón, <strong>em</strong> 1945. Praticou ojornalismo independente <strong>em</strong> Cuba. Mas <strong>em</strong> 2003, no episódio “Primavera Negra”, foi condenado com mais 27colegas a vinte anos de prisão por oposição ao Fidel Castro. Foi libertado <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro de 2004 <strong>em</strong> função <strong>da</strong>pressão internacional. Vive atualmente no exílio <strong>em</strong> Madrid.160 RIVERO, Raúl. Irse es un desastre. Revista Encuentro… Madrid. Invierno de 1998. Vol.11. pp. 146-7161 QUINTANA, Nicolás. El gran burgués. Revista Encuentro… Madrid. Otoño del 2000. Vol.18. p. 24162 BHABHA, Homi K. O Local <strong>da</strong> Cultura. Tradução de M. Ávila, E.L. de Lima Reis, G.R. Gonçalves. BeloHorizonte. Editora UFMG. 2001. p. 75
103onde se projeta uma imag<strong>em</strong> narcisista na relação cotidiana negadora de outras <strong>cultura</strong>s. Ca<strong>da</strong>qual totaliza<strong>da</strong> <strong>em</strong> seu interior <strong>sob</strong> a concepção de Hom<strong>em</strong> Universal.E, muitas vezes o probl<strong>em</strong>a de identi<strong>da</strong>de se encontra desde o local de orig<strong>em</strong>,pela renúncia anterior de uma identi<strong>da</strong>de pessoal <strong>em</strong> nome de uma identi<strong>da</strong>de coletiva. Oprocesso de similitude social se absolutiza de tal forma nos discursos de um poderconcentrador <strong>da</strong> representação social que resulta <strong>em</strong> se <strong>sob</strong>repor ao desejo psíquico de umamanifestação de individuali<strong>da</strong>de. Esses conflitos de identi<strong>da</strong>de são transpostos com a<strong>em</strong>igração e recriados no exterior com as novas circunstâncias de estranhamento e a<strong>da</strong>ptaçãosocial. O que nos r<strong>em</strong>ete novamente à pergunta de Jesúz Díaz, <strong>em</strong> sua obra A Pátria e oExílio: “¿Hubo un momento en que ustedes se perdieron como <strong>cuba</strong>nos?” citadoanteriormente.A identi<strong>da</strong>de se torna um objeto pelo qual a nação projeta a produção de seusiguais. A força do discurso <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de mol<strong>da</strong> o persistente ideal de poder social paralegitimar a real idéia de poder único. Uma concepção de identi<strong>da</strong>de nacional que “converteo Povo <strong>em</strong> Um”, numa tentativa de homogeneizar as diferenças <strong>cultura</strong>is, segundo Bhabha. 163Tal concepção mune o poder de um determinismo político, nivelando os indivíduos por meio<strong>da</strong> produção de seres impessoais <strong>em</strong> favor de uma idéia ilusória de coletivi<strong>da</strong>de nacional.Essas reflexões são importantes nas condições atuais de Cuba, pois r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> aoprobl<strong>em</strong>a do historicismo ou de um transcendentalismo histórico no qual a <strong>cultura</strong> se vêsubmeti<strong>da</strong> ao jogo <strong>da</strong>s disputas teleológicas e <strong>da</strong>s narrativas totalizadoras de nação. EmCaliban’s Reason, Paget Henry analisa o marxismo caribenho <strong>em</strong> suas estratégias discursivasde uni<strong>da</strong>de e coerência. Elas se fun<strong>da</strong>mentam nas idéias de igual<strong>da</strong>de e totali<strong>da</strong>de comometáfora “ilusória” e “opressiva” para manter uma aparente igual<strong>da</strong>de de identi<strong>da</strong>de entrecondições desiguais e diferentes. A supressão <strong>da</strong>s diferenças pela concepção universalista etotalizadora direciona o indivíduo a uma ação prática que culmine na transformação socialista.Para Henry, o discurso <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de camufla a “s<strong>em</strong>iótica <strong>da</strong>s diferenças” 164 e t<strong>em</strong> sido objetode crítica dos estudos pós-estruturalistas, conforme sua própria afirmação:Given poststructuralism’s subtextual view of the self, it should come as nosurprise that it takes a similar view of closely related discursive formations,such as universals, closed syst<strong>em</strong>s of thought, teleologies, andtransformative totalizations such as historicism, humanism, or socialism.163 Ibid<strong>em</strong>. p. 211164 HENRY, Paget. Caliban’s Reason: Introducing Afro-Caribbean Philosophy. New York. Routledge. 2000. pp.221-272
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