12<strong>cultura</strong>l, sua repercussão na transformação cotidiana e de como tais movimentos têm setornado relevantes <strong>em</strong> diversos contextos.A socie<strong>da</strong>de <strong>cuba</strong>na atual vive o contexto <strong>da</strong> polarização entre ser favorável oucontrário ao advento <strong>da</strong> Revolução de 1959, forjado pelos sucessivos discursos pósrevolucionários.A Revolução Cubana de 1959 representou a transição do capitalismo aosocialismo e com ela trouxe as diversi<strong>da</strong>des quanto ao seu rumo. Primeiro, a definição pelosocialismo durante seu primeiro triênio, com as desapropriações dos latifúndios,nacionalizações de <strong>em</strong>presas de capital nacional e norte-americano, atingindo a classe médiaalta, a elite <strong>cuba</strong>na e os interesses dos Estados Unidos na Ilha, que praticavam, <strong>em</strong> represália,atos de sabotag<strong>em</strong> contra o governo revolucionário. Criou-se uma oposição revolucionáriainterna e externa que se agrupou na formação do primeiro exílio <strong>cuba</strong>no à Miami, no iníciodos anos de 1960, simbolizado pela reação mais conservadora e anticastrista (conheci<strong>da</strong> comocomuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> direita de Miami). O segundo rumo foi diante do enfrentamento às reaçõesinternas e ao imperialismo ianque optou-se pelo vínculo definitivo ao bloco soviético e aoleste europeu, o que significou a consoli<strong>da</strong>ção do socialismo como ideologia a ser instituí<strong>da</strong>pelo poder revolucionário e o comunismo como meta política, social e <strong>cultura</strong>l a ser alcança<strong>da</strong><strong>em</strong> to<strong>da</strong> Ilha. Dessa forma, as representações revolucionárias e anti-revolucionárias seencontram nos primórdios <strong>da</strong> Revolução e foram se multiplicando durante quase meio séculode experiência socialista, mas com grandes dificul<strong>da</strong>des <strong>em</strong> suplantar os ultrapassadosmaniqueísmos e confrontos <strong>da</strong> Guerra Fria.Como desdobramento dessa polarização, o fenômeno do exílio adquiriu umadimensão histórica significativa sinalizando posições que <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> do intervalo entre os pólosdicotômicos assinalados. A motivação por esta pesquisa reside, precisamente, <strong>em</strong> buscarsaber qual é este intervalo discursivo que não esteja delimitado pelas fronteiras ideológicasque <strong>sob</strong>reviv<strong>em</strong> nos resquícios históricos <strong>da</strong> Guerra Fria, mas traduz uma outra história vivi<strong>da</strong>pelos <strong>cuba</strong>nos, de meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 até hoje, residentes “dentro” e “fora” 1 <strong>da</strong> Ilha.1Os termos “dentro” e “fora” são muito freqüentes nos artigos <strong>da</strong> Encuentro, e retratados de forma crítica àimag<strong>em</strong> estereotipa<strong>da</strong> acerca dos que estão “dentro” como os representantes fiéis à Revolução, e os que estão“fora” como os contra-revolucionários. Esta linha divisória é um desdobramento <strong>da</strong>s palavras de Fidel Castro aosintelectuais <strong>em</strong> 1961, quando afirmou: “Dentro <strong>da</strong> Revolução, tudo; contra a Revolução, na<strong>da</strong>.”Estes conceitos serão aprofun<strong>da</strong>dos no terceiro capítulo desta dissertarão, com a presença dos editoriais eartigos que se refer<strong>em</strong> de forma crítica ao binarismo institucionalizado <strong>em</strong> Cuba. Serão acrescenta<strong>da</strong>s asabor<strong>da</strong>gens teóricas de Reinhardt Koselleck <strong>sob</strong>re as diferentes formas históricas de negação e unilaterali<strong>da</strong>de deuma <strong>cultura</strong> <strong>em</strong> relação à outra, retomando a oposição entre “gregos e helenos, cristãos e pagãos, hom<strong>em</strong> e nãohom<strong>em</strong>,super-hom<strong>em</strong> e infra-hom<strong>em</strong>” para analisar a existência destas assimetrias <strong>em</strong> diversos contextoshistóricos. A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> destes conceitos se encontra <strong>em</strong> sua obra Futuro e Pasado, cap.X, p.205.Em Édouard Glissant, Poetics of Relations, encontra-se a análise <strong>sob</strong>re o dualismo entre ci<strong>da</strong>dão eestrangeiro onde afirma: “The duality of self-perception (one is citizen or foreigner) has repercussions on one’s
13Ou seja, que outros discursos têm sido produzidos fora do âmbito moral <strong>da</strong>s políticas <strong>em</strong>disputa, e que reflita os paradigmas de um mundo <strong>em</strong> que os movimentos migratórios refaz<strong>em</strong>a identi<strong>da</strong>de instituí<strong>da</strong> entre “centro” e “periferia”, “nacionalismo” e “imperialismo”,“política” e “<strong>cultura</strong>”, “ser” ou “não ser” revolucionário, e d<strong>em</strong>ais representações que a prioriclassificam uns e desclassificam outros.É neste sentido que este trabalho se direciona, para o estudo que venho realizando<strong>sob</strong>re a <strong>revista</strong> Encuentro de la Cultura Cubana, edita<strong>da</strong> na Espanha pela AsociaciónEncuentro de la Cultura Cubana desde 1996 até nossos dias, para a qual colaboramintelectuais <strong>cuba</strong>nos exilados e os que resid<strong>em</strong> <strong>em</strong> Cuba, como também escritoresestrangeiros, numa reflexão discursiva <strong>sob</strong>re as contradições e tensões que a socie<strong>da</strong>de <strong>cuba</strong>nat<strong>em</strong> vivido <strong>em</strong> seu aspecto histórico, <strong>cultura</strong>l e político.Como a publicação contém inúmeras especifici<strong>da</strong>des de artigos e t<strong>em</strong>áticas, orecorte do corpus documental foi definido primeiro quanto aos volumes selecionados devido àsua contínua edição, o que geraria uma infini<strong>da</strong>de de leituras de difícil especificação efinalização do trabalho. Os volumes então escolhidos se encontram entre o 1 e o 25, por estescorresponder<strong>em</strong> ao período <strong>em</strong> que seu fun<strong>da</strong>dor, Jesús Díaz, esteve à frente <strong>da</strong> direção <strong>da</strong><strong>revista</strong>, intervalo compreendido entre os anos de 1996, momento de sua fun<strong>da</strong>ção, até 2002,ano de seu falecimento. A seleção do período defini<strong>da</strong> pela presença de Jesús Díaz na <strong>revista</strong>se fez pelo seu destaque no processo histórico e <strong>cultura</strong>l <strong>em</strong> Cuba, como intelectualparticipante <strong>da</strong> Revolução de 1959 e posteriormente como exilado. Ele teve uma atuaçãodecisiva no exílio <strong>em</strong> viabilizar o projeto de aglutinação dos <strong>cuba</strong>nos no debate <strong>sob</strong>re sua<strong>cultura</strong> e desdobramentos políticos; b<strong>em</strong> como encaminhou uma nova reflexão <strong>sob</strong>re a relaçãoentre Cuba e o exílio, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> na supressão dos confrontos entre os extr<strong>em</strong>os e maisdireciona<strong>da</strong> ao diálogo entre to<strong>da</strong>s as forças oriun<strong>da</strong>s <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> e <strong>da</strong>s tendências políticas. Seuprojeto teve como resultado a publicação <strong>da</strong> <strong>revista</strong> Encuentro de la Cultura Cubana.Ain<strong>da</strong> assim, n<strong>em</strong> todos os volumes foram abarcados <strong>em</strong> sua totali<strong>da</strong>de. Outrosrecortes se tornaram necessários ao longo <strong>da</strong> leitura dos artigos <strong>em</strong> função <strong>da</strong> varie<strong>da</strong>de det<strong>em</strong>as abor<strong>da</strong>dos, sendo, então, feita uma seleção destes que cont<strong>em</strong>plaria a análise maisespecífica proposta neste trabalho – a t<strong>em</strong>ática <strong>cultura</strong>l e política narra<strong>da</strong> pela Encuentro de laidea of the Other (…) Thought of the Other cannot escape its own dualism until the time when differencesbecome acknowledged.” p.17Outro estudo importante <strong>sob</strong>re outri<strong>da</strong>de é El bárbaro imaginario de Laënnec Hurbon <strong>em</strong> que analisa oparadigma <strong>da</strong> oposição entre bárbaro e civilizado: “La civilización se presenta así como la única reali<strong>da</strong>d, laúnica ver<strong>da</strong>d, en la ilusión de un autoengendramiento que se apoya en la exterminación potencial o efectiva deto<strong>da</strong> otre<strong>da</strong>d.” p.206
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