70reflete <strong>sob</strong>re o caráter transgressor de Virgilio Piñera que “fazia do absurdo, <strong>da</strong> truculência edo <strong>sob</strong>redimensional, material idôneo de sua existência e de sua literatura.” 86 E Efraínressalta ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> sua análise <strong>da</strong> obra de Arrufat a linguag<strong>em</strong> literária como contestadora eirônica ao comportamento político dominador.Carlo Ginsburg afirma que é na literatura <strong>da</strong> imaginação que o paradigmaindiciário se afirma. O método dos indícios, do pormenor pode revelar grandes fenômenos.Ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que é utilizado no controle social e ideológico, pode também serutilizado no conhecimento que dissolva o obscurantismo <strong>da</strong>s ideologias dominantes. 87 Eneste sentido, Antón Arrufat descreve as circunstâncias adversas <strong>em</strong> que a literatura <strong>cuba</strong>naresistia e de como os escritores <strong>cuba</strong>nos foram submetidos nos anos de 1970 e, de modos<strong>em</strong>elhante nos anos de 1990 ao controle político do governo revolucionário:Nuestros libros dejaron de publicarse, los publicados fueron recogidos de laslibrerías y subrepticiamente retirados de los estantes de las bibliotecaspúblicas. Las piezas teatrales que habíamos escrito desaparecieron de losescenarios. Nuestros nombres dejaron de pronunciarse en conferencias yclases universitarias, se borraron de las antologías y de las historias de laliteratura <strong>cuba</strong>na compuestas en esa déca<strong>da</strong> funesta. No sólo estábamosmuertos en vi<strong>da</strong>: parecíamos no haber nacido ni escrito nunca. Las nuevasgeneraciones fueran educa<strong>da</strong>s en el desprecio a cuanto habíamos hecho o ensu ignorancia. Fuimos sacados de nuestros <strong>em</strong>pleos y enviados a trabajardonde nadie nos conociera, en biblioteca aleja<strong>da</strong>s de la ciu<strong>da</strong>d, imprentas detextos escolares y fundiciones de acero. Piñera se convirtió por decisión deun funcionario, en un traductor de literatura africana de lengua francesa. 88Segundo a visão de Arrufat, a intelectuali<strong>da</strong>de foi reduzi<strong>da</strong> a situações de nuli<strong>da</strong>dee impossibili<strong>da</strong>de de expressão independente, pressupondo uma hierarquia de funçõesestabeleci<strong>da</strong>s pelos valores <strong>da</strong> conveniência oficial. Tal conveniência não permite o incômodocrítico e, principalmente, os instrumentos de sua difusão. Cabe-lhe, então, julgar a ocupaçãoapropria<strong>da</strong> <strong>da</strong> inconveniência conforme os critérios <strong>da</strong> hierarquia funcional. A ocupaçãoapropria<strong>da</strong> significa adequar-se a um trabalho que não tenha repercussão política e n<strong>em</strong>inviabilize o curso normal <strong>da</strong> condução de um projeto revolucionário, que deveria sertacitamente aceito por to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de. Ou se põe à serviço <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> revolução, ou86 SANTANA, Efraín Rodriguez. Virgilio Piñera: la vi<strong>da</strong> vive. Revista Encuentro... Verano de 1996. Vol.1.p. 116. Efraín nasceu <strong>em</strong> Palma Soriano <strong>em</strong> 1953 e reside <strong>em</strong> Havana. É poeta e ensaísta, autor do livro depo<strong>em</strong>as Otro día va comenzar.87 GINSBURG, Carlo. Mitos, Embl<strong>em</strong>as, Sinais: Morfologia e História. Companhia <strong>da</strong>s Letras. São Paulo. 1991.pp.143-17988 ARRUFAT, Antón. Virgilio Piñera: entre él y yo. Ediciones Unión, La Habana, 1994 apud SANTANA,Efraín Rodriguez. Virgilio Piñera: la vi<strong>da</strong> vive. Revista Encuentro... Verano de 1996. Vol.1. p.116
71não há lugar adequado na socie<strong>da</strong>de à sua <strong>sob</strong>revivência. To<strong>da</strong> a <strong>cultura</strong> se reduz ainstrumentalizar e alimentar a política revolucionária.No artigo de Carlos Monsivais, intitulado “Revolución Cubana: los años delconsenso”, cita um discurso de Fidel Castro, proferido <strong>em</strong> 1968 no Congresso Cultural de LaHabana, acerca <strong>da</strong> posição dos intelectuais e <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> <strong>em</strong> Cuba após a Revolução,traduzindo a utilização <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> como veículo de difusão ideológica: “... que losintelectuales adoptan una posición ca<strong>da</strong> vez más combativa”. E, <strong>em</strong> outra citação Fidelafirma: “La <strong>cultura</strong> es hija de la Revolución.” 89 A história veio assinalar a interpretação deque essa concepção de <strong>cultura</strong> é o resultado <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de entre Revolução, nação, estado,poder, governo e o socialismo. O ver<strong>da</strong>deiro intelectual é aquele que, antes de tudo, assume acondição e as tarefas revolucionárias na acepção de Fidel, fora dessa condição não háaceitação social e política. É pertinente citar aqui trechos de outro discurso de Fidel Castro(mencionado na Introdução desta dissertação) numa reunião <strong>em</strong> junho de 1961 com escritorese intelectuais <strong>cuba</strong>nos, que culminou no fechamento <strong>da</strong> publicação Lunes de Revolución e naconvocação do Congresso que criou a União dos Escritores e Artistas Cubanos (UNEAC).Esse discurso é ilustrativo <strong>da</strong> política <strong>cultura</strong>l que seria defini<strong>da</strong> a partir de então pelo governorevolucionário e instituí<strong>da</strong> até o momento, mas com a presença heterogênea e resistente dosintelectuais ao longo do processo revolucionário:El probl<strong>em</strong>a que aquí se ha estado discutiendo y vamos a abor<strong>da</strong>r, es elprobl<strong>em</strong>a de la libertad de los escritores y artistas para expresarse.Se habló aquí de la libertad formal. Todo el mundo estuvo de acuerdo en quese respete la libertad formal. Creo que no hay du<strong>da</strong> acerca de este probl<strong>em</strong>a.La cuestión se hace más sutil y se convierte ver<strong>da</strong>deramente en el puntoesencial de la discusión cuando se trata de la libertad de contenido. Es elpunto más sutil porque es el que está expuesto a las más diversasinterpretaciones. El punto más polémico de esta cuestión es si debe haber ono una absoluta libertad de contenido en la expresión artística. [...]Permítanme decirles en primer lugar que la Revolución defiende la libertad;que la Revolución ha traído al país una suma muy grande de libertades; quela Revolución no puede ser por esencia en<strong>em</strong>iga de las libertades; que si lapreocupación de alguno es que la Revolución vaya a asfixiar su espíritucreador, [...] esa preocupación es innecesaria, [...] esa preocupación no tienerazón de ser.…dentro de la Revolución, todo; contra la Revolución, na<strong>da</strong>. Contra laRevolución na<strong>da</strong>, porque la Revolución tiene también sus derechos y elprimer derecho de la Revolución es el derecho a existir, y frente al derechode la Revolución de ser y de existir, nadie, por cuanto la Revolucióncomprende los intereses del pueblo, por cuanto la Revolución significa los89 MONSIVAIS, Carlos. La revolución <strong>cuba</strong>na: los años del consenso. Revista Encuentro… Madrid. 2000.Vol. 16/17. p.76
- Page 1 and 2:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁSFACUL
- Page 3 and 4:
3Goiânia2006MARIA MARTHA LUÍZA CI
- Page 5 and 6:
5AGRADECIMENTOSÀ professora e orie
- Page 7 and 8:
7RESUMOO objetivo deste trabalho é
- Page 9 and 10:
9LISTA DE TABELASNúmero Descriçã
- Page 11 and 12:
111. INTRODUÇÃORetratar a histór
- Page 13:
13Ou seja, que outros discursos tê
- Page 16 and 17:
16especificidades da fundação da
- Page 18 and 19:
18movimento de imagens e reflexões
- Page 20 and 21: 20discurso representativo alerta pa
- Page 22 and 23: 22As referências teóricas sobre e
- Page 24 and 25: 24O momento da globalização apres
- Page 26 and 27: 26aproximadamente 34% do PIB. Diant
- Page 28 and 29: 28Holly Ackerman, que aspiravam con
- Page 30 and 31: 30da cultura cubana tem sido criar
- Page 32 and 33: 32perderam seus bens e capitais e b
- Page 34 and 35: 34acolhimento da produção narrati
- Page 36 and 37: 36da identidade cultural cubana par
- Page 38 and 39: 38Tabela 1: Fundadores da Revista E
- Page 40 and 41: 40de la diáspora y otros especiali
- Page 42 and 43: 422.4. JESÚS DÍAZ E SUA ÉPOCAA v
- Page 44 and 45: 44ilustrar a presença dessa concep
- Page 46 and 47: 46aspiravam seus colaboradores. Mas
- Page 48 and 49: 48Outro fator relevante para sua de
- Page 50 and 51: 50As tabelas abaixo mostrarão o qu
- Page 52 and 53: 52Tabela 2.2: Colaboradores Cubanos
- Page 54 and 55: 54sociedad una de sus principales l
- Page 56 and 57: 56En nuestras páginas hallarán ca
- Page 58 and 59: 58VENEZUELA 3 0,60Total 499 100Font
- Page 60 and 61: 60GEÓGRAFO 1 0,20HISTORIADOR(A) 34
- Page 62 and 63: 62temas dos artigos levou à compre
- Page 64 and 65: 64De um modo geral, os dados acima
- Page 66 and 67: 66contexto cubano atual está regis
- Page 68 and 69: 68mediar uma representação cultur
- Page 72 and 73: 72intereses de la nación entera, n
- Page 74 and 75: 74Na perspectiva da chamada histór
- Page 76 and 77: 76que se repite (1989), explicita a
- Page 78 and 79: 78Nuestra aspiración es abrir una
- Page 80 and 81: 80várias histórias e culturas int
- Page 82 and 83: 82se a estigmatização de seu opos
- Page 84 and 85: 84efectiva mi gestión promoviendo
- Page 86 and 87: 86atitude fundamentalmente própria
- Page 88 and 89: 88“With the Cold War over and new
- Page 90 and 91: 90Gastón Baquero interessa como es
- Page 92 and 93: 923.2. EXÍLIO - A IDENTIDADE DO OU
- Page 94 and 95: 94territorial e identitário único
- Page 96 and 97: 96partir do movimento de emigrados
- Page 98 and 99: 98Enfim, o que está sendo ressigni
- Page 100 and 101: 100empreendimento limitador por que
- Page 102 and 103: 102Raul Rivero 159 expressa um outr
- Page 104 and 105: 104These formations have all been o
- Page 106 and 107: 106qualquer ameaça de um possível
- Page 108 and 109: 108En Cuba, cada escritor o artista
- Page 110 and 111: 110mais privada das emoções priva
- Page 112 and 113: 112Encuentro de la Cultura Cubana c
- Page 114 and 115: 114Em uma resenha produzida por Man
- Page 116 and 117: 116referem diretamente à experiên
- Page 118 and 119: 118mencionados. Há um trecho em se
- Page 120 and 121:
120...Cuba es un país gravemente e
- Page 122 and 123:
122Numa entrevista a Tomás Gutiér
- Page 124 and 125:
124categorias mais do que mencionar
- Page 126 and 127:
126diante da impossibilidade da qua
- Page 128 and 129:
128Essa correlação configura uma
- Page 130 and 131:
130segundo capítulo, também confi
- Page 132 and 133:
132incluido no conjunto de assinatu
- Page 134 and 135:
134Por cortesía de Eduardo Muñoz
- Page 136 and 137:
136confirmada pela carta de Jeanett
- Page 138 and 139:
138Na carta de Rolando Sánchez Mej
- Page 140 and 141:
140condenem seus antecessores, a cu
- Page 142 and 143:
1421960, e ainda adverte sobre o pe
- Page 144 and 145:
144finalidade elaborada para interp
- Page 146 and 147:
146inmejorable de información y do
- Page 148 and 149:
148Estoy interesado en completar mi
- Page 150 and 151:
150No dejen de publicar la verdad,
- Page 152 and 153:
152contrária às polaridades negat
- Page 154 and 155:
154expresión cultural cubana. ANDR
- Page 156 and 157:
156migratórios conduzem a uma aber
- Page 158 and 159:
158representar para a história de
- Page 160 and 161:
160destacou a repercussão que esta
- Page 162 and 163:
162Soy un poeta y ensayista cubano
- Page 164 and 165:
164números de Encuentro y como es
- Page 166 and 167:
1665. CONCLUSÃOA conclusão de um
- Page 168 and 169:
168contempla as diferenças nas ins
- Page 170 and 171:
170O intercâmbio de idéias aproxi
- Page 172 and 173:
172__________. El fin de otra ilusi
- Page 174 and 175:
174MONREAL, Pedro. Las remesas fami