76que se repite (1989), explicita a densi<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l <strong>cuba</strong>na pelo entrecruzamento ou choqueentre várias visões de mundo, <strong>sob</strong>retudo a africana e espanhola. Em seu artigo “La <strong>cultura</strong><strong>cuba</strong>na hacia el nuevo milenio” publicado na Encuentro de la Cultura Cubana, volume 20,eluci<strong>da</strong> esta discussão <strong>sob</strong>re o lugar e o t<strong>em</strong>po que a <strong>cultura</strong> ocupa na história de um povo:...me gustaría hacer mías las palabras de Fernand Braudel con relación alsist<strong>em</strong>a de la <strong>cultura</strong>, y éstas son, que de los cuatro sist<strong>em</strong>as en que pod<strong>em</strong>osestudiar los cambios de los pueblos del mundo – es decir, el político, elsocial, el económico y el <strong>cultura</strong>l -, el que más se resiste a lastransformaciones es el sist<strong>em</strong>a <strong>cultura</strong>l. ... Si nos sentimos <strong>cuba</strong>nos es,precisamente, porque el ajiaco es un plato que existe entre nosotros desde elsiglo XVI. Así, pod<strong>em</strong>os pensar que por mucho que cambien los escenariospolíticos, sociales y económicos de Cuba, tanto el ajiaco como el culto a laVirgen de la Cari<strong>da</strong>d, como la conga, el bolero, la rumba y la coexistencia dela religión católica con las creencias afro<strong>cuba</strong>nas, continuarán presentes ennuestro mapa <strong>cultura</strong>l. 101E, quaisquer que sejam as alternativas políticas que se apresent<strong>em</strong> num processode transição, as expectativas sociais, <strong>em</strong> geral, elas são de negociação com os el<strong>em</strong>entosrepresentativos e criativos <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> <strong>em</strong> âmbito popular, acadêmico, artístico efun<strong>da</strong>mentalmente na relação entre si. A política, <strong>em</strong> situações de poder autoritário, dificulta adinâmica criativa dos el<strong>em</strong>entos <strong>cultura</strong>is, instrumentaliza-os e os submete <strong>em</strong> benefício deinteresses ideológicos circunstanciais. Mas é significativa a presença dos porta-vozes <strong>da</strong><strong>cultura</strong> na resistência política tanto espontânea, <strong>em</strong> sua dimensão popular, quanto articula<strong>da</strong>quando intelectualmente trabalha<strong>da</strong> na perspectiva de Gramsci, conforme foi discorrido noinício deste capítulo.Um dos principais focos discursivos <strong>da</strong> Encuentro de la Cultura Cubana é adesconstrução do imaginário binário que divide a população <strong>cuba</strong>na entre os que viv<strong>em</strong> naIlha e os que se encontram no exílio. O eixo desconstrutor desta suposta irreconciliávelcondição é a afirmação e preponderância do el<strong>em</strong>ento <strong>cultura</strong>l <strong>sob</strong>re as condições políticasautoritárias redutoras de idéias, posicionamentos e identi<strong>da</strong>des. Essa é uma concepçãoTomás Gutierrez Allea. A UNEAC (União de Escritores e Artistas Cubanos) pr<strong>em</strong>iou <strong>em</strong> 1969 sua coleção decontos, intitulado El escudo de hojas secas. Durante a déca<strong>da</strong> de 1970, viveu o não reconhecimento de sua<strong>sob</strong>ras dentro de Cuba, o contexto <strong>da</strong> oficiali<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l denomina<strong>da</strong> de quinquenio gris. Em 1980 se deslocoupara os EUA, onde ministrou cursos de literatura <strong>cuba</strong>na e caribenha <strong>em</strong> Amherst College, Massachusets e ondeviveu até os últimos dias de sua vi<strong>da</strong>. Benítez Rojo colaborou com a Encuentro desde sua fun<strong>da</strong>ção. O volume23 (2001-02) dedicou-lhe uma homenag<strong>em</strong> <strong>em</strong> vi<strong>da</strong> com a publicação de uma ent<strong>revista</strong> e vários artigos queanalisam suas obras literárias.101 ROJO, Antonio Benítez. “La <strong>cultura</strong> <strong>cuba</strong>na hacia el nuevo milenio”. Revista Encuentro… Madrid.Primavera de 2001. Vol.20. p.77
77presente na linha editorial <strong>da</strong> <strong>revista</strong>, <strong>em</strong> que a <strong>cultura</strong> seja o lugar de encontro de diversasexperiências criativas e, ain<strong>da</strong>, garanta o espaço à d<strong>em</strong>ocracia por meio <strong>da</strong> convivência edebate de diferentes tendências políticas. Segundo o que se apresenta de seus objetivos, aEncuentro de la Cultura Cubana acredita ser a <strong>cultura</strong> o caminho por onde as transformaçõessociais e inclusive políticas possam ser opera<strong>da</strong>s.Os editoriais deixam claro o propósito <strong>da</strong> <strong>revista</strong> <strong>em</strong> se posicionar além <strong>da</strong>spolêmicas dicotômicas entre ser<strong>em</strong> pró-Fidel os que permanec<strong>em</strong> na Ilha, ou anti-Fidel osque estão fora. Reflet<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> as circunstâncias <strong>em</strong> que a história se processa por esses<strong>em</strong>bates, situando a <strong>revista</strong> como outra força <strong>em</strong>ergente desse campo que não se submete àsideologias superpostas à dinâmica sócio-<strong>cultura</strong>l. Neste sentido, a <strong>revista</strong> esboça uma posturapolítica, pois proporciona às vozes <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> um espaço <strong>em</strong> que seus diferentes naipes façamcoro à identi<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l <strong>cuba</strong>na, presente tanto na Ilha quanto no exilio, e que se vê<strong>em</strong>hostiliza<strong>da</strong>s quando se diferenciam <strong>da</strong> ótica oficial revolucionária ou <strong>da</strong> perspectiva maisconservadora.O nome <strong>da</strong>do à <strong>revista</strong>, Encuentro de la Cultura Cubana, atenta para a simbologiadessa comuni<strong>da</strong>de que, por se situar no exílio, pretende materializar sua identi<strong>da</strong>de de algumamaneira além <strong>da</strong> fronteira geográfica nacional ou de uma visão de nacionali<strong>da</strong>de determina<strong>da</strong>por delimitação ideológica. A Encuentro de la Cultura Cubana, <strong>em</strong> suas entrelinhasdiscursivas, se inscreve no lugar simbólico de uma escrita, acenando a existência de sujeitosque representam a diferença, ou as diferenças, mas que dão continui<strong>da</strong>de à sua identi<strong>da</strong>de<strong>cultura</strong>l fora de seu país na relação com os que permanec<strong>em</strong> dentro. Esses sujeitostransformam sua identi<strong>da</strong>de <strong>em</strong> condições a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s ao exílio, estabelecendo outras leituras<strong>sob</strong>re nação, identi<strong>da</strong>de, exílio e migração, que são t<strong>em</strong>as freqüentes <strong>em</strong> seus artigos e muitointerligados.Gastón Baquero (1918-1997) 102 , considerado patriarca <strong>da</strong> poesia <strong>cuba</strong>na,colaborador <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> <strong>revista</strong>, traduz o sentido do termo “encuentro” que orienta estapublicação <strong>em</strong> seu primeiro volume:(...) Los encuentros de artistas, escritores y d<strong>em</strong>ás el<strong>em</strong>entos ligados a laactivi<strong>da</strong>d <strong>cultura</strong>l, ofrecen el más seguro y el mejor de los caminos. (...)102 Gastón Baquero nasceu <strong>em</strong> 1918, <strong>em</strong> Banes, antiga região oriental e atual província de Holguin. Fez parte dogrupo Orígenes junto a José Lezama Lima. Já nos primeiros meses <strong>da</strong> Revolução foi para o exílio <strong>em</strong> Madri,onde permaneceu até sua morte <strong>em</strong> 1997. Em 1991, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura na Espanha com apublicação de Po<strong>em</strong>as Invisibles. Em Cuba foram proibi<strong>da</strong>s suas publicações, e somente <strong>em</strong> 1994 foi convi<strong>da</strong>dopara uma Conferência na Universi<strong>da</strong>de de Havana para explanar <strong>sob</strong>re sua obra poética. Nos volumes 1 e 2 <strong>da</strong>Encuentro contêm artigos e po<strong>em</strong>as de Gastón Baquero, sendo que no segundo foi-lhe dedicado umahomenag<strong>em</strong> com uma ent<strong>revista</strong> realiza<strong>da</strong> por Efraín Rodríguez Santana
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