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cultura e política em cuba sob o prisma da revista - UFG

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79valores <strong>da</strong> concepção político-<strong>cultura</strong>l que a Revolução de 1959 impôs do “hom<strong>em</strong> novo”. Oconceito de “<strong>cultura</strong> única” não admite a existência e n<strong>em</strong> a convivência entre as diferenças.Estabelece-se um padrão único <strong>cultura</strong>l para que aquelas sejam invisibiliza<strong>da</strong>s ou elimina<strong>da</strong>s.Numa compreensão contextual, o editorial traz a visão de compartilhar as diferenças e não deafastá-las. Trata-se de uma alerta recorrente <strong>em</strong> diversos artigos, <strong>sob</strong>re a imag<strong>em</strong> de queaqueles que estão “fora” não são menos <strong>cuba</strong>nos que os que se encontram “dentro”. Segundoessa afirmação, ambos pod<strong>em</strong> contribuir ao “exame <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de nacional” e compõ<strong>em</strong> aidenti<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l <strong>cuba</strong>na <strong>em</strong> suas diferenças <strong>da</strong>s quais pretend<strong>em</strong> compartilhar, porém, não<strong>em</strong> sua unici<strong>da</strong>de. É uma estratégia discursiva que estrutura a visão de negociação quepermeia a linha editorial <strong>da</strong> <strong>revista</strong>.A compreensão de “<strong>cultura</strong> una” esboça<strong>da</strong> pelo editorial se aproxima <strong>da</strong>concepção de “comuni<strong>da</strong>de imagina<strong>da</strong>” de Benedict Anderson ao assim definir a nação comoespaço que comporta múltiplas falas que representam o modo como as pessoas pensam osseus locais e de como estão liga<strong>da</strong>s por símbolos, afeições e experiências comuns. SegundoAnderson, exist<strong>em</strong> “artefatos <strong>cultura</strong>is”, como a língua, que por meio dela “reconstitu<strong>em</strong>-se ospassados, imaginam-se soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>des, sonham-se futuros” 106 , assim como outros el<strong>em</strong>entos<strong>da</strong> <strong>cultura</strong>, a religião, a literatura, a música, as <strong>da</strong>tas com<strong>em</strong>orativas, a alimentação, os hábitosque aproximam as pessoas <strong>em</strong> torno dessa comuni<strong>da</strong>de imagina<strong>da</strong>. É pela “legitimi<strong>da</strong>de<strong>em</strong>ocional”, “fraterni<strong>da</strong>de”, “companheirismo profundo e horizontal” que uma nação é107concebi<strong>da</strong>. Dessa forma, a nação ou comuni<strong>da</strong>de imagina<strong>da</strong> é entendi<strong>da</strong> comorepresentação ou como produção discursiva. E, conforme Mikhail Bakhtin, todo discurso édialógico, pois s<strong>em</strong>pre um se encontra com o outro, e <strong>em</strong> todos os caminhos é viva suainteração. 108 Essa interação não pressupõe <strong>cultura</strong> monolítica, ou diálogo entre iguais, mas umcruzamento participativo <strong>da</strong>s diferenças. Na mesma direção Stuart Hall compreende asidenti<strong>da</strong>des <strong>cultura</strong>is como transição e “tradução” pelo deslocamento de fronteiras <strong>em</strong> que aspessoas são “dispersa<strong>da</strong>s” de suas origens, porém ele afirma:Essas pessoas retêm fortes vínculos com seus lugares de orig<strong>em</strong> e suastradições, mas s<strong>em</strong> a ilusão de um retorno ao passado.(...) Elas carregam ostraços <strong>da</strong>s <strong>cultura</strong>s, <strong>da</strong>s tradições, <strong>da</strong>s linguagens e <strong>da</strong>s histórias particularespelas quais foram marca<strong>da</strong>s. A diferença é que elas não são e nunca serãounifica<strong>da</strong>s no velho sentido, porque elas são, irrevogavelmente, o produto de106 ANDERSON, Benedict. Nação e Consciência Nacional. São Paulo. Editora Ática. 1989. p. 168107 Ibid<strong>em</strong>. p. 12, 16.108 BAKHTIN, Mikhail. Questões de Literatura e de Estética. A teoria do romance. São Paulo, Unesp/Hucitec,1988.

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