30<strong>da</strong> <strong>cultura</strong> <strong>cuba</strong>na t<strong>em</strong> sido criar significações diferenciadoras e explicativas fora de umcontexto de legali<strong>da</strong>de estatal. Trata-se de um contraponto à institucionalização <strong>da</strong> concepçãomaterialista <strong>da</strong> história, de uma ord<strong>em</strong> metafísica revolucionária que impõe a exclusão deoutras formas de identi<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l e política fora <strong>da</strong> concepção oficial.O inconformismo é típico <strong>da</strong> inquietação intelectual e, precisamente por isto,<strong>em</strong>erge <strong>em</strong> situações de aparente generali<strong>da</strong>de homogênea <strong>da</strong>s representações. Adverte umaexistência incomum dentro de uma ord<strong>em</strong> dominante – <strong>em</strong> que o ser é metafisicamenteconstruído para que todos o alcanc<strong>em</strong>. Mas ao se deparar com a condição anterior de um serantropológico, esta inquietação revela o ser impróprio e transgressor de qualquer nivelamentopolítico-<strong>cultura</strong>l. Sob este ponto de vista, o exílio <strong>cuba</strong>no, delimitado neste trabalho peladéca<strong>da</strong> de 1990, reage à tentativa de imposição de uma escrita padroniza<strong>da</strong> e uniformiza<strong>da</strong> <strong>da</strong>Revolução de 1959, resiste ao poder excessivo dos discursos oficiais <strong>em</strong> seu espaçoextraterritorial como também dentro de Cuba, d<strong>em</strong>arcando a heterogenei<strong>da</strong>de como presença<strong>da</strong> qual nenhum contexto histórico pode prescindir.Como ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong> presença dessa heterogenei<strong>da</strong>de, mesmo <strong>em</strong> momentos deimposição de uma homogenei<strong>da</strong>de política, a história de Cuba t<strong>em</strong> mostrado, direta ouindiretamente, a capaci<strong>da</strong>de de inserção de seus intelectuais <strong>em</strong> diferentes contextos. Apresença de periódicos e <strong>revista</strong>s ao longo de sua história, especialmente a partir do séculoXX, com o advento <strong>da</strong> República, test<strong>em</strong>unha a influência na produção de outros imagináriosque acenam uma possibili<strong>da</strong>de nova de compreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>cuba</strong>na e de vivenciar sua<strong>cultura</strong>. Era uma maneira de trazer a <strong>cultura</strong> como categoria diferenciadora na condução doprocesso político <strong>em</strong> geral, tanto no posicionamento social crítico, quanto <strong>em</strong> situações dereprodução do poder político.Apenas para mencionar algumas destas publicações, durante a déca<strong>da</strong> de 1920,com to<strong>da</strong> increduli<strong>da</strong>de dos escritores diante dos probl<strong>em</strong>as de ord<strong>em</strong> política, foi edita<strong>da</strong> aRevista de Avance, como resultado <strong>da</strong> enti<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Junta Nacional de Renovação Cívicadirigi<strong>da</strong> por Fernando Ortiz, que discorria <strong>sob</strong>re uma posição contra a ditadura de GerardoMachado. Duas déca<strong>da</strong>s depois foi lança<strong>da</strong> a Revista Orígenes (1944-1956), encabeça<strong>da</strong> porJosé Lezama Lima, que representou uma geração de escritores nota<strong>da</strong>mente niilistas (CintioVitier, Eliseo Diego, Fina García Marruz e Octavio Smith), desafetos com os percalçospolíticos, e que, no entanto, não deixaram de traduzir a intenção de que é a poesia, pela suaimaginação e criativi<strong>da</strong>de, a forma política ideal para reger a ci<strong>da</strong>de, segundo Rafael Rojas. 2828 ROJAS, Rafael. El intelectual y la revolución. Contrapunteo <strong>cuba</strong>no del nihilismo y el civismo. MadriPrimavera/Verano de 2000. Vol. 16/17. pp. 80-88
31De 1959 a 1961 foi editado o s<strong>em</strong>anário Lunes de Revolución, dirigido porGuillermo Cabrera Infante e Pablo Armando Fernández, que se constituía no supl<strong>em</strong>ento<strong>cultura</strong>l do jornal Revolución (1959-1965). A <strong>revista</strong> Casa de las Américas, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>em</strong> 1960dentro do princípio de se constituir <strong>em</strong> um centro <strong>cultura</strong>l de Cuba e <strong>da</strong> América Latina, erepresentar a <strong>cultura</strong> revolucionária, continua sua publicação até o momento atual. Em 1966foi criado o supl<strong>em</strong>ento literário El Caimán Barbudo <strong>da</strong> União dos Jovens Comunistas,fechado no ano seguinte por motivos ideológicos. Pensamento Crítico, publicação liga<strong>da</strong> aoDepartamento de Filosofia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Havana, foi fun<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>em</strong> 1967 e dirigi<strong>da</strong> porJesús Díaz.Outra publicação importante é a do grupo literário <strong>cuba</strong>no no exílio <strong>em</strong> Miami,pertencente à “generación del Mariel” que surgiu <strong>em</strong> 1983 com o nome Mariel. Estadenominação se refere ao momento <strong>em</strong> que grande parte de seus editores correspondeu aoêxodo massivo de Cuba aos Estados Unidos <strong>em</strong> 1980 pelo porto de Mariel. A fuga do regimecastrista marcará sua narrativa de busca pela liber<strong>da</strong>de no exílio. De 1983 a 1985 seu conselhoeditorial era composto por Reinaldo Arenas, Juan Abreu e Reinaldo García Ramos. Numsegundo momento, <strong>em</strong> 1986, sua direção foi acresci<strong>da</strong> <strong>da</strong> participação de Márcia Morgado eLydia Cabrera. Essas publicações foram cita<strong>da</strong>s apenas para ilustrar a presença dosintelectuais, por meio do veículo comunicativo que dispõ<strong>em</strong>, na intervenção <strong>em</strong> diferentescontextos históricos, como críticos, contestadores e até de colaboradores com o status quo.Mostram ain<strong>da</strong> que a diversi<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l e política <strong>em</strong> Cuba são constitutivas de seu processohistórico e se afirmam como el<strong>em</strong>ento de resistência <strong>em</strong> situações de poder monolítico.O surgimento <strong>da</strong> <strong>revista</strong> Encuentro de la Cultura Cubana está inserido nocontexto <strong>da</strong>s características do exílio <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, <strong>em</strong> que os intelectuais estãoenvolvidos na discussão <strong>em</strong> superar o binarismo dentro/fora próprio <strong>da</strong>s gerações <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>santeriores do período pós-revolucionário, mesmo considerando a heterogenei<strong>da</strong>de de posiçõespresente no exílio <strong>em</strong> seus diferentes momentos.Uma breve revisão histórica do exílio <strong>cuba</strong>no dos primeiros anos <strong>da</strong> Revolução de1959 até os anos de 1990, talvez esclareça o que o exílio mais recente se diferencia dosanteriores. É importante esclarecer que nenhuma <strong>da</strong>s gerações de exilados pós-revolução podeser caracteriza<strong>da</strong> de forma homogênea, ca<strong>da</strong> período traz diferenças na sua composição, quenão cabe detalhar aqui, entretanto será traçado apenas o essencial que caracteriza o perfilpolítico do exílio <strong>cuba</strong>no ao longo desses anos de Revolução.Madeline Câmara pontua a primeira geração de exilados dos anos de 1960 comosendo marca<strong>da</strong> pelos representantes dos antigos proprietários e homens de negócios que
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