923.2. EXÍLIO – A IDENTIDADE DO OUTROAs narrativas do exílio nos mostram como conceitos de identi<strong>da</strong>de, exílio e naçãose entrelaçam compondo uma mesma história. Grande parte dos autores <strong>da</strong> Encuentro de laCultura Cubana vive o contexto do exílio, tendo que se incorporar aos sentidos de outri<strong>da</strong>de,ou aos outros modos de viver <strong>em</strong> relação ao seu próprio, <strong>da</strong> mesma maneira um novo sentidode nacionali<strong>da</strong>de. Pois, o nacionalismo atrelado ao oficialismo revolucionário engendrou umacondição de exílio interno e externo na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que as necessi<strong>da</strong>des de criar, produzir e seexpressar fora <strong>da</strong> equação nação igual à revolução eram manifestas e reprimi<strong>da</strong>s. BenedictAnderson assim analisa a revolução e o nacionalismo oficial na condição de poder do Estado:...o modelo do nacionalismo oficial adquire relevância, acima de tudo, nomomento <strong>em</strong> que os revolucionários são b<strong>em</strong>-sucedidos <strong>em</strong> assumir ocontrole do Estado, e, pela primeira vez, encontram-se <strong>em</strong> condições deutilizar o poder do Estado na busca de suas visões. A relevância é tantomaior na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que mesmo os revolucionários mais resolutamenteradicais her<strong>da</strong>m, até certo ponto, o Estado do regime que tombou. 136Ao assumir<strong>em</strong> o poder de Estado, segundo Benedict Anderson, os revolucionáriosadquir<strong>em</strong> as condições de determinar<strong>em</strong> sua visão de nação à socie<strong>da</strong>de, reproduzindo “atécerto ponto”, métodos utilizados pelo Estado autoritário que lhe antecedeu e o derrubou. Énessa direção que regimes autoritários lançam mão do nacionalismo <strong>em</strong> defesa do território,de sua ideologia e do poder e projetam a negação do diferente, <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong>de <strong>em</strong> que seencontra o exilado, marcado como aquele que não se enquadra na visão imposta pelo Estado.Não se afinar às condições revolucionárias dentro do território nacional significa nãopertencer à nação. É encontrar-se deslocado no próprio país. A identi<strong>da</strong>de nega<strong>da</strong> noterritório de orig<strong>em</strong> é tão ou mais asfixiante do que buscá-la <strong>em</strong> outros espaços numa tentativade acolhi<strong>da</strong> por outras <strong>cultura</strong>s, mesmo que estas últimas apresent<strong>em</strong> situações deestranhamento. José Triana menciona essa dupla condição do exílio:En Cuba también viví en el exilio. El regreso no es una cosa que me seduzcatanto porque si<strong>em</strong>pre estamos exilados. Hay un exilio terrible... en el cualvivimos, aun cuando est<strong>em</strong>os dentro del país.Exilarse no es fácil. Es, uno, revisión de tu pasado; dos, ¿qué es lo que túquieres, qué vas a hacer con tu vi<strong>da</strong>? Tienes que responsabilizarte con todolo vivido anteriormente y al mismo ti<strong>em</strong>po instalar nuevas perspectivas para136 ANDERSON, Benedict. Nação e Consciência Nacional. Editora Ática. Sao Paulo. 1989. p.174
93ti y ver cómo te vas desarrollando lentamente dentro de una socie<strong>da</strong>de queno te ha pedido que tú estés ahí, en la cual eres un extraño. 137Radhis Curí Quevedo no ensaio <strong>sob</strong>re a literatura <strong>cuba</strong>na no exílio traça oisolamento e a melancolia <strong>em</strong> que o escritor envere<strong>da</strong> <strong>em</strong> seu exílio interno e busca na poesiao escape <strong>da</strong> marginalização de seu entorno social. Ele l<strong>em</strong>bra José Lezama Lima como aexpressão desse exílio interior pela incompreensão de sua obra dentro de Cuba. Radhis CuríQuevedo expõe sua maneira de entender o exílio interior:Hay otro exilio to<strong>da</strong>vía más severo, el exilio interior: esa clase deensimismamiento fatídico en el que cae el poeta dentro de su propio país.Para esta poesía no existe ni ti<strong>em</strong>po ni espacio. El poeta está sumido en otrolugar infinitamente misterioso. La equivalencia lírica se valora entonces enla sensación de asfixia, en el creerse sitiados en su propio entorno y en elhecho de que la poesía, a pesar de la censura, es la única vía posible deescape. 138Por outro lado, o outro exílio que provoca a separação do sujeito de seu país,confere uma a<strong>da</strong>ptação complexa do exilado, porque carrega consigo a responsabili<strong>da</strong>de coma história de seu país, com o que foi produzido individual e socialmente e com o que se t<strong>em</strong>para oferecer <strong>em</strong> outros países. Pois como to<strong>da</strong> condição de <strong>em</strong>igrado, as relações psíquicasde trabalho e de sociabili<strong>da</strong>de são postas a um novo aprendizado. E o exílio traz ocompromisso que o sujeito, como indivíduo e m<strong>em</strong>bro de uma <strong>cultura</strong>, possui com seupassado, seu presente e as expectativas que as novas relações sociais serão forma<strong>da</strong>s, muito<strong>em</strong> função de seu posicionamento político no país de orig<strong>em</strong>. Será, porém, mais observado noterritório do exílio quanto à sua <strong>sob</strong>revivência e atuação junto à nova comuni<strong>da</strong>de.O exílio, ain<strong>da</strong> com todos os sacrifícios que impõe aos que recorr<strong>em</strong> a ele,dimensiona outros territórios, rompe com o limite do território nacional, desloca fronteirassimbólicas num processo de extensão e trânsito de identi<strong>da</strong>des <strong>cultura</strong>is. Para Ivan de la Nuez,“los <strong>cuba</strong>nos en los últimos 40 años han cancelado el contrato entre <strong>cultura</strong> nacional – seaesto lo que sea – y territorio.” 139 O que quer dizer que há uma transterritoriali<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l<strong>cuba</strong>na presente no mapa mundial que dissolve os discursos fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> nação como centro137TRIANA, José. Entrevisto por Christilla Vasserot. Si<strong>em</strong>pre fui y seré un exiliado. Revista Encuentro…Madrid. Primavera / Verano de 1997. Vol.4/5. pp.42-44138QUEVEDO, Radhis Curí. Destierros y exilios interiores. Revista Encuentro…. Madrid. Otoño de 1999.Vol.14. p. 180139NUEZ, Ivan de la. El destierro de Calibán. Revista Encuentro…. Madrid. Primavera/Verano de 1997.Vol.4/5. p. 139
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