34acolhimento <strong>da</strong> produção narrativa <strong>da</strong> intelectuali<strong>da</strong>de <strong>cuba</strong>na, resistindo nestes espaços de“dentro” e de “fora” <strong>da</strong> Ilha, na perspectiva de uma recriação autônoma de sua <strong>cultura</strong>.A idéia de resistência pode ser útil para esboçar o movimento dos intelectuais quetraduz<strong>em</strong> a história de Cuba e simbolizam a resposta <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> à reali<strong>da</strong>de material <strong>da</strong>scondições econômicas, políticas e objetivas. Não se trata de uma resistência nos moldestradicionais <strong>da</strong> história projeta<strong>da</strong> por uma organização explicitamente político-partidária, mastraça<strong>da</strong> por um posicionamento crítico, pela ênfase nos el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> que a <strong>cultura</strong> manifestaafirmativamente sua anteriori<strong>da</strong>de e independência ao poder político dominante.Sobre a relação entre <strong>cultura</strong> e política, Edward W. Said afirma que “... a <strong>cultura</strong> éuma espécie de teatro <strong>em</strong> que várias causas políticas e ideológicas se enfrentam mutuamente.Longe de ser um plácido reino de refinamento apolíneo, a <strong>cultura</strong> pode até ser um campo debatalha onde as causas se expõ<strong>em</strong> à luz do dia e lutam entre si...” 34 .Homi K. Bhabha também ressalta que: “As formas de rebelião e mobilizaçãopopular são freqüent<strong>em</strong>ente mais subversivas e transgressivas quando cria<strong>da</strong>s através depráticas <strong>cultura</strong>is oposicionais”. 35Num sentido mais amplo, a <strong>cultura</strong> pode ser um campo de subversão política.Tanto <strong>em</strong> sua dimensão antropológica – preservação de cultos religiosos diversos, tradiçõeslingüísticas de grupos étnicos, movimentos musicais, como o jazz, o reggae, a salsa, o samba,enfim, fenômenos especificamente <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> popular que resist<strong>em</strong> a uma situação dominante– quanto <strong>em</strong> sua dimensão de um saber teórico, produzido pela argumentação histórica,sociológica, econômica, política, literária e artística. É mais significativa ain<strong>da</strong> quando umatransita entre a outra – e não <strong>sob</strong>re a outra – fazendo circular a argumentação popular e ateórica, s<strong>em</strong> que ambas se oponham, ou que uma busque sua preponderância <strong>sob</strong>re a outra.Portanto, a <strong>cultura</strong> tanto <strong>em</strong> sua visão popular quanto teórica acena para um t<strong>em</strong>po e lugar deinteração e relação discursiva onde se constro<strong>em</strong> representações políticas significativas numcontexto de transformação social.Bhabha discute a relação entre teoria e política, colocando <strong>em</strong> evidência e comoponto de parti<strong>da</strong> no seio desta o paradigma do hibridismo <strong>cultura</strong>l e histórico do mundo póscolonial.Este hibridismo situa-se no intervalo <strong>da</strong>s polari<strong>da</strong>des entre a teoria e a política.Concebe uma visão dialógica do político <strong>em</strong> que o “evento <strong>da</strong> teoria torna-se a negociação deinstâncias contraditórias e antagônicas, que abr<strong>em</strong> lugares e objetivos híbridos de luta e34 SAID, Edward W. Cultura e Imperialismo. Introdução. Companhia <strong>da</strong>s Letras. São Paulo. 1995. p.1435 BHABHA, Homi K. O Local <strong>da</strong> Cultura. O Compromisso com a Teoria. Ed. UFMG. Belo Horizonte. 2001.p.44
35destro<strong>em</strong> as polari<strong>da</strong>des negativas entre o saber e seus objetos, e entre a teoria e a razãoprático-política.” 36 A importância do fenômeno real e conceitual do hibridismo reside <strong>em</strong> seuimperativo histórico na “rearticulação, ou tradução de el<strong>em</strong>entos que não são n<strong>em</strong> o Um...n<strong>em</strong> o Outro..., mas algo a mais, que contesta os termos territórios de ambos.”37 (Grifo doautor)O princípio de “negociação política” <strong>em</strong> Bhabha reforça sua crítica às posturas de“negação” <strong>sob</strong>re representações opostas que, <strong>em</strong> geral, vêm acompanha<strong>da</strong>s de moralismopolítico, resultando num traço de negação <strong>cultura</strong>l e de separação <strong>da</strong>s diferenças <strong>cultura</strong>is. Osaber só é político se fun<strong>da</strong>mentado no reconhecimento do trânsito dos el<strong>em</strong>entos discursivosde “alteri<strong>da</strong>de”. 38 Nessa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> não há binarismo entre teoria e política, representaçãopolítica e ação de massas, <strong>cultura</strong> produzi<strong>da</strong> intelectualmente e <strong>cultura</strong> popular, porém ummovimento de transferência de significados.É importante frisar que os discursos enunciados pela literatura, por ensaioshistóricos, etnográficos, antropológicos, pela dramaturgia, cin<strong>em</strong>a, teatro, música, artesplásticas, não significam uma neutrali<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l, o que poderia resultar na legitimação <strong>da</strong>spolarizações ou <strong>da</strong>s posições antitéticas. Mas busca suplantar discursos dicotômicos quesimplificam a reali<strong>da</strong>de <strong>em</strong> tergiversações particularistas e fragmentárias do campoheterogêneo do processo histórico <strong>em</strong> que, muitas vezes, os pólos extr<strong>em</strong>os eleg<strong>em</strong> para si acapaci<strong>da</strong>de de homogeneizar, do ponto de vista <strong>da</strong> sua ver<strong>da</strong>de, as diferenças <strong>cultura</strong>is. Aênfase na resistência a partir do discurso afirmativo do que produz o imaginário e a <strong>cultura</strong> deuma nação pode trazer alcances históricos e teóricos relevantes para o conhecimento destamesma <strong>cultura</strong>, b<strong>em</strong> como para um avanço político no processo de transformação social.A edição <strong>da</strong> Encuentro de la Cultura Cubana se dá neste contexto <strong>da</strong>extraterritoriali<strong>da</strong>de, nos diferentes espaços nacionais que habitam os exilados, <strong>em</strong>igrados e osde “dentro” numa tentativa de aglutiná-los <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> escrita. Tal escrita t<strong>em</strong> a presença <strong>da</strong>angústia <strong>em</strong> se a<strong>da</strong>ptar ao exílio e, ao mesmo t<strong>em</strong>po, a relação enriquecedora entre aidenti<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l dos exilados e a <strong>cultura</strong> de acolhi<strong>da</strong>, retratando a condição transnacionalde vi<strong>da</strong> e sua reflexão <strong>sob</strong>re as contradições do país de orig<strong>em</strong>. A <strong>revista</strong>, portanto, concretizaa organização dessa <strong>cultura</strong>, traduzi<strong>da</strong> por intelectuais que buscam a narrativa do diálogoentre os que estão “dentro” e os que estão “fora” <strong>da</strong> Ilha, trazendo a oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> releitura36 Ibid<strong>em</strong>. p. 5137 Ibid<strong>em</strong> p. 5538 Ibid<strong>em</strong>. p. 49
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