Livro Democracia e Politicas Publicas Anticorrupcao FINAL
A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.
A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.
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CAPÍTULO 2 CORRUPÇÃO E DEMOCRACIA NO BRASIL: EXPLORANDO CONEXÕES, TENDÊNCIAS E CONSEQUÊNCIAS<br />
que a sustentam quanto perpetuando um ciclo vicioso que prejudica processos democráticos. Em suma,<br />
enquanto uma democracia amadurece, a corrupção se adapta e assume diferentes manifestações<br />
(DRAPALOVA, 2019; TREISMAN, 2000; SUNG, 2004; ROCK, 2009).<br />
Esses três tópicos demonstram claramente como as conexões entre “corrupção” e “democracia”<br />
são complexas e extremamente intrincadas. Tais tópicos fornecem insights significativos a respeito<br />
da manifestação da corrupção na democracia brasileira. Partindo dessas conexões, a próxima seção<br />
explora a relevância do caso brasileiro ao ressaltar argumentos específicos e apresentar algumas<br />
tendências pertinentes que o país experimentou historicamente com relação à corrupção, em particular<br />
nas últimas décadas do período republicano.<br />
2 A RELEVÂNCIA DO CASO BRASILEIRO<br />
A importância do Brasil enquanto estudo de caso pode ser descrita por meio de quatro argumentos.<br />
Em primeiro lugar, vale destacarmos que estamos diante de um país cuja cultura e identidade<br />
costuma ser (erroneamente) considerada “naturalmente corrupta”. Ao criticar e condenar a existência<br />
de uma suposta “cultura de impunidade” que permeia diferentes setores das estruturas governamentais,<br />
corporativas e sociais no país, muitos são aqueles que interpretam o famoso “Jeitinho Brasileiro”<br />
tanto como uma violação das normas sociais quanto como corrupção (FERREIRA et al., 2012). Mediante<br />
uma forte crença a respeito de uma capacidade supostamente inerente de brasileiros para flexibilizar<br />
regras e regulamentos, o uso da expressão “Jeitinho Brasileiro” é utilizado para se referir tanto a situações<br />
cotidianas onde brasileiros conseguem descobrir formas criativas de solucionar controvérsias<br />
quanto como uma espécie de característica cultural brasileira associada à corrupção (AIRES; MELO,<br />
2015; BARBOSA, 2005). Entender a verdadeira complexidade por trás da corrupção no Brasil é, nesse<br />
sentido, fundamental para desmistificar estas concepções baseadas em preconceitos e, muitas vezes,<br />
enraizadas na própria descrença civil com relação ao cenário político no Brasil.<br />
Em segundo lugar, a pertinência do caso brasileiro também pode ser reconhecida graças as<br />
similaridades e diferenças que o país possui em comparação ao restante da América Latina diante<br />
do tema da corrupção. Isto porque, seguindo tendências regionais, o Brasil tem enfrentado vários<br />
casos nos quais o governo, instituições estatais, partidos políticos, corporações públicas e privadas,<br />
elites sociais e organizações criminosas fizeram (e permanecem) parte das mais diversas formas de<br />
esquemas de corrupção (ROTBERG, 2019; ROSEN et al., 2019; ROSEN; KASSAB, 2020). No entanto,<br />
diferentemente de outros países na região, há sinais de progresso e de um compromisso maior com<br />
a transparência e a responsabilização por condutas corruptas que tornam o contexto brasileiro único<br />
– para além da própria grandeza na escala dos casos recentes de corrupção, é claro. Afinal, apesar<br />
dos escândalos de corrupção, houve melhorias substanciais em seus marcos legais e institucionais<br />
de combate à corrupção nas últimas décadas, particularmente entre 1988 e 2013 (ARANHA, 2015).<br />
DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS ANTICORRUPÇÃO 26