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Livro Democracia e Politicas Publicas Anticorrupcao FINAL

A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.

A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.

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CAPÍTULO<br />

5<br />

Luciano da Ros 1<br />

ACCOUNTABILITY E CONTROLE<br />

DEMOCRÁTICO DO PODER<br />

JUDICIÁRIO NO BRASIL<br />

INTRODUCÃO<br />

A relação entre corrupção e Poder Judiciário no Brasil não é nova, mas ganhou destaque recente<br />

como resultado de investigações criminais que geraram prisões e condenações de diversas autoridades<br />

políticas nacionais de relevo. Exemplares paradigmáticos dessa dinâmica foram o julgamento<br />

do escândalo do Mensalão e, sobretudo, a Operação Lava Jato. Não à toa, ambos eventos receberam<br />

significativa atenção da literatura especializada (MICHENER e PEREIRA, 2016; ARANTES, 2018;<br />

RODRIGUES, 2020; LAGUNES e SVEJNAR, 2020; DA ROS e TAYLOR, 2022; KERCHE e MARONA, 2022;<br />

GONZALEZ-OCANTOS et al., 2023).<br />

Na dinâmica examinada por esses trabalhos, o Poder Judiciário é compreendido essencialmente<br />

como um agente de accountability – conceito amplamente definido como o processo de prestação<br />

de contas que enseja a possibilidade de responsabilização de agentes públicos (SCHEDLER, 1999).<br />

Todavia, sendo o Poder Judiciário também integrado por agentes públicos, também ele pode e deve<br />

ser objeto de accountability. Mesmo que o Poder Judiciário seja um poder independente, como os<br />

demais, essa independência não é absoluta, devendo também ele se submeter ao sistema de freios<br />

e contrapesos típico de uma democracia liberal (DA ROS e TAYLOR, 2021).<br />

O propósito deste capítulo é realizar uma breve introdução desse tema, que é simultaneamente<br />

amplo e pouco explorado. Opera-se, assim, uma inversão em relação aos estudos recentes, passando-se<br />

da análise do Poder Judiciário como agente de accountability à análise do Poder Judiciário como objeto de<br />

1 Professor adjunto do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde atualmente exerce o cargo de<br />

Coordenador de Pesquisa. É doutor em Ciência Política pela University of Illinois, Chicago, mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande<br />

do Sul (UFRGS) e bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela UFRGS. Realizou pós-doutorado na UFRGS e foi professor adjunto do seu Departamento de<br />

Ciência Política. Atualmente, é um dos coordenadores da Área Temática “Política, Direito e Judiciário” da Associação Brasileira de Ciência Política e diretor da<br />

Regional Sul da mesma associação. Atua como pesquisador no Núcleo de Estudos sobre Comportamento e Instituições Políticas (NECIP) da UFSC e no Grupo<br />

de Pesquisa Instituições Políticas Comparadas (IpoC) da UFRGS. É bolsista de produtividade do CNPq (nível 2) desde 2023. Realiza pesquisa nas áreas de<br />

ciência política e políticas públicas, com ênfase na análise de instituições do sistema de justiça e de controle externo e interno da administração pública.<br />

DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS ANTICORRUPÇÃO 59

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