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Livro Democracia e Politicas Publicas Anticorrupcao FINAL

A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.

A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.

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CAPÍTULO 7 TRANSPARÊNCIA E DEMOCRACIA INTERNA DOS PARTIDOS POLÍTICOS<br />

mais suscetíveis à corrupção como característica “endêmica” (2010, p. 8420). A inclinação do eleitorado<br />

ao personalismo também contribuiu para “uma grande dificuldade de diferenciar a maior parte das plataformas<br />

das agremiações, associada a muita volatilidade em relação à filiação partidária” (Issa, 2022, p.3).<br />

Em síntese, associando-se a flexibilização da fidelidade partidária e as tendências personalistas<br />

da política brasileira – inscritas sobretudo num padrão regional –, as dificuldades para compreender as<br />

ideologias partidárias também contribuíram, no contexto da proliferação das agremiações no país após<br />

a promulgação da Constituição de 1988, para o agravamento da perda de prestígio que as organizações<br />

partidárias sofrem desde então, sendo certo que há grande quantidade de partidos que, a rigor,<br />

praticam agendas semelhantes nas coalizões que integram, por vezes em total detrimento do conteúdo<br />

dos programas partidários e das ideologias neles declaradas. Esta falta de clareza sobre as ideologias<br />

comuns entre membros dos partidos, em um cenário de sucessivos escândalos de corrupção, reforça<br />

a imagem de que a política partidária se concentra única e exclusivamente em interesses eleitorais<br />

e patrimoniais, prescindindo dos ideais políticos subscritos pelas pessoas filiadas às agremiações.<br />

Além disso, o regramento implantado após a redemocratização favoreceu a criação de numerosos<br />

partidos, ao produzir incentivos a exemplo da distribuição mínima de recursos do Fundo Partidário,<br />

entabulando um “ciclo vicioso de fragmentação” (Issa, 2022, p. 7) no qual as siglas mais eleitoralmente<br />

expressivas se associam a outras, consideradas “menos competitivas”, para o fim de angariar apoio<br />

e recursos, além de ampliar sua fatia na divisão do tempo de que desfrutam na propaganda eleitoral<br />

obrigatória em concessões de TV e radiodifusão.<br />

A fragmentação política, da maneira descrita, evidencia que há fragilidades no sistema partidário<br />

que precisam ser compreendidas e sanadas, ainda que se reconheçam todos os avanços na<br />

qualidade da democracia brasileira desde a transição do período imperial ao republicano. Por outro<br />

lado, salienta-se que tais fragilidades não fazem com que o regime democrático deixe de ser uma<br />

conquista social e jurídico política que merece ser preservada e aprimorada, não devendo as críticas<br />

aos governos e às agremiações contaminar a percepção de que a democracia é preferível aos regimes<br />

autoritários e oligárquicos em nenhum sentido.<br />

Para além disto, nota-se que os problemas endógenos – a exemplo do descumprimento de<br />

programas, a debilidade da fidelidade partidária e os desafios frente à cultura política personalista e<br />

clientelista – ampliam na sociedade a percepção de que, enquanto instituições democráticas, as agremiações<br />

não estão realizando suas funções adequadamente, contribuindo para erosão das percepções<br />

em relação ao regime democrático.<br />

Dados do mais recente relatório do Latinobarômetro revelam, nesta toada, que apenas 40% da<br />

população considera a democracia preferível a qualquer outra forma de governo, em contraste com<br />

um contingente de 11% que afirmam que um regime autoritário pode ser preferível, o que somado à<br />

proporção de 36% de indiferentes, supera em 7 pontos porcentuais aqueles que afirmam seguramente<br />

DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS ANTICORRUPÇÃO 97

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