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Livro Democracia e Politicas Publicas Anticorrupcao FINAL

A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.

A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.

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CAPÍTULO 3 ACESSO À INFORMAÇÃO, DIREITO À MEMÓRIA E DITADURA MILITAR: O CASO DA CORRUPÇÃO AO LONGO DO REGIME DE 1964<br />

No setor de obras, uma prática que deforma as disputas é a chamada ‘concorrência dirigida’.<br />

É comum entre os empreiteiros, assim que um edital é publicado, ocorrer a pergunta: Quem é o dono<br />

desta? Trata-se da vitória do lobby e não da competência. Este fato, no Brasil dos últimos anos, é tão<br />

verdadeiro, que levou a uma enorme concentração de obras nas mãos de somente quatro macroempresas.<br />

São as que detêm o mais eficiente lobby. 38<br />

O dirigente da associação se refere às barrageiras (as grandes empreiteiras – Camargo Corrêa,<br />

Andrade Gutierrez, Odebrecht e Mendes Júnior) e vociferou em outro artigo, escrito após a lei de<br />

1992: “As empresas que mais cresceram no país ultimamente não foram as de melhor capacidade<br />

operacional, porém as que melhor souberam corromper.” 39<br />

A crítica é generalizada entre os pequenos empresários. Bernardino Pimentel Mendes, do<br />

Instituto de Engenharia, reclamava da “excessiva criatividade dos editais [...] preparados pelas firmas<br />

de consultores” e afirmava não crer na racionalização das concorrências, dado que “[p]arece que<br />

existem pessoas interessadas em manter a situação no nível que se encontra” 40 . Editorial da revista<br />

O Empreiteiro destacava as concorrências como “meros atos formais” 41 e o empreiteiro Horácio Ortiz<br />

se referiu a “pseudo-concorrências”:<br />

Tenho denunciado as grandes marmeladas que se verificam no estado.<br />

[...] pseudo-grandes e urgentíssimas obras, cujas necessidades, apoiadas em dados<br />

estatísticos, projeções, todos eles manipulados com o objetivo de exigir o empate de<br />

enormes recursos em serviços dispensáveis. Basta ver que o acordo nuclear prevê a<br />

aplicação de 30 a 40 bilhões em obras absolutamente não urgentes. Aliás, ele já começou<br />

de uma forma obscura, porque não houve concorrência para a construção de Angra II, o<br />

que provavelmente vai se repetir na construção das outras usinas. 42<br />

Ortiz acusava as grandes empresas, com seu parque produtivo de equipamentos, de criar<br />

“necessidades” de obras, como a do aeroporto de Guarulhos.<br />

Outros casos expressam a situação de “editais sujos” e “concorrência dirigida”, sendo criticados<br />

por empresários marginalizados das licitações. Henrique Guedes, da Apeop (Associação Paulista dos<br />

Empreiteiros de Obras Públicas), acusava a Dersa de escolher os vencedores na concorrência da<br />

38 Revista Construir. Edição de junho de 1984, no 30 apud AEERJ (Associação dos Empreiteiros do Estado do Rio de Janeiro). AEERJ 30 Anos: 30 anos de obras<br />

públicas no Rio de Janeiro (1975-2005). Rio de Janeiro: AEERJ, 2005, p. 121-81.<br />

39 Jornal O Globo. Edição de 11 de setembro de 1993 apud AEERJ (Associação dos Empreiteiros do Estado do Rio de Janeiro). AEERJ 30 Anos: 30 anos de obras<br />

públicas no Rio de Janeiro (1975-2005). Rio de Janeiro: AEERJ, 2005 p. 121-81.<br />

40 Revista O Empreiteiro. Edição de agosto de 1976, no 103.<br />

41 Revista O Empreiteiro. Edição de agosto de 1977, no 115.<br />

42 Revista O Empreiteiro. Edição de julho de 1979, no 138.<br />

DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS ANTICORRUPÇÃO 46

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