Livro Democracia e Politicas Publicas Anticorrupcao FINAL
A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.
A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.
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CAPÍTULO 3 ACESSO À INFORMAÇÃO, DIREITO À MEMÓRIA E DITADURA MILITAR: O CASO DA CORRUPÇÃO AO LONGO DO REGIME DE 1964<br />
Via Norte 43 . O Sinicon questionou a prefeitura de Petrópolis e o governo fluminense por demandar<br />
alto capital social para obras 44 .<br />
Outra forma de a empreiteira garantir obras era atuar junto ao Legislativo:<br />
Para contar com recursos suficientes para cobrir o seu faturamento previsto, é frequente<br />
a atuação do empresário no sentido de, com a ajuda de parlamentares e o serviço de<br />
lobistas, assegurar a introdução de emendas ao Orçamento da União, alocando para as<br />
obras de seu interesse os recursos desejados. 45<br />
Os empreiteiros atuavam junto a parlamentares para entrar com pedidos de obras na forma<br />
de emendas parlamentares no orçamento. Pagando comissão ao deputado, ficava acertado antes da<br />
concorrência quem faria a obra. Diante dessa interferência das construtoras na elaboração orçamentária,<br />
o ministro Adib Jatene afirmou que quem o fazia eram as empreiteiras 46 .<br />
Com essa prática, reforçada na transição política, as construtoras integraram a rede de financiamento<br />
das campanhas eleitorais. Editorial da revista O Empreiteiro assim se referiu à essa prática:<br />
“E há denúncias de que através delas [licitações] são drenados recursos para as campanhas de<br />
propaganda política do governos [sic] estaduais e federal. [...] As empreiteiras, de uma forma geral,<br />
sempre participaram deste esquema.” 47<br />
No final da ditadura, o mecanismo da concorrência entre empresas como motor das denúncias<br />
de irregularidades se mostrou mais claramente com o cancelamento de licitações e mudança<br />
de suas regras. Na hidrelétrica de São Simão, da Cemig, a Mendes Júnior perdeu a concorrência,<br />
depois de ter ficado em primeiro lugar. Na concorrência da hidrelétrica de Pedra do Cavalo, na Bahia,<br />
a Mendes Júnior perdeu a obra para consórcio liderado pela Odebrecht mesmo com preço inferior<br />
e entrou na justiça. A licitação da usina de Itaparica, da Chesf, foi cancelada após vitória da Servix,<br />
fazendo com que nova concorrência desse vitória à Mendes Juinor. E a Cesp cancelou concorrência<br />
de Nova Avanhandava, alegando falha nos projetos 48 . Esses conflitos na justiça e cancelamentos de<br />
concorrências das últimas grandes hidrelétricas da ditadura eram representativos das disputas entre<br />
empresas em um mercado em refluxo.<br />
43 Revista O Empreiteiro. Edição de agosto de 1976, no 103.<br />
44 Informe Sinicon. Edição no 12, ano I.<br />
45 PRADO, Lafayette Salviano. “Corrupção” In: Transportes e Corrupção. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997, p. 197-217.<br />
46 O Estado de São Paulo apud PRADO, Lafayette Salviano. Transportes e Corrupção. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997, p. 272.<br />
47 Revista O Empreiteiro. Edição de março de 1982, no 172.<br />
48 RAUTENBERG, Edina. “A revista Veja e as ‘grandes obras’ da ditadura militar brasileira (1968-1975)”. In: V Semana Acadêmica de História. Marechal Rondon:<br />
Unioeste, 2009, p. 1-5; Revista O Empreiteiro, nos 123 e 132.<br />
DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS ANTICORRUPÇÃO 47