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Livro Democracia e Politicas Publicas Anticorrupcao FINAL

A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.

A obra reúne 10 capítulos escritos por especialistas no tema e é resultado de um curso homônimo desenvolvido por estas organizações em 2023, com o propósito de capacitar jornalistas, ativistas, servidores públicos e membros de organizações da sociedade civil do Brasil.

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CAPÍTULO 6 O DARDO E O ALVO: MINISTÉRIO PÚBLICO E ACCOUNTABILITY<br />

significativamente ampliada. Do ponto de vista da autonomia, os governos petistas de Lula e Dilma<br />

Rousseff praticamente transferiram a decisão da indicação e recondução do procurador-geral da<br />

República aos próprios procuradores federais. Pouco mais de 1000 integrantes do Ministério Público<br />

Federal escolhiam o nome de três colegas e os presidentes indicaram ao sempre solícito Senado<br />

o mais votado.<br />

Em relação à discricionariedade, os promotores passaram a poder conduzir investigações criminais<br />

a despeito da Polícia após uma decisão do Supremo Tribunal Federal em 2015. Além disso, diversos<br />

instrumentos jurídicos reforçaram o espaço de escolha dos promotores e procuradores, como a lei<br />

que permitiu que eles negociassem vantagens com réus, conhecido como lei da delação premiada. A<br />

ausência desses instrumentos criados durante os governos petistas ajuda a explicar em parte por que<br />

tentativas anteriores de atacar o sistema político pela via judicial não tiveram o sucesso alcançado<br />

pela Operação Lava Jato (MARONA, KERCHE, 2021; KERCHE, MARONA, 2022).<br />

O modelo de Ministério Público desenhado pelos constituintes de 1987-88 e reforçados ao<br />

longo das administrações do PT nos anos 2000 combinou autonomia e discricionariedade em um<br />

modelo pouco comum quando se observa os desenhos institucionais de outros países. Altas doses de<br />

autonomia e discricionariedade para atores não eleitos reforçam os dilemas e desafios em relação à<br />

accountability pública demandada pelas democracias.<br />

2 O MINISTÉRIO PÚBLICO E SEUS ATORES INTERNOS<br />

Em um mundo onde o burocrata weberiano existisse tal qual a formulação feita pelo sociólogo<br />

alemão, as preferências pessoais de um funcionário seriam secundárias. O subordinado poderia ser<br />

de esquerda ou de direita, católico ou pentecostal, são paulino ou corinthiano que sua atuação se<br />

daria seguindo as orientações de sua chefia e, no âmbito do Estado, dos políticos imbuídos da ética<br />

da responsabilidade (WEBER, 1972). Ao burocrata caberia implementar as decisões dos políticos e<br />

respeitar a cadeia de comando em uma estrutura piramidal.<br />

No mundo não restrito aos tipos ideais, entretanto, a relação entre agents e principals não é tão<br />

harmônica. Nem sempre o agent deseja o mesmo que seu principal. Enquanto o primeiro quer mais<br />

tempo livre, o segundo deseja que seu subordinado trabalhe mais. Enquanto o funcionário tenta fazer<br />

as coisas ao seu modo, o chefe almeja que sejam seguidos os procedimentos previamente indicados.<br />

O desafio, portanto, é incentivar que o agent aja no sentido desejado pelo principal.<br />

O principal lança mão de incentivos para estimular que o agent entenda que é mais vantajoso se<br />

alinhar do que desobedecer. Instrumentos formais, como promoção e demissão, e os informais, como<br />

reputação, lealdade e gratidão, são utilizados para incentivar certos comportamentos e desestimular<br />

DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS ANTICORRUPÇÃO 87

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