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FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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Seria inevitável que essas contaminações <strong>da</strong> arte mágica negra não refletisse<br />

diretamente na estatuária dos ex-votos nordestinos. A partir deles esse estilo africano<br />

proliferou para os demais estados, e foi diluindo em parte sua força original. Há razão<br />

suficiente para que ocorresse essa persuasão estética. Basta lembrarmos que no período<br />

colonial os negros escravos produziam fetiches e ex-votos, além de copiarem pequenas<br />

esculturas barrocas, trazi<strong>da</strong>s pelos portugueses, iniciando também nessa época a<br />

produção de imagens de santos católicos de inspiração ibérica. É notável o hibridismo<br />

estetizado contido nessas imagens, ora proporcionado pelo meio geográfico <strong>da</strong> origem<br />

do artesão, ora imposto pela ideologia dominante, no caso, os portugueses e seus<br />

modelos. Dessa maneira, podemos salientar que o ex-voto de madeira de linha<br />

escultural africana não conseguiu driblar o sincretismo religioso afro-católico. Eles não<br />

eram uma simples oferta ao santo. Trazia também dotes mágicos, com o sentido de<br />

interdição, de tabuização.<br />

Até o ponto que conseguimos averiguar a temática, o ex-voto não perdurou na<br />

magia do negro. Seu sincretismo teria representativi<strong>da</strong>de apenas no período de<br />

perseguições aos ritos africanos. Passado esses momentos, são extintos os ex-votos<br />

tabuizados. No entanto, a força expressiva desse imaginário, traços, cortes e estilos,<br />

perduram até hoje, recria<strong>da</strong>s no entalhamento de escultores do milagre.<br />

To<strong>da</strong> imagem depende de convenções as mais diversas, que se dividem<br />

basicamente em convenções de composição e de representação. De acordo com<br />

Santaella, tomando como referência o universo <strong>da</strong> Arte, no capítulo sobre Ver<strong>da</strong>de e<br />

Estereótipo, de Arte e Ilusão, Gombrich em 1979 teorizou largamente sobre a função do<br />

esquema como categoria pré-existente sem a qual nenhuma nova forma seria possível,<br />

pois esta é sempre resultado de uma a<strong>da</strong>ptação a esquemas que o artista recebeu <strong>da</strong><br />

tradição e aprendeu a manejar. A necessária escolha de um esquema inicial, que é<br />

a<strong>da</strong>ptado e corrigido de acordo com os novos desafios que se apresentam ao artista, é<br />

um indicador do caminho para compreensão dos enigmas do estilo. Aquilo que o artista<br />

recebe <strong>da</strong> tradição e o modo como ele rea<strong>da</strong>pta o usual ao não-familiar, imprimem à<br />

obra sinal de estilo. É em função disso que todo estilo já nasce inevitavelmente marcado<br />

pelo tempo. 139<br />

As imagens são depositárias fiéis dos tempos, principalmente as figurativas, que<br />

apresentam similari<strong>da</strong>de com o mundo preexistente, facilitando a decodificação, o<br />

139 SANTAELLA, Lúcia, NÖTH, Winfried. Op. cit. p. 81<br />

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