FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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Sem entrarmos no julgamento sobre essas questões de imaginários artísticos e
religiosos, nesse momento o nosso interesse caminha para salientar semelhanças que
ocorrem nos dois casos.
O pagador de promessas e o performer da Body Art oferecem seus corpos a
sacrifícios físicos, cada um a seu modo, e por motivos e ideologias diferentes se expõem
a algum tipo de martírio. Seja para agradecer a recuperação de curas mentais e físicas,
ou para externar reflexões plásticas sobre os discursos das obscuridades, mimetismos,
escombros da arquitetura do próprio corpo. Vemos nesses performers alguns veios de
complementaridade, não só de suas imagéticas de expor o corpo no desfile do sacrifício,
como também pelo veio do desejo da salutariedade e completude do corpo, que são
peças fundamentais nesse grande mosaico que se chama vida.
Após traçarmos esses diálogos, ditos por vozes e abordagens diferenciadas,
poderíamos dizer, ainda, de forma embrionária, que um dos maiores conflitos do
homem é lidar com as fragilidades do corpo. Pois é ele que define a vida e a morte. Ele
é o atestado de vida ou de óbito.
Nessa luta para vivência e sobrevivência, vemos nos ex-votos, principalmente nas
próteses religiosas, simulacros de nossos corpos, o desejo visível de superar as
patologias que afetam a carne. Esses objetos que inicialmente podem provocar um certo
estranhamento nas pessoas, são testemunhos não verbais que dizem que a morte foi
prorrogada e a vida continuou por força da religiosidade, da fé e do milagre.
Também os artistas, em embates para dialogar com as dialéticas do corpo, têm
usado esse território do avesso e do direito, a fim de descobrir os mistérios de sua
dualidade. A Arte tem apresentado-os fragmentados, como se fossem ex-votos, abertos
a essas escavações. Nesse sentido Rosa Olivares define, Fragmentação é, então, um
método, é a apresentação do corpo mutilado, cortado, ferido, destroçado, fragmentado,
o tema. Sua presença na Arte, na História da Arte, remonta às próprias origens. Assim
como a origem da própria humanidade, o corpo representa a força da alma, do
espírito, está nesse corpo e se identifica com ele ou com fragmentos dele. Mas é na Arte
Contemporânea que esta pratica feroz parece alcançar seu máximo esplendor. Porque
na ação de ferir, de cortar, de mutilar, no ato canibal, na submissão total que impõe o
vampiro, no ato de domação, no trabalho intelectual, está implícita a força, o desejo,
de Orgia e Mistério, Organizava performances rituais, envolvendo sacrifício de animais, que terminavam
com um abundante derramamento de sangue. Estes eventos provocariam sua prisão na Áustria e na Grã-
Betanha.