FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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distintas. Esses pequenos quadrinhos de cliques de luz trazem fragmentos, cenários
miniaturizados de passagens da vida humana, de momentos felizes ou infelizes.
Neste sentido Santaella, as fotografias não são meros espelhos mudos e inocentes
que flagram, nem são habitantes de um reino paralelo à realidade. Embora tenham de
fato um curto poder de duplicar o real, essa duplicação é geradora de ambigüidades
insolúveis. O fato de funcionarem como réplicas, não significa que as fotografias
deixam de ser parte, habitantes legítimos da realidade. Mesmo que replicam.
Fotografias, assim como quaisquer outros tipos de signos, imagéticos ou não, agregamse
à realidade, aumentando sua complexidade e tornando-a mais densa 152 .
Essas imagens armazenam, em sua diversidade, conteúdos, mensagens implícitas,
explícitas, abstratas, da religiosidade popular. São fotografias de pessoas, animais,
objetos, cidades, hospitais, clubes, eventos comemorativos, acidentes e milhares de
outros motivos, onde todos referendam o milagre e a graça recebida.
Através de fotografias, o devoto procura relatar a cena do milagre. Por exemplo,
se o agraciado sofreu um acidente de carro e conseguiu se salvar, ele procura ser
retratado junto com o carro sinistrado. Em um outro caso, se o devoto fez o pedido para
obter êxito escolar, sua foto será de uma festa de formatura ou dele sozinho segurando
um diploma. Nessa direção, seguem todas as outras imagens, sempre inseridas naquilo
que motivou a história miraculosa.
Segundo Alceu Maynard, em seu livro Folclore Nacional, muitos fotógrafos
profissionais, conhecidos como “lambe-lambe”, aprontam, em poucos minutos, uma
foto que servirá de ex-voto. Eles montam cenários. Por exemplo: alguns homens deixam
se fotografar deitados em um banco de jardim, tirando a camisa ou paletó, pendurando
em uma árvore, deitando em decúbito dorsal, amarrando depois um pano, que o próprio
fotógrafo lhe empresta, no lugar em que foi curado (no rosto, no pescoço, na cabeça,
etc.). Desse modo, são fotografados. As mulheres arranjam uma cama que colocam na
calçada, deitam-se vestidas, cobrem-se e são fotografadas. Às vezes, a família toda tira
fotografia e os beneficiados com o milagre tomam a posição devida: se estiveram de
cama, deitam-se. Vendam a vista com as mãos, se a doença foi nos olhos. Colocam duas
mãos na cabeça quando tiveram febre e assim por diante.
Durante nossas visitas a santuários, nos períodos de festas, pudemos presenciar
muitas cenas nessa direção, devotos fotografados por profissionais lambe-lambe, que
152 SANTAELLA, Lúcia, NÖTH, Winfried. Op. cit. 128.