FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

2.1 - Artesanais
Considerando que ex-votos são símbolos da religiosidade popular e neles estão
incorporadas “estórias miraculosas”, frutos de pedidos de devotistas, ao serem
analisados, o melhor é não observá-los de forma reducionista. Cada uma dessas imagens
envolve diferentes experiências religiosas, estruturadas em sua lógica própria,
prescindindo de normas pré-estabelecidas e do julgamento por uma verdade unívoca.
O foco desta análise está direcionado às imagens votivas que estão tuteladas pelas
salas de milagres. Dentro desses espaços sacralizados, todos os objetos, todas as
imagens, são aceitas e justificáveis dentro do imaginário dos devotos. Servem ainda de
estímulos visuais para invenções de novas promessas.
A partir de então, faremos análises formais, iconográficas e iconológicas desses
objetos, que lá estão revestidos da aura do milagre, mas que ao nosso ver apresentam
uma estética plástica que nos desafiam a tecer esse estudo, que soma Religião, Arte e
Estética.
Ao planejar esse exame de idéias voltadas para a estética plástica desses objetos,
não só nos guiamos pelo interesse acadêmico ou histórico, como também nos
referenciamos para os conceitos de arte contemporânea, por eles se apresentarem de
forma bastante alargada, diluindo o perfil de beleza vinculada a um determinado modelo
e à idéia de belo perfeito. As leituras contemporâneas abrem essa discussão, apontando
outras possibilidades a serem analisadas, como, por exemplo, ver beleza na estranheza,
na catarse, no Kitch 117 , entre outras. Essa abertura permite sairmos da contemplação e
nos convida a interagir com a obra de arte ou com o objeto observado e tirar deles
indagações plurais de acordo com a cosmovisão do intérprete.
Mesmo sabendo que os objetos expostos nas salas de promessa não foram feitos
para serem vistos como obras de arte, e sim como testemunhos de graça alcançadas, eles
nos possibilitam, no entanto, vê-los como objetos de arte. Evidentemente que dentro de
um fazer artesanal, ingênuo (reportando à Arte Naif), 118 existindo também os que foram
117 Kitsch, termo alemão, significando “objeto vulgar ou sem valor”, que entrou em voga em princípios do
século XX. Designava desde atrocidades comerciais, como lembranças para turistas, até pretensas obras
de arte, consideradas pouco honestas ou vigorosas. Dicionário Oxford de Artes. Martins Fontes: São
Paulo, 1996. p. 285.
118 Naif são classificações para aqueles que criam obras de arte independentemente de escolas ou
influências. Junto com o desenvolvimento da pintura em distintas épocas estilísticas, se encontra a
atividade criadora dos artistas naifs, livre de influências tanto de disciplinas acadêmicas como da tradição
e dos acontecimentos do mundo artístico do mundo atual. Criações de demonstração ilustrativa - processo
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