FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

fizemos a escolha de estudar as nuances que permeiam o universo estético dos ex-votos,
não para profaná-los, mas para observar a expressividade de suas formas, cores,
materiais de que são construídos, evidenciando sua utilização nesse contexto religioso,
pois esses mesmos objetos podem também aparecer na arte contemporânea,
principalmente através das linguagens das instalações, objetos e pintura.
Essas colocações estão, ao nosso ver, fundadas nos princípios ideológicos do
pensamento de Marcel Duchamp, um dos principais expoentes do dadaísmo, no que diz
respeito à descontextualização do objeto. Foram as teorias, principalmente
duchampianas, que nos levaram a perceber as impermanências espaciais dos ex-votos,
como também observar que os ex-votos retirados do espaço dos milagres possibilitariam
outras leituras plásticas, e mais ainda, que qualquer objeto pode tornar-se sacralizado
em função do espaço, e que é o contexto em que estão inseridos que lhe dão essa
atribuição. Sendo assim, eles assumem diferentes valores simbólicos no espaço sagrado
e no profano.
Dessa forma, diversos questionamentos podem ser suscitados:
- É possível vermos os ex-votos, além de testemunhos dos “milagres”, como
objeto estético a ser analisado e compreendido no campo das Artes Plásticas?
- A descontextualização do ex-voto de seu espaço religioso abre a possibilidade
para reconhecê-lo também como objeto de arte, escultura, pintura e desenho?
- Todo objeto votivo, colocado no contexto da arte, ganha o reconhecimento da
academia pela preeminência da vontade de seu autor?
- A circularidade cultural apreende a influência dessa religiosidade na obra de
arte?
Essas e outras indagações, apontadas a partir da aproximação com o universo
votivo, possibilitaram-nos a abertura para dissertar sobre alguns aspectos das
representações sígnicas religiosas e os seus “Não Lugares”, compactuando com a teoria
de que é o sujeito quem propõe e confere significados aos objetos. Para essa atitude não
existe uma lógica unívoca, pois o imaginário religioso ou artístico, individual ou
coletivo, transita num universo permeado de metáforas.
Observando essa relação de espaço/objeto/significado na Arte e na Religião, seria
ilusório não perceber também que ocorre a dinamicidade de um movimento meio
nômade nessa relação. Acreditamos ser legítimo chamarmos atenção para a
circularidade que existe dentro desse contexto.
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