FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

evidenciada na imagem. Se, por exemplo, a graça alcançada for procedente de
queimaduras, feridas ou cortes, geralmente o ex-voto será representado por uma figura
humana que tenha sofrido tal doença na pele. Elas terão alterações na dermatose ou
qualquer dano na epiderme. É uma exigência do devoto que essa lesão seja feita no
mesmo lugar que ele sofreu a doença. Nesses casos, o vermelho é largamente usado
para evidenciar a lesão. A cor é utilizada de maneira exagerada, para chamar muita
atenção para o mal que estava sucumbindo o devoto antes de ser atendida sua promessa.
Conforme Maynard Nota-se nestes, a preferência pelo emprego da cor vermelha que,
na interpretação do caipira, representa a doença, a dor, etc. Como herança medieval, o
Satanás é sempre representado em trajes vermelhos, e para o homem simples da roça, a
doença é, em geral, causada por arte do diabo, normalmente quando se trata de um
desastre. As doencinhas mais comuns são doenças que Deus lhe deu. 131
Outro dado que reforça e complementa o que foi dito acima, é a presença do
depoimento feito por escrito na composição. O agraciado faz questão de escrever num
canto da imagem toda a história que lhe aconteceu e que motivou o recebimento do
milagre. Eles escrevem diretamente sobre a imagem ou criam uma espécie de tarja ou
fita, escrevendo sobre elas, podendo ter formatos retos ou ondulados, ocupando o
espaço superior ou inferior da composição.
Acreditamos que essa é uma forma de explicitar que o crente foi merecedor do
milagre. O depoimento tácito ajuda a reforçar o entendimento da imagem, caso ocorra
alguma lacuna, além de fazer a “propaganda do milagre”. Essas legendas de fé ajudam
na leitura e análise das imagens, não só pelo retorno da graça, mas também por lá
constar o nome do devoto. Em alguns casos consta ainda a data que foram produzidas
tais imagens.
A vontade de afirmar a graça, de reconhecer e anunciar o milagre, a cura
extraordinária pela intervenção do santo, move o devoto. Porém, essa vontade o leva
também a utilizar dentro de sua cultura os recursos plásticos de que dispõe para
comunicar a graça do objeto. Assim, em determinados ex-votos, evoca-se a memória do
feito miraculoso através de sua representação. Não ficando contente com isto, o devoto,
segundo o costume, redige um texto na parte de baixo do próprio quadro, no qual se
identifica, menciona o santo e descreve a graça. De acordo com Torres Os ex-votos,
131 ARAÚJO, Alceu de Maynard. Folclore Nacional. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1964. p. 22.
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