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FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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ficavam marca<strong>da</strong>mente registra<strong>da</strong>s na memória popular, como algo parecido com uma<br />

aliança entre Deus e o povo 114<br />

Marilena Chauí assim acrescenta: o milagre é a pedra de toque <strong>da</strong>s religiões<br />

populares, é de estonteante simplici<strong>da</strong>de para a alma religiosa e, jure, inaceitável pelas<br />

teologias e de fato por ela tolerado, pois rompe a ordem predetermina<strong>da</strong> do mundo por<br />

um esforço <strong>da</strong> imaginação. Arrimo <strong>da</strong> religião popular, o milagre é a ver<strong>da</strong>deira<br />

profanação para as religiões purifica<strong>da</strong>s ou internaliza<strong>da</strong>s. Naquelas, Deus é vontade,<br />

nestas, razão, primeiro passo para dessacralização do real. O milagre manifesta uma<br />

relação estritamente pessoal entre o poder supremo e o suplicante - único momento que<br />

se tem certeza de que o grito abafado explodiu e foi ouvido 115<br />

Para Certeau as histórias de milagres garantem ao oprimido a vitória de um<br />

espaço maravilhoso, utópico. Este espaço protege as armas do fraco contra a reali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> ordem estabeleci<strong>da</strong>. Oculta-se as categorias sociais que “fazem história”, pois a<br />

dominam. E onde a historiografia narra no passado as estratégias de poderes<br />

instituídos, essas histórias “maravilhosas” oferecem ao seu público (ao bom<br />

entendedor, um cumprimento) um possível de táticas disponíveis para o futuro. 116<br />

Por mais que os padres queiram desconstruir a crença nos milagres dos santos, os<br />

romeiros pouco dão créditos a seus discursos. Suas relações com eles são muito<br />

intimistas, não carecem de mediadores e nem dos pareceres <strong>da</strong> igreja. Por outro lado,<br />

sem a crença nos milagres e outras graças menores, a festa, sem dúvi<strong>da</strong>s, reduziria, de<br />

forma significativa, os números de participantes. A igreja, nesse caso, precisa dessa<br />

movimentação para se auto-afirmar que tudo está correndo com sucesso na religião<br />

católica, principalmente na atuali<strong>da</strong>de que em ca<strong>da</strong> esquina abre-se um novo local de<br />

culto. É o tempo de concorrência com as igrejas pentecostais.<br />

Torna-se praticamente impossível desvincular a religiosi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> religião “oficial”,<br />

a festa “sagra<strong>da</strong>” e “profana” <strong>da</strong> folia, do reconhecimento <strong>da</strong>s graças alcança<strong>da</strong>s pelas<br />

promessas e milagres. As estórias de votos e milagres feitos por N. S. d’Abadia em<br />

Romaria continuam sendo lembra<strong>da</strong>s e continua<strong>da</strong>s por seus devotos. Acreditamos que<br />

114<br />

Idem, p. 67<br />

115<br />

CHAUI, Marilena de Souza. Cultura e Democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo:<br />

Moderna, 1982. p. 79.<br />

Ver:<br />

CERTEAU, Michael de. A Invenção do Cotidiano. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 75-90.<br />

116 CERTEAU, Op. cit. p. 85.<br />

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