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FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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contrário, a crítica sempre sinaliza que suas pinturas fazem alusões literárias, ao<br />

cotidiano e à Religião, um tema recorrente: em cinqüenta e cinco anos de pintura, criou<br />

papas de cabeças ovais e várias versões de homens-macacos, aos berros, pendurados<br />

em cruzes rodea<strong>da</strong>s de arame farpado, como no fragmento para uma crucificação 169 .<br />

Essas imagens baconianas estão inseri<strong>da</strong>s em ambientes de interiores quase vazios,<br />

parecendo quartos fechados levemente escuros. Bacon cria sub-espaços dentro dessas<br />

composições, que remetem a caixas e celas. São dentro desses espaços claustrofóbicos,<br />

que ele aprisiona esses corpos torturados.<br />

Nessas jaulas de clausuras, as figuras mostram seus rostos transfigurados em<br />

expressão de horror, introspecção e taciturni<strong>da</strong>de. Suas bocas parecem emudecer ou<br />

gritar. Gritos doridos de figuras humanas profun<strong>da</strong>mente consterna<strong>da</strong>s.<br />

O artista diz que sempre foi muito impressionado com os movimentos <strong>da</strong> boca,<br />

com a forma dos dentes e afirma também que nunca conseguiu pintar uma boca<br />

sorrindo: nunca consegui pintar o riso 170 . Ao contrário, por exemplo, do pintor retratista<br />

Holandês Franz Hals (1582-1666) que fez do riso a característica principal de suas<br />

imagens.<br />

Bacon não abor<strong>da</strong> o lado alegre do corpo. Prefere a aniquilação e os tormentos de<br />

corpos lesados e carnes transfigura<strong>da</strong>s. Imagens que parecem procurar antídotos para<br />

sobreviverem. São cenas que gritam por misericórdias e ficam congela<strong>da</strong>s a esperar por<br />

providência salvífica. Essas imagens, que parecem se congelar em momentos decisivos,<br />

permitem-nos compará-las com as pinturas votivas, que mostram as pessoas doentes em<br />

estado de desespero, na clausura de interiores de quartos fechados e molesta<strong>da</strong>s em seus<br />

leitos, representado a cena a partir <strong>da</strong> qual levaram a pedir e a receber o milagre. As<br />

figuras humanas pinta<strong>da</strong>s por Bacon parecem também rogarem pela mesma sorte.<br />

A continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>r-se-á, tendo como interlocutora a francesa Orlan. Ela<br />

faz parte <strong>da</strong>queles artistas <strong>da</strong> contemporanei<strong>da</strong>de que têm se utilizado do corpo no<br />

território do real, cortando-o e mutilando-o para construir suas poéticas. Essas<br />

performances, têm gerado vários questionamentos que, tais artistas, em suas<br />

irreverências, in<strong>da</strong>gam sobre as fragili<strong>da</strong>des do corpo e as relações que os envolvem,<br />

sejam políticas, sociais, religiosas ou afetivas. De certa maneira, é o meio encontrado<br />

para provocar, convi<strong>da</strong>r o espectador a refletir sobre tais questões.<br />

169 CANTON, Kátia. Revista Guia <strong>da</strong>s Artes, n. 20. Editorial Paulista. p. 61-62.<br />

170 SYLVESTER, David. Op. cit. p. 50.

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