FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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Industriais Bidimensionais 108 Com o advento da fotografia no século XIX, surge uma nova maneira de olhar o mundo. Sem contestação, a fotografia provoca uma reviravolta na representação das imagens, que até então eram acalentadas por desenhos, gravuras, e, principalmente pela pintura. Essa arte de escrever com a luz dá a essas citadas disciplinas uma carta de alforria, promovendo o encontro com suas verdadeiras expressividades, sem as amarras de representar, de forma verossímil, o mundo em sua volta e os fatos históricos. Diríamos que ocorre uma autonomia das linguagens. Reservadas as proporções, o desenho deixa de ter função de projeto para a pintura. A pintura, por sua vez, deixou de ser fotografia. E a fotografia inaugura imagens técnicas produzidas por máquinas, com tiragem em serie, contribuindo também para o avanço do cinema. Para Santaella, talvez o traço mais revolucionário que marcou o salto de transformação da fotografia em relação às imagens produzidas manualmente, não se encontra tanto na medição do aparelho, interpondo-se entre o fotógrafo e a realidade a ser registrada, nem na automatização que o aparelho permitiu, mas na possibilidade de multiplicação infinita de fotos a partir de uma matriz reprodutora, o negativo. Foi essa característica inaudita que veio trazer como conseqüência o advento de um novo processo para as imagens 151 . Desde seu surgimento, o processo fotográfico foi marcado por grandes desdobramentos técnicos. A imagem em preto e branco ganhou a opção de cores, o pequeno formato pôde ser redimensionado, além das revelações automáticas, das fotografias coloridas instantâneas, dentre outras. A contaminação da era da reprodutibilidade fotográfica ganhou também espaço dentro das salas de milagre. A medida em que a fotografia foi se tornando acessível a todos, a profissão de fotógrafo se espalhou por quase todas as cidades, inclusive na figura dos ambulantes. Os devotos observaram rapidamente a imagem fotográfica. Em função dessa aceitação, ocorreu, de forma visível, uma redução de ex-votos artesanais, pintados ou desenhados, bem como os industriais de cera. O que podemos observar 151 SANTAELLA, Lúcia, NÖTH, Winfried. Op. cit. p. 123. Ver também: KASSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo: Ática, 1989. DE PAULO, Jeziel. Imagens Construindo História. Campinas / Piracicaba: Ed. UNICAMP. 1988. SAMAIN, Etienne. O fotógrafo. São Paulo: Hucitec, 1998.
109 hoje, nas salas de milagres, é uma profusão de ex-votos, representadas por fotografias. (figs. 81 e 82) O número excessivo de fotografias nessas salas chega a cobrir paredes, pilares, painéis. A partir dessa exposição de fotos, podemos perceber as etapas de desenvolvimento do processo fotográfico, seus estilos, modas e possibilidades. A começar, pelo enquadramento, efeitos de revelação e cores. As imagens mais antigas, em sua maioria, são em preto e branco. Muitas delas estão com molduras largas, com gesso ou ornamentos dourados, o mesmo ocorrendo com as mais recentes, coloridas. As FIGURA 81 – Sala de Promessas N.S. Abadia. FIGURA 82 – Sala de Promessas N.S. Abadia. dimensões são variadas. Romaria – MG, 2001. Romaria – MG, 2001. Pode ser desde uma foto 3x4, até os chamados pôsteres emoldurados ou plastificados. Atualmente, a maioria das fotografias oferecidas aos santos é colorida. Muito, em função da facilidade, já que elas dominam esse tipo de reprodução. Outra questão é que a revelação em preto e branco demora mais, e tem o custo mais alto.Vale lembrar, desde já, que o devoto não está interessado na qualidade técnica ou artística da fotografia. Para ele, basta a nitidez e se está representando bem a cena da graça. Outro fato importante que exteriorizamos, está vinculado ao fato dessas imagens poderem ser infinitamente reproduzíveis. Dessa maneira, a mesma imagem pode estar inserida em contextos extremamente diferentes. Pode estar sacralizada dentro da sala de milagres, servindo para fazer documentos, ser presente para alguém, e ainda outras possibilidades. Percebemos que elas podem ter a finalidade que o representado quiser. Em outra direção, vemos que o ecletismo dessas imagens absorve o olhar do espectador, por ser geralmente muito forte e provocativa. No caso da fotografia votiva, temos um excesso de imagens, as mais díspares possíveis, não possuindo diálogo entre si, nem linearidade. Tudo pode ser representado ao mesmo tempo, por personagens
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ANA HELENA DA SILVA DELFINO DUARTE
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iii Aos meus pais, Amador e Dinorá
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fizemos a escolha de estudar as nua
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Nesse andar peregrino, chegamos à
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epresentações, cujo objetivo é a
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Ex-voto é o nome que, eruditamente
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Apresentadas algumas definições e
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lugar que o santo habita é muito i
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Sócrates, filósofo grego, viveu p
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de destratar os santos. Prova disso
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1.3 - O Cenário da Fé: as salas d
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