11.04.2013 Views

FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

117<br />

Tudo é motivo para pedir e prometer, desde uma simples dor na mão até as considera<strong>da</strong>s<br />

doenças graves.<br />

Em função <strong>da</strong> divulgação <strong>da</strong>s curas, graças e milagres, multiplicam-se em<br />

milhares as imagens que confirmam a recuperação de doenças. Paredes de salas de<br />

promessas foram cobertas de exames de laboratórios médicos, muletas, cadeiras de<br />

ro<strong>da</strong>s e muitos outros aparelhos ortopédicos, além de milhares de simulacros de corpos<br />

humanos expostos nus, simbolizando alguma parte afeta<strong>da</strong> por doenças. Nudez que<br />

evidencia, esconde, grita emudece, diante dos aspectos conflitivos <strong>da</strong> política <strong>da</strong> saúde<br />

do poderio econômico, <strong>da</strong>s fragili<strong>da</strong>des do homem diante do mundo e <strong>da</strong>s preocupações<br />

com as doenças de todos os tempos e <strong>da</strong> obscuri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> morte.<br />

O corpo encontra-se no limite, onde tropeça e se detém o saber. Onde tropeça<br />

igualmente todo o discurso. O corpo, uma palavra. Porém indizível. Escutamo-la<br />

certamente. Mas ninguém pode submetê-la a um eu – não pode apoderar-se dela; nem<br />

dizer, nem redizer. Por que a linguagem, nasci<strong>da</strong> dos desejos com os quais infla o<br />

corpo, só existe para criar distancia, que permite, em compensação, expressá-los[...] Se<br />

o sofrimento, este, vai até o extremo de si mesmo, sem poder escapar, do mesmo modo<br />

não tem palavras para exprimir. É a palavra do corpo, cujo menor murmúrio faz<br />

tremer a ordem do mundo, vin<strong>da</strong> de nossa boca é um silêncio, se bem que cheios de<br />

rumores, murmúrios, lamentações, palavras de amor e estertores de agonizantes –<br />

palavras porém inomináveis. Quando, no sofrimento <strong>da</strong> doença, aquele que sente seu<br />

corpo infinitamente mortal e ca<strong>da</strong> vez mais se apagando, tenta dizê-lo, não pode senão<br />

ter a medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> distância que separa <strong>da</strong>quilo que vive – a morte. Aquela dos outros,<br />

que lemos nos arquivos como a nossa – é o inverso <strong>da</strong> linguagem. 161<br />

Partindo dessa reflexão de Revel e Peter, continuamos a pensar nas<br />

incognocibili<strong>da</strong>des dos “homens doentes e suas histórias”. Algumas doenças e a morte<br />

residem num ponto de interrogação, no ponto cego surdo e mudo de várias disciplinas<br />

que aspiram desvendá-las.<br />

Os devotos, diante desses fatos, não vendo soluções, tentam traduzir em<br />

promessas os sinais e estímulos emitidos pelo seu próprio corpo material e espiritual. A<br />

partir desses sinais, eles criam discursos, circunlóquios e linguagens para conversar com<br />

o que é natural dentro <strong>da</strong> religião e também com conteúdos sobrenaturais, para obter<br />

curas e revelações, através de coisas não evidentes. Para sanar as patologias, o crente se<br />

161<br />

REVEL, Jacques. PETERS, Jean-Pierre. O Corpo Doente. In: História: novos objetos. Rio de Janeiro:<br />

Editions Gallimard, 1974. p. 142-159.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!