FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

Minha filha, primeiro nós somos seres sensíveis, tanto que temos vários sentidos, tanto
que nos expressamos com nossos sentidos: nós falamos, nós ouvimos, nós tocamos.
Quanto ao sobrenatural que, às vezes nós não percebemos com nossos sentidos, nós
expressamos isso também através de coisa visíveis. Nós usamos em nossas celebrações os
gestos, as palavras e, cada um, de acordo com sua visão religiosa, expressa a sua
religião ou sua religiosidade e a sua fé, a seu modo. Você pode rezar de olhos fechados,
eu posso rezar de joelhos, posso rezar de pé, posso levantar as mãos clamando, pedindo.
E eu posso representar também aquilo que eu penso, aquilo que sinto por objetos. Então
os ex-votos se colocam aí, nessa perspectiva. Com coisa sensíveis nós manifestamos
aquilo que nós sentimos no coração e não temos jeito de expressar. São Paulo fala que:
‘aquilo que nós não vemos, nós expressamos ao nosso modo, com nosso corpo com
nossos gestos’. As pessoas que se expressam através de ex-votos, eu não sei dizer se é
mais gente de posse ou se é gente mais pobre, porque eu acho que no tocante da religião,
da religiosidade, talvez nos nivelamos. Talvez não haja distinção aí nesse sentido. Não
precisaríamos ficar presos a isso. Agora, aonde a gente ficaria preso nisso, porque as
pessoas recorrem a isso, pode ser em um gesto de ação de graças, pode ser (como você
falou) por um momento de desespero, no sufoco de uma doença, mas pode ser também
uma expressão muito profunda de carinho, de dedicação, nós nos expressamos assim.
Nós estendemos a mão para o outro, nós damos uma rosa expressando carinho por uma
pessoa amiga, nós damos presentes, porque não podemos manifestar isso para Deus,
como sinal de gratidão, de reconhecimento, de carinho, podemos nos expressar desse
modo? Não podemos julgar o ser humano. A mesma coisa de vir a pé para Romaria.
Precisa disso? Talvez não precisa, mas eu quero me expressar desse jeito. Outro aspecto
interessante, fazendo há muito tempo um curso sobre modernidade, um bispo disse para
nós o seguinte: ‘na situação de neoliberalismo, essa situação de capitalismo violento,
nessa situação incrível entre rico e pobre, às vezes, a única medicina do povo é Deus’.
Nós podemos manifestar aí nosso agradecimento e também nosso pedido também a Deus.
A própria medicina, tudo que ela faz vem de onde também? Quem criou o ser humano, a
parte da criação? A medicina, a ciência simplesmente descobre coisas, mas ela não
cria. 92
Por meio desses testemunhos de fé que compõem essa sala de promessas,
podemos perceber que os milagres de Nossa Senhora estão, em sua maioria, diretamente
ligados a questões de saúde, a curas de enfermidades, que podem ser vistos pelas
fotografias de pessoas deitadas em leitos de hospitais ou em suas casas. Pelas próteses e
aparelhos ortopédicos, frascos de remédios, radiografias, além de outros de natureza
diferente.
Observamos, por outro lado, que realmente a localização geográfica do santuário
reflete nas promessas, determinam alguns tipos de graças assim como a forma de
trabalhar, sobreviver, relacionar-se socialmente. Exemplificando: na sala de promessa
de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador, muitos de seus ex-votos são cenas marinhas,
afundamentos de barcos, afogamentos e também uma coleção de quepes e berimbaus.
Objetos esses que não temos em Romaria. Aqui, encontramos desenhos envolvendo
92 Idem.
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