FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

Sócrates, filósofo grego, viveu por volta do ano 400 a.c. Em virtude de combater,
na sua escola filosófica, a sofística e a falsa retórica, granjeou muitos inimigos, que o
acusaram de impiedade, sendo ele acusado e condenado a tomar cicuta. Depois de beber
o veneno mortal, entre inúmeras recomendações aos seus discípulos presentes, estava o
sacrifício de um galo que ele prometera a Esculápio, o deus a quem se atribuía a cura
da fadiga e dos males da vida. 47
A origem do ex-voto é remotíssima, tendo sido encontrada sob diferentes formas
de pesquisas arqueológicas de quase todas civilizações arcaicas. Foram muito usados na
antiguidade greco-romana, principalmente nos tempos de Asclépio ou Esculápio, onde
Religião e Medicina se mesclavam. Os doentes iam em peregrinação em busca de curas
milagrosas. Lá deixavam, como agradecimento, lápides com inscrições votivas ou
pequenas estatuetas antropomorfas em barro ou cera 48 .
Como vimos, pode-se dizer que a tradição dos ex-votos remonta à antiguidade
oriental e clássica, remontando à Bíblia. 49 Vendo-os agora um pouco mais próximos à
nossa época, podemos dizer que os objetos piedosos (ex-votos cristãos) marcaram de
forma significativa o século XVII na Europa Meridional e Central.
Os mais comoventes deles, talvez sejam as tábuas votivas de barcos salvos de
tempestades ou os milhões de corações 50 , prateados, em imitação de pedra preciosa ou
feitos em cartolina, que exprimem o amor cândido do crente.
47
CÉSAR, Getúlio. Op. cit. p. 148.
48
CASTRO, Márcia de Moura. Ex-votos Mineiros: tábuas votivas do ciclo do ouro. Rio de Janeiro:
Expressão e Cultura, 1994. p. 9.
49
BARROS, Souza. Arte, Folclore, Subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora Paralelo, em convênio
com o MEC. 1971. p. 63. No “primeiro livro de Samuel, capítulo II, versículo 6 ” há a referência de que,
estando os filisteus com a arca santa e tendo caído sobre as suas terras uma praga de ratos e uma endemia
de tumores (cuja tradução na edição da Bíblia de Jerusalém se diz ser hemorróidas), procuraram os
príncipes os padres e adivinhos e perguntaram-lhes o que fazer. A reposta foi a de que a arca santa não
deveria ser devolvida sem reparação. E qual reparação? Seria de mandar fazer em ouro cinco tumores e
um outro tanto de ratos devoradores que arrasaram o país. Temos ai, assim, referência clara a ex-voto
praticado entre Israel, cumprindo salientar que, como os tumores não eram representáveis sem a parte do
corpo atingida pela doença, grande foi a reparação em ouro pelos filisteus.
CÉSAR, Getúlio. Op. cit. p.145. Mostra outra versão para o fato:
“Se remeteis a Arca do Deus de Israel - disseram os adivinho - não remeteis vazias, daí-lhe o que deveis
pelo o pecado, e então sereis curados”. A arca foi devolvida com a oferta benta (cinco ratos de ouro e
cinco ânus de ouro) e tudo se normalizou.
50
Dentre as passagens do Evangelho, Simão faz à Maria essa predileção: Teu filho se verá exposto à
contradição, uma espada lhe atravessará a alma. A imagem da espada haveria de fazer escola, mas é
sobretudo o sagrado coração de Jesus que se multiplicou nas representações... Os religiosos dominicanos,
depois os jesuítas, tomaram a defesa do símbolo e o impõem como emblema da fé cristã. No séc. XVII
são fixados as sete dores de Maria. Quando Pio XI instituiu em 1856 a festa do sagrado coração, o motivo
do coração atravessado por uma espada sob uma coroa de rosas é associado ao cristo sangrando sob uma
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