FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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que nesse contexto, o corpo humano, e também os de animais, já foram oferecidos aos
deuses com objetivos e finalidades diversas.
Traçando pontos de semelhanças com a arte contemporânea, o artista da Body Art
também oferece seu corpo à Arte, que aponta para estilemas e citacionismos presentes
nesses rituais. Porém, não vemos na Arte a idéia de sacrilégio, mas sim a de usar o
corpo como uma maneira de conversar, redescobri-lo e desvendá-lo. O que interessa não
é o corpo em si, mas sim o seu discurso, suas metalinguagens e significâncias. Sobre
essa forma de pesquisa plástica Merleau-Ponty faz a seguinte afirmação: Em se tratando
do meu próprio corpo ou de algum outro, não tenho nenhum outro modo de conhecer o
corpo humano senão vivendo-o. Isso significa assumir total responsabilidade do drama
que flui através de mim e fundir-me com ele. 174
Até então, reflexionamos sobre o corpo oferecido como suporte para a Arte. Nesse
instante, achamos conveniente darmos atenção para algumas práticas revitalizadas pela
religiosidade popular. Nos períodos de romarias e festas nos santuários, com freqüência,
assistimos variadas “performances religiosas” que nos remetem, enquanto imagens, a
alguns diálogos com a Body Art.
Crendeiros em cena real, expondo seus corpos ainda convalescentes a esforços
físicos e descabidos. São pessoas se arrastando em escadarias com os joelhos sangrando,
com os pés inchados, enrolados em faixas. Outros caminham vários quilômetros se
curvando sob o peso de imensas cruzes ou
também carregando sacas cheias de
mantimentos. Fala-se de romeiros que
morreram no caminho, tamanho o esforço
realizado. Talvez seja exagero da imaginação,
mas essa penitência deve ser, com efeito,
dolorosa, pois (existem) cruzes que medem
sete metros, feitas de caibros grossos, de
dezesseis por oito centímetros. 175 FIGURA 90 – Romeiros em Peregrinação ao Monjolinho,
Prata –MG.
Rodovia que liga Prata a Campina Verde-MG, 2001.
(figs. 90 e 91)
Getulio César, em seu livro Crendices e suas Origens e Classificações, nos
apresenta o seguinte relato: Amaro José Ferreira, residente em Santo Amaro, pagou
174
GLUSBERG, Jorge. A Arte da Performer. São Paulo: Perspectiva, 1987. p. 39.
175
FERNANDES, Rubem César. Os cavaleiros do Bom Jesus: uma introdução às religiões populares.
São Paulo Brasiliense, 1982. p. 56 .
Ver também:
FERNANDES, Rubem César. Romarias da Paixão. Rio Janeiro: Rocco, 1994. p. 132.
GOMES, Dias. O Pagador de Promessas. Filme, direção Anselmo Duarte. 1962.