FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

plástico convive muito bem ao lado de um ex-voto feito em madeira. Ele harmoniza o
espaço agregando materiais de naturezas distintas, de modo que a opacidade da madeira
reside junto com a transparência do vidro. Com vários objetos reunidos numa mesma
imagem, vemos conjuntos organizados, cenas catárticas de episódios humanos, que ora
remetem ao passado, ora nos traz de volta ao presente. Mas o tempo que ele parece
querer nos deixar é o passado.
A opinião de Rodrigues Naves é assim explicitada: Farnese tem aversão ao vazio.
Tudo que veio ocorrer permanece. E pesa sobre o presente. Nada pode ser esquecido
ou perdoado. Seus trabalhos, em vez de ser uma montagem de objetos e imagens, são
na verdade uma colagem de tempos, que no entanto tendem sempre a se instalar numa
região do passado a que não teremos mais acesso. 6
Por último, exponho, minha própria pesquisa teórica e plástica, que foi se
construindo a partir dessa ultima década, tendo em vista o interesse por símbolos e
signos da religião católica popular.
O primeiro símbolo inquirido foi o da cruz. Sem dúvida deu ao trabalho a
estruturação composicional sugada de suas várias formas e formatos. Essas linhas que
se cruzam (cruzes) permitem-nos pensar sobre espaço, limite e compartimento. Por
outro lado, é também ponto de interesse deixar de maneira latente a idéia de
crucificação / crucificado e presença / ausência.
No decorrer da pesquisa, o trabalho incorporou estudos sobre os atributos dos
santos negros e brancos e também sobre ex-votos. Essas visualidades tem nos permitido
reflexionar sobre a fragmentação do corpo na obra de arte enquanto representação e
também sobre o corpo real (Body Art) 7 , deslocamento e apropriação.
Atualmente a trajetória deste trabalho plástico tem mostrado simulacros de partes
do corpo feitos de parafina, que recebem interferência de tinta, simulando lesões ou
escritas. Essas peças de cera são envolvidas com véus, rendas e “aplicadas” em alguns
pontos, agulhas de acupuntura, além de outros elementos apropriados pela imagética
encontrada nas salas de promessas.
6 ANDRADE, Farnese. Textos de Rodrigo Naves. São Paulo: Cosac & Naify, 2002. p. 18.
7 Body Art, tipo de arte, associada ao happening e à arte conceitual, em que o próprio artista é usado
como meio de expressão. Algumas obras de body art são executadas em particular e divulgadas por meio
de filmes ou fotografias; outras são executadas em público. Por vezes, a execução é pré-coreografada ;
por vezes é feita de improviso. A participação do espectador é, em geral, desencorajada. Uma das peças
mais conhecidas da body art foi Rubbing Piece, encenada em Nova York em 1970, na qual o artista
italiano Vito Acconci , esfregou seu braço até produzir uma ferida. Dicionário Oxford de Arte. São
Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 67.
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