FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

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residem desde a sua aplicação básica, a maiores conquistas científicas, esbarrando ainda
em problemas políticos, o descaso da administração da saúde pública. Talvez por essas
questões e outras de gêneros diversos, temos presenciado um novo retorno à visão
religiosa - terapêutica. Várias religiões têm trabalhado de portas abertas, com plantões
vinte e quatro horas, com ofertas e promessas de curas.
Prandi comenta com acerto e precisão que a religião supre aquilo que o mundo
profano não dá. O Catolicismo há muito se recusa a curar, preferindo entregar à
ciência a competência de tratar dos males físicos e emocionais. É nesse momento,
quando a Medicina falha, o racionalismo econômico frustra, a certeza das propostas
rui, que as alternativas religiosas se mostram como respostas. É no momento de crise
existencial que a conversão se dá, quando manifesta a cura, quando o problema se
resolve, quando a vida recupera o sentido. E a religião se repõe como conjunto de
símbolos capazes não somente de redefinir o mundo mas, sobretudo, de transferir a
eficácia da religião do exterior da pluralidade religiosa para o interior do próprio eu
converso. 160
A maioria dos devotos que oferecem ex-votos ou fazem depoimentos de outras
experiências religiosas, se enquadram em uma dessas circunstancias levantadas por
Prandi.
Mesmo a religião católica não entrando no páreo das religiões que trabalham com
o discurso da cura, parece ser contraditório ela fazer vistas grossas às salas de
promessas, que geralmente ocupam o mesmo espaço da igreja. Lá os ex-votos, os
pagadores de promessas nas romarias, todas as atitudes de fé na oralidade do crendeiros,
são na maioria dos casos, respostas a resultados de curas. Intitulada como religiosidade
popular, ela caminha em via paralela ao catolicismo oficial, nesse caso funcionando
também como religião terapêutica. Acreditamos que o clero não desconstrói totalmente
esse discurso de curas e milagres, pois através deles aumenta-se o número de fiéis.
Diante da tradicional pergunta: “qual é a sua religião?”, não lembramos ter ouvido como
resposta: “sou católico popular”.
Enquanto as religiões na contemporaneidade reformulam seus discursos e
disputam espaço entre si, acrescidos dos desenganos das ciências medicas, os devotos
seguem recuperando a idéia dos milagres, reinventando rezas, benções e promessas.
160 PRANDI, Reginaldo. Op. cit. p. 16.