11.04.2013 Views

FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

FICHA CATALOGRÁFICA D812e Duarte, Ana Helena da Silva ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

121<br />

Dando continui<strong>da</strong>de à reflexão, não vimos necessi<strong>da</strong>de de analisar a imagem do<br />

corpo em todos os movimentos pelos quais eles serviram como representação. Por isso,<br />

dividimos tal análise em dois momentos que achamos fun<strong>da</strong>mentais. No primeiro, o<br />

corpo é representado através <strong>da</strong> Pintura, onde ele vai recebendo os reflexos de uma<br />

cruel<strong>da</strong>de lenta, até ser brutalmente fragmentado. O segundo momento é dedicado à<br />

Body Art, através <strong>da</strong> qual o artista usa o próprio corpo como suporte de sua pesquisa e<br />

de seu fazer plástico. Dentro dessas duas linguagens distintas, faz-se necessário um<br />

outro recorte. Na Pintura, o foco <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem está voltado para a pesquisa plástica de<br />

Francis Bacon (Dublin, 1909-1992), artista plástico <strong>da</strong> linha pós-informal <strong>da</strong> chama<strong>da</strong><br />

Nova Figuração. E na Body Art priorizamos as performances de Orlan, artista<br />

contemporânea francesa. O que se pretende evidenciar é o corpo representado, em<br />

contraponto com o corpo real.<br />

Na obra de Francis Bacon, observa-se que a maior parte de suas imagens<br />

pictóricas tem o corpo humano como referência (de forma marginal, aparecem também<br />

alguns animais). São corpos terrestres, humanizados, viscerais, que podem ser vistos por<br />

dentro e por fora, pois o artista, em muitas composições, exterioriza algumas partes<br />

internas do corpo, numa espécie de raio-x que reslumbra os tormentos carnais e<br />

espirituais <strong>da</strong>s dores humanas.<br />

Bacon extrai essas imagens através de seu próprio corpo e do corpo dos outros, ou<br />

ain<strong>da</strong> de cenas observa<strong>da</strong>s de filmes de Serguei Eisentein (principalmente O<br />

Encouraçado Potemkim), <strong>da</strong> Pintura Barroca, do artista Velásquez (Papa Inocêncio X) e<br />

de Nicolas Poussin (O Massacre dos Inocentes), entre outros.<br />

Muitos aspectos cruciais <strong>da</strong> pintura de Bacon podem ser relacionados à<br />

antropofagia: o fator físico do corpo humano; a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> carne e a violência <strong>da</strong>s<br />

sensações que ele segui<strong>da</strong>mente retrabalha por meio <strong>da</strong> Pintura; a fragmentação dos<br />

corpos; a fusão de corpos no ardor do desejo; sua tensão no auge <strong>da</strong>s sensações; corpos<br />

revelados pelos raios-x ou despidos para o sacrifício. 166<br />

São imagens sombrias e requinta<strong>da</strong>s, onde a dor é mostra<strong>da</strong> de modo sofisticado e<br />

elegante. São figuras violenta<strong>da</strong>s, destroça<strong>da</strong>s e escarnifica<strong>da</strong>s, com total brutali<strong>da</strong>de.<br />

Ao nosso ver, Bacon não as mutila por sarcasmo, ironia ou para vitimizar a dor como<br />

um ato romântico do martírio lírico. Pode-se dizer que essa é sua maneira realista de<br />

166 Idem. p. 48.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!